Vigias de Israel

No capítulo 33 do livro de Ezequiel, o Senhor revela ao profeta um conjunto de oráculos que funcionam como a abertura de uma nova etapa da profecia. Nessa atividade é privilegiada a idéia a respeito da santidade do povo de Deus, cuja constituição se instaura a partir da saída do Egito e vai se concretizar nos tempos do Messias.

A providência divina torna os seres humanos uns responsáveis pelos outros, através da pregação, do estímulo, da correção fraterna e do exemplo de vida. O que no Antigo Testamento é conhecido, através da caminhada do Êxodo e da fixação solidária na Canaã prometida como o “povo de Deus”, a partir do Novo Testamento se concretiza através de uma comunidade de objetivos comuns, convergentes e santificantes, a quem o próprio Jesus chamou de “sua Igreja”, o novo Israel.

A unidade e a piedade preconizada aos profetas, se estende aos apóstolos e, perpassando os tempos e as limitações de raça e nacionalidade, desemboca no caminho de todos os cristãos, batizados e crentes. As palavras de Javé, ditas ao profeta, “Criatura humana, eu o coloquei como ‘vigia da casa de Israel’. Quando escutar minha mensagem, você precisa avisá-los” (v. 7) ressoam como uma advertência daquele dever que temos de apoiar uns aos outros, indicando-lhes o caminho certo.

Hoje lutamos contra o mal, desenhado na apatia e na omissão, quando o silêncio dos “bons” é tão pernicioso quanto a atitude dos maus. A omissão é o novo nome da conivência. Vemos “teorias sociais” exaradas de um complexo psicologista que validam tudo, nada é feio nem imoral Isto vai denegrindo a imagem do ser humano, da família e da sociedade. Por exemplo, a má utilização da genética, através de pesquisas, clonagens e outras experiências que atentam contra a vida, e a gente cala, não busca detalhes e, não-raro, apóia atividades contra a ética.

A Palavra de Deus nos questiona: “Se você não avisar o injusto para que mude de comportamento, ele morrerá pela culpa dele, mas é a você que pedirei contas do sangue dele” (v. 8). E nós o que fazemos? Nos organizamos? Denunciamos? Ou quem sabe, somos daqueles que calam com medo de ficar malvistos?

Hoje há um ponderável assalto à biodiversidade, através de alimentos transgênicos e – pior – plantio de espécimes exóticas (eucaliptos e pinus) que vão prejudicar a terra, desalojar a fauna, expulsar os pequenos agricultores e trazer, num futuro próximo, lucro para o latifúndio e fome para o povo. Igual ao plantio de exóticas situa-se o biocombustível.

Em 1970 eu morava em Ibirubá, no interior do Rio Grande do Sul e lá assisti a chegada da soja. Foi uma euforia! Lavouras inteiras de trigo e feijão foram trocadas pelo plantio daquela oleaginosa, que deu lucro mas não alimentou. O trigo para o pão teve que ser importado. Isto é pecado!

E quem denunciou? Poucos. Muitos de nós funcionaram como cães mudos e vigias sonolentos. Não fomos sentinelas fieis.

Mas, ao contrário, se você prevenir o injusto para que mude de comportamento e ele não mudar, ele se perderá por culpa própria, mas você terá salva a própria vida (v. 9).

O autor é teólogo leigo, biblista e Doutor em Teologia Moral

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 21/04/2008
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