OS IRMÃOS DE ISABELLA NÃO MORRERAM
A sanha de sangue e desejo de linchamento que a ignara população, atiçada pelos meios de comunicação, está impondo ao que restou das famílias envolvidas na trágica morte da garotinha em São Paulo é revoltante...
Já não basta a baba que escorre das bocas dos apresentadores de televisão, dos fulgurantes cinco minutos de fama que muitos tiveram em torno do infausto acontecimento, seguimos vendo uma turba humana desocupada distraindo-se em torturar não apenas o pai da menina e sua mulher, que erroneamente chamam de madrasta.
Não se tem uma gota de respeito pelas pessoas que nada têm a ver com a história. Os avós e irmãos da garota.
Nestas semanas que o evento está em evidência morreram dezenas de crianças de dengue, de fome, de infecções infantis e suas famílias choraram sozinhas.
No caso Isabella, isso não é permitido às famílias.
Têm de conviver com torcidas organizadas e pichadores à porta de suas casas, invadindo sua privacidade, apenas porque, por enquanto, ali residem suspeitos...
Ainda que sejam os culpados.
Essa mesma população, que tanto deseja justiça pelas próprias mãos, teria dezenas de outros lugares, neste país, para colocar para fora sua catarse.
Locais com crimes não faltam.
Porque não experimentam em Brasília, morros cariocas, só para começar?
Covarde que é, não enfrenta problemas diários e contumazes, mas hienas atacam quem está indefeso, fragilizado, impotente. Quem é apenas mais uma vítima.
Bastaria um tiro de festim para cima e todos se dispersariam como raposas assustadas, enfurnando-se em suas tocas.
Num país em que a maioria dos crimes termina em pizza, dói-me ver essa massa amorfa massacrando os avós e irmãos. Os avós e outros irmãos da menina não respondem pelos atos do casal.
Sem entrar no campo da discussão ética, a imprensa, no meu entendimento tem se comportado de um modo perigoso.
Sabemos dos riscos que é capaz uma massa descontrolada, instigada.
Basta um clamor e todos seguem o chefe da manada.
Esperam outra manchete, tipo:”Tropa de Choque mata um para conter população”?
Dá IBOPE sem dúvida...
A questão é essa?
Não tenho procuração para defender ninguém, mas, como educador, pressuponho os traumas que poderão advir às duas crianças que perderam a irmã mais velha.
Se os pais forem, eventualmente, os culpados caber-lhes-á a orfandade temporária.
Aos avós o custo de criá-los.
Passado o orgasmo, a torcida organizada voltará a assistir novelas, escutar discursos, gritar gol da seleção até outra catástrofe social dar-lhes a oportunidade pular atrás de uma câmera de TV bradando gritos de morte.
Nestes cinqüenta anos de Cazuza, o brasiu mostra sua cara...
Pobre brasiu...
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