Franco Montoro
Franco Montoro
Neste ano André Franco Montoro estaria completando 90 anos. Faleceu em 1999.
O Brasil sente sua falta nestes dias tão tristes, onde a indignidade predomina como norma de conduta de expressiva parcela dos homens e mulheres que se dedicam à política. Seus amigos recordam sua vida como homenagem devida e como forma de amenizar a ausência, tentando transmitir às novas gerações um exemplo de vida cada vez mais raro na vida publica brasileira.
Montoro era um cristão que participava, intensamente, dos problemas do seu tempo como testemunho da sua fé. Advogado, professor universitário, escritor, parlamentar. Amava a sua enorme família, exemplo invejável de união e alegria. Casou-se com Lucy, uma dinâmica assistente social - a maior incentivadora da carreira política do seu colega da JUC – Juventude Universitária Católica. Festejaram sessenta anos de matrimônio. Tiveram sete filhos.
Em 1947, em Montevidéu, acompanhando Alceu Amoroso Lima, participou da fundação do Movimento Democrata Cristão na América Latina. Lá também estavam os jovens Eduardo Frei (futuro Presidente do Chile) e Rafael Caldera (futuro Presidente da Venezuela). Foi Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, Ministro do Trabalho, (criador do salário família e da sindicalização rural), Governador de São Paulo. Em 1984 era o natural candidato do MDB à Presidência da Republica. Para não propiciar pretexto para uma possível cisão, na instável coligação oposicionista que se formara e que liquidou com o período de governos autoritários, abriu mão da oportunidade política que era sua. Lançou o nome do seu amigo Tancredo Neves e continuou como Governador de São Paulo para assegurar melhores condições de ascensão e posse do líder mineiro.
Montoro formou com Tancredo Neves o baluarte mais expressivo do processo de redemocratização. Juntos com José Richa, Mario Covas, Ulysses Guimarães, Renato Archer, Leonel Brizola, Afonso Arinos, Teotônio Vilela, todos já falecidos, conduziram a reabertura política e a constituinte. Não foram guerrilheiros irresponsáveis, foram políticos íntegros e competentes.
O Brasil, hoje, se ressente da ausência desse estilo de liderança que, antes do desejo pelo poder, cultivava o sonho de ver frutificar ideais políticos e princípios éticos. Com que coerência, com que coragem, com que ousadia soube testemunhar o amor pela liberdade, pela justiça, pela democracia, repudiando a corrupção, a demagogia e a incompetência, no trato dos assuntos da Republica.
Em 1983, com poucas semanas de empossado como Governador, Montoro viu o Palácio dos Bandeirantes cercado por uma turba que queria invadir a sede do executivo paulista. Representavam, aqueles imbecis que até hoje estão por aí, a proposta de que a violência é o melhor instrumento de mudança social. O Governador aparece numa foto com uma expressão triste, mas determinada: – não aceitou as ameaças, repeliu a baderna, restaurou a ordem jurídica violada. Dias depois, Alceu Amoroso Lima, idoso e enfermo, enviou uma carta congratulando-se com sua atitude e finalizava dizendo: “obrigado pela sua superior serenidade”. Apropriando-me da maneira de dizer do querido e saudoso mestre Alceu, encerro este artigo afirmando: – Montoro, obrigado pelo exemplo de vida que nos deixaste.
(Publicado no Jornal do Brasil, novembro de 2005)