Saloduto para Kaeru?
O Alfa e o Omega, Princípio e Fim, encontrou lugar em mim. A luz brilhou, iluminou. Num alto monte ele me colocou.
(André Valadão).
Agora de manhã parou de chover. Á árvore simples, quase desaparecia por estar abrigando em seus fortes galhos, uma imensa quantidade de vigorosas flores, com forma de copo-de-leite e cheiro de jasmim.
As vistas e olfatos dos moradores da rua Madre Cabrini, agradecem a presença do vegetal lenhoso. Um raio de dez metros tem o privilégio de mensurar o limite desse inesquecível perímetro de São Paulo, onde um agradável perfume se faz suavemente espraiar
-- Gilberto Landim, a palestra vai ser aqui no Shopping Paulista. Será que dá tempo para tomar um sorvete? – perguntou minha amiga e colega palestrante, Otchuko.
Como o avião não atrasou, ganhamos uma hora livre. Sentamos e... A interessante conversa, motivava nossas línguas, que, aquecidas com o assunto, “desglaciava” (degelava) a guloseima. E Otchuko, muito animada, contou essa história:
Kaeru, enfronhou-se na interpretação das mentiras e escárnios dos políticos com “p” minúsculo. Será que isso lhe trouxe algum retorno? É o que veremos.
Embaído (pernado) pelo sócio de maus princípios e péssimos finais, Kaeru, para não assinar o distrato, com uma mão na frente e nenhuma atrás, optou por aceitar uma importância que representava vinte por cento do capital que investira na firma há um par de anos.
Kaeru encantoou-se arrasado. Lembrou mesmo de um relato bíblico, onde a ausência de saída, descreve seu próprio encurralamento, quando Jonas passa três dias dentro da barriga de um grande peixe (Jonas 2:1). Todos os seus parentes e amigos foram contra os R$ 300.000,00 que arriscou investindo na sociedade de um negócio de grãos.
Kaeru, acabara de ler o livro: “The last song dogs” (Réquiem para cães) de Sinclair Browning. Um enredo hórrido (fúnebre). Versa sobre reuniões na escola de ensino médio americana, para planejar assassinatos. Parecia até seu sócio querendo sua cabeça.
Hoje, o país de Obama e Hillary (alegre), apresenta novas versões para seus colégios. Criaram o filme Musical “High School”. Eliciaram a música de defunto, trocando por melódicas canções, regadas a poéticas letras de paixão para adolescentes. O sucesso continua e já está no mercado a continuação “High School II”. Parece que arrancaram o sangue da obra de Sinclair Browning e transformaram na seiva de uma agradável dança.
No caminho de casa, enquanto Kaeru, aguardava o farol (sinal, semáforo) da rua Domingos de Moraes, esverdear para ter acesso à Madre Cabrine e olhar as flores, uma manchete lida em um jornal exposto na banca, fê-lo trocar de rumo e mudar de opinião :
“Ministro Golfinho Esperto, diz que não aumentará o preço do sal”.
A notícia salgada, fê-lo deslocar-se correndo em direção ao escritório de Chiste, seu ex-sócio. Propôs comprar sua deficitária empresa de sal. O espertalhão, já havia lido a informação, imaginava: como Kaeru é trouxa. Vou vender minha empresa de sal para ele, antes que veja o jornal. E fingindo ser generoso, disse que se sentia feliz de passar para o “amigo” uma companhia lucrativa e de baixo custo. Sairia pela metade do valor estimado para indenização do colega empresário. Kaeru, procurou outras duas empresinhas e crestou (torrou) o resto do dinheiro em sal.
Dia seguinte, o sol brilhava forte na Vila Mariana, São Paulo. Agora Kaeru, parecia ter sido ejetado de dentro do estômago da baleia. Sua cabeça estava geladinha. A última notícia dizia que o preço do sal havia dobrado. Ele acertara em cheio na análise da inverdade do político, agindo contrariamente aos indicadores de mercado.
Produzia “replay” de gargalhada, lembrando uma frase da cantora Inezita Barroso:
“Tudo na minha vida é engraçado; quando não é, eu acho graça”.
O tempo passou. Kaeru, é um expoente em negócios de sal. Homem bom, teve misericórdia de seu ex-sócio falido, contratando-o como gerente. Ta valendo a pena ajudar, pois o cara parece ter tomado juízo e se levanta a cada dia. Por uma questão de precaução, não custa nada permanecer atento, para uma eventual possibilidade de o “bonitão” resolver colocar as unhas e manguinhas de fora..
Ameaçando levantar, avisei a Otchuko que a hora da palestra era chegada e pedi que terminasse a história.
Encafifada com a presença do dono da empresa que contratara nossos serviços, pois estava a nos procurar, pensando que tivéssemos perdido o vôo, cumprimentou-o dizendo quase com uma genuflexão (de joelhos):
-- Seu Kaeru! Podemos começar a palestra?
Foi uma palestra excelente. O mote (tema) foi: “Metas e Resultados” e houve uma expressiva participação dos palestritas (presentes). Palmas, cumprimentos, abraços e até lágrimas, configuravam o final do evento.
-- Kaeru, acabara de receber a indenização dos prejuízos causados pelo seu sócio, Chiste. Acho que vai aceitá-lo de volta, embora com participação minoritária. Pelo menos é que traduzem seus olhos úmidos
Kaeru, respirava fundo, lembrou de um livro que acabara de ler da executiva americana Carly Fiorina. O final é assim:
“Minha vida está cheia de momentos de alegria espontânea. Eu sou feliz!”
Nesse momento, os ex-sócios se abraçam. O "desencapsulamento" de uma expressiva quantidade de lágrimas, era visivelmente notado, nas faces dos empresários que estavam fortemente abraçados.
Talvez o leitor diga:
-- Assim não dá! Parece plágio de novela mexicana. Tem emoção até no liquidificador. Esse artigo do Gilberto Landim é um marasmo. Não me pega mais!
-- Posso responder? Sabe o que disse o Palestrante Mario Persona?
“História sem emoção é relatório”.
-- Desculpe, a brincadeira amigo leitor. Já vou encerrar.
Kaeru, perguntado pela revista Fuças sobre seus próximos investimentos, respondeu brincando, mas com alumbrada (iluminada) criatividade:
Finalmente vamos Materializar o PLASAL - Plano do Saloduto. A Petrobrás precisa transpor dois quilômetros de um lençol de sal, para extrair o petróleo de Santos. De repente, aproveitamos a infra-estrutura do óleo e montamos um saloduto, que abasteça o Brasil de Santos até Manaus; de Santos a Porto Alegre. Se faltar sal em Cabo Frio ou Mossoró, a gente abastece. O que você acha?
A “fuçadora”, jornalista da Editora Fuças, percebendo que os executivos ainda se encontravam sob emoção, mantendo a pose de uma cacatua, elegantemente engordou o gracejo dizendo:
-- Alguém disse que a lágrima é o sal líquido que tempera. Sendo porém em maior quantidade, quem sabe, não acaba se transformando em um Saloduto para Kaeru?