VIOLÊNCIA SIMBÓLICA CONTRA AS MULHERES- I

Publicado pela primeira vez em Dezembro 23, 2003 - Revisado em 24 de fevereiro de 2005.

( primeira parte)

Quem diria, nos meios urbanos e entre os homens mais bem informados, ainda vinga a truculência de uma certa violência pouco comentada, aquela que não é a física, falo da violência simbólica, contra as mulheres.

Esta violência possui tantas nuances que pode passar sem que a maioria perceba. Ou em outros casos, muito comum, pode ser vista como natural, por homens e mulheres.

É como dizia a narradora de A hora da estrela, de Clarice Lispector, quando se refere à Macabéa dizendo que ela não sabia que podia muitas coisas. Assim é com muitas mulheres. Elas nem sabem o podem.

Por exemplo, não sabem que podem já procurar a delegacia de mulheres ( infelizmente só nos grandes centros urbanos); que podem e devem se respeitar: identidade, físico, dignidade; não sabem que são o sexo forte, de uma força que não se reduz à músculos, mas de uma força sensacional de flexibilidade mental, física, emocional, existencial.

Quando somos mães, nossa existência passa por todo tipo de novidades: biológica, hormonal, psicológica, sensorial, espiritual. Nosso corpo muda, nossas prioridades naquele momento mágico mudam. Muito mais que os homens sendo pais, nós, mulheres, passamos por grandes mudanças. Mesmo aqueles homens que fazem questão de serem Pai com P maiúsculo, e não apenas o genitor, ou o provedor de pensão alimentícia. E nas estatísticas brasileiras, nem pensão pagam, a maioria, e vão fazer mais fílhos pelo mundo, e deixa-los também, e nas mãos de quem?. E ainda acusam muitas mulheres de serem histéricas, e não criarem bem seus filhos. Nos países do terceiro mundo, no Brasil, essa atitude sem humanidade, reveladora de nenhum senso de responsabilidade e respeito ao outro, é o mais comum. E o Estado repete este não serviço quando não empreende políticas sérias e abrangentes de: educação, emprego, e saúde.

Sim, este é um ponto que remete também à políticas públicas educativas de controle da natalidade, que quando inexistentes, ou sofrivelmente administradas são, também, violência contra as mulheres, por parte das instituições, do governo.

Mas no momento desejo homenagear as mulheres de toda a Terra, e falar genericamente dessa violência simbólica que sofrem e pouco reconhecem como tal, ou aceitam como coisa normal.

Já ouvi mulheres contarem incríveis histórias de homens que, antes ou após a separação, juntaram-se à mulheres mais novas e também menos contestadoras, digamos assim, adormecidas ainda em sua mestria de Mulher com M maiúsculo. Estes homens querem uma “mamãe” como eternas companheiras, na verdade. Querem, como boas mentes utilitárias que têm, unir o útil ao útil, que para eles é também o agradável e o agradável. Eles querem a boneca de cama, e a máquina “faz tudo em casa”. Eles não querem a mulher boa de cama, compreensiva, mas exigente também, ao mesmo tempo. Não, só querem a boneca, os típicos machos latino-americanos. Querem aquelas que seguem direitinho a cartilha de "como é fácil enganar o trouxa". E quão trouxas são, estes meninos.

Outras violências simbólicas sofrem as mulheres, eu mesma já sofri. Exemplo:

Se você dança, sai sozinha, ou com amigas para dançar, tomar um drink, papear, você estará sempre sendo abordada como mulher que foi procurar homem, e somente isso. E o tipo de abordagem é sempre desagradável, a começar por aquele olhar que se não for de um bébado, saiu de um filme qualqer de 5a categoria. Se você dá o fora então... nossa, corre o risco de ser perseguida na rua, e ser xingada no próprio local onde se encontra. Uma lástima.

Se você participa de um fórum de discussão da internet e não daquela que só entra para pedir ajuda, tipo: me expliquem, por favor, entre outras expressões que li muito em fóruns que participei, e pelo contrário, se for uma mulher que se coloca, tem opinião formada, se expressa bem, pode vir a sofrer muitas violências simbólicas do tipo: “seu mundinho é o de telenovelas”, “vai lavar uma louça”, “esta mulher é uma descontrolada emocional”.

Sim, e muitas vezes pensamos até estarmos participando de um ambiente onde nunca sofreríamos tais violências aos nossos direitos de expressão. Mas sempre há aqueles que já gostam de competir com outros homens, os tais " sabe tudo", os "donos da verdade", os inconformados com democracia, os que desconhecem uma boa discussão conduzida com mestria, e inteligência. Então, se na "parada", na "arena", surgir alguém do sexo oposto, a coisa pega. Sim, pois se ainda aceitam trocar idéias, mesmo que ao modelo deles, entre seus iguais em gênero, quando se trata de manifestação vinda do gênero feminino, estes sabe-tudo,uma espécie muito londe da extinção expressam um óbvio tratamento desrespeitoso, sendo capazes de expulsá-las dos grupos, e dizerem tudo o que foi dito acima, e muito mais, quando me referi à vida social no mundo real. Cuidado, garotas, eles estão à solta.

E reafirmo, isto acontece em grupos onde os membros têm uma formação muito acima do brasileiro médio. Infelizmente, são seres ainda pouco evoluídos na esfera espiritual, e muito menos podem ser considerados civilizados.

Continua... parte II