O esforço de Humberto Gessinger
Todos lembram-se de cantores consagrados do cenário nacional dentro do rock brasileiro. Cazuza, Renato Russo, Raul Seixas, Dinho Ouro Preto, Nazi, Samuel Rosa, dentre outros. Entretanto, pouco ou quase nada se fala de Humberto Gessinger, e muitas pessoas nem sabem de quem se trata. Esse cantor do Rio Grande do Sul, mais especificamente, Porto Alegre, é o líder, o idealizador e o principal membro da banda Engenheiros do Hawaii. Desde de pequeno, sempre sofreu influências da música internacional. Ele que nasceu em 1963, cresceu ouvindo Pink Floyd, banda inglesa de rock progressivo, e Bob Dylan, imortal cantor Folk. A vida de Humberto teria pouca turbulência até ingressar na faculdade.
O Início
Na UFRGS ( Universidade Federal do Rio Grande do Sul ), Gessinger que cursava o curso de Arquitetura, havia iniciado o trabalho musical com uma banda composta por ele e colegas da faculdade. A banda, que recebeu o nome de Engenheiros do Hawaii devido a uma sátira com a turma que cursava Engenharia na mesma faculdade, emplacou algumas músicas em alguns festivais internos, universitários. Mas o sucesso foi tanto que a banda levou para frente os trabalhos, que de início eram por lazer, e gravou seu primeiro álbum entitulado " Longe demais das capitais". A gravadora BMG abriu espaço para o grupo no ano de 1986, ano de lançamento do disco. Os integrantes eram Marcelo Pitz ( baixo ), Humberto Gessinger ( guitarra e voz ) e Carlos Maltz ( bateria ). Abaixo estão alguns trechos de letras de Humberto Gessinger, que era o compositor da banda, e que dão o primeiro passo no sentido de mostrar aos leitores o quanto Gessinger era e é dedicado e crítico. Pouco se fala dele quando se trata de Brasil, pois nos vêm à cabeça, Cazuza, Renato Russo, enfim, os que já citei antes, mas vale lembrar o esforço do Humberto por um país mais consciente.
Álbum - Longe demais das capitais
-Toda Forma de Poder
"Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada,
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada.
Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada,
toda forma de conduta se transforma numa luta armada.
A história se repete mas a força deixa a história mal contada"
-Longe demais das capitais ( Música )
" Eu sempre quis viver no velho mundo, na velha forma de viver,
o terceiro sexo, a terceira guerra e o terceiro mundo, são tão difíceis de entender."
-Crônica
"Todo mundo já tomou a coca-cola, e a coca-cola já tomou conta da China, todo cara luta por uma menina e a Palestina luta pra sobreviver."
-Fé nenhuma
"Você quer me por no agito,
no movimento estudantil,
mas eu não acredito no futuro do Brasil."
Álbum - A Revolta dos Dândis
-A revolta dos dândis I
"Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato,
entre a loucura e a lucidez, o uniforme e a lucidez."
-Terra de Gigantes
"A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes"
-Filmes de Guerra, canções de Amor
"Os dias parecem séculos quando agente anda em círculos,
seguindo ideiais ridículos de querer lutar e poder.
Não tenha medo de perder a guerra, pois, no fim da guerra todos perdem, e no fim das contas
as Nações Unidas estão sempre prontas pra desunião."
-A revolta dos dândis II
"Esquerda e Direita, direitos e deveres,
os três patetas, os três poderes,
ascenção e queda são dois lados da mesma moeda."
-Além dos outdoors
"No céu além de nuvens, há sexo, drogas e talkshows,
as coisas mudam de nome, mas continuam sendo religiões.
Você sabe o que eu quero dizer, não ta escrito nos outdoors,
por mais que agente grite, o silêncio é sempre maior."
-Guardas da fronteira
"Antes de atirar o vaso na TV, eu ouvi o que ela dizia,
quando não houver mais amanhã será um belo dia.
Não sou eu o mentiroso foi Sartre quem escreveu o livro.
Além do mito que limita o infinito, e da cegueira,
dos guardas da fronteira."
Esses são pouquíssimos exemplos do esforço para com a cultura popular e a manifestação crítica pela música. E todos esses exemplos são dos dois primeiros álbuns do Engenheiros do Hawaii. As letras por si só. Prestem atenção a esse grande homem, que não aparece muito na mídia, não gosta de ir no Faustão, não vende shows e CDs a preço de dólar ou euro, mas que nos limites da sua liberdade e consciência, luta por um país melhor. Esse simples músico, que começou por impulso juvenil, e chegou ao Rock in Rio, esse gaúcho que tem pouca notoriedade merece o reconhecimento do público brasileiro. Deixo aí, esse pequeno texto mostrando a minha admiração por esse brasileiro crítico.