ISABELLA: QUAL A DESCULPA?!
(Revisto e In Memorian, no dia do seu aniversário de seis anos)
Até o momento havia me eximido de discorrer sobre o assunto. Em parte por natural escrúpulo; em parte por trauma. Não apenas eu, mas toda a sociedade anda traumatizada com a freqüência assustadora com que estes casos vem se repetindo.
Agora, com a declaração final da polícia paulista, o choque se fez inevitável, aterrorizante. Conheço gente que passou mal só de assistir ao noticiário televisivo anunciando que, enfim, os investigadores concluíram a culpa do casal Nardoni pela morte monstruosa da menina Isabella.
Pouco tempo atrás - muito pouco tempo para que de novo nos vejamos às voltas com tal fato escatológico! - a morte atroz assacada contra o menino mártir, João Hélio, lançou-nos a todos num estado de estupor, num luto nacional; num panorama de divisor de águas. Todos, de fato, afirmavam que tal selvageria marcara uma época no Rio de Janeiro, e que algo precisava mudar. Que tal barbaridade não poderia se repetir! Era inconcebível!
Pois se repetiu. E prossegue se repetindo em fatos corriqueiros do dia a dia brasileiro, como num eco medonho, num pesadelo renitente e sinistro!
E qual a desculpa agora?! Os assassinos do João Hélio se acham, todos, encarcerados. Tudo se deu rápido demais, diante da cobrança massacrante da sociedade e da mídia. E, - que isso pese mais - afinal os culpados faziam parte das minorias sociais, que não possuem meios de pagar advogados habilidosos em distorcer a versão verdadeira dos fatos para confundir e tentar tornar em inocentes monstros desta lavra! Logo, foram presos, em tempo record; tratava-se de ratos de esgoto sociais. A justiça foi feita, e agora ninguém mais se ocupa deles!
No rastro deste cenário, há algum tempo a sobrinha neta de minha antiga empregada, cuja família mora em Queimados, uma menina de seis anos também, foi da mesma forma estrangulada e largada num canto de terreno baldio após alguns dias em que desaparecera. Tudo que se sabia era que alguém a vira se afastando na companhia de uma mulher, de dentro do quintal de sua casa. Tudo que se noticiou num jornal de menos expressão, no dia seguinte à descoberta do corpo, foi uma foto pequena da criança, com breve nota sobre o acontecido. Fiquei sabendo algum tempo depois: nada se fez. E para arremate, o investigador que cuidava do caso foi assassinado. Crime hediondo... mas praticado em setores pouco privilegiados da cidade, que não merecem a atenção da mídia por diferirem de famílias como as de Isabella e João Hélio. Afinal, poderia aquela família infeliz pagar um advogado competente?!
Tudo, portanto, meus caros - e para a nossa vergonha! - ficou por isso mesmo!
Com base nisso, então, repito: qual a desculpa dos Nardoni?! Aí está a triste constatação. Não pertencem às minorias sociais. Alexandre Nardoni - pasmem! - é estudante de Direito. A família, dados os aspectos de suas residências, são da classe média alta paulista. Não faltou decerto instrução; suposta educação; de fato, é de se concluir que não lhes faltou nenhum daqueles requisitos que, num caso como o de João Hélio, lançou em polvorosa os incansáveis defensores dos direitos humanos com suas teorias acerca de vítimas da sociedade, sem oportunidades e sem recursos que lhes tivessem facultado um histórico mais grato de vida!
Logo, o que faltou aos Nardoni?!
Porque nada - NADA! - justifica à humanidade, ao bom senso e à lógica que um pai, em vendo a sua filha de cinco anos brutalmente agredida e estrangulada por uma desequilibrada, não apenas não a tenha tentado impedir, como ainda, completando o ato bárbaro, envide jogar a menina de um sexto andar no intuito de encobrir a culpa de ambos e o cataclismo conseqüente da bestialidade dos seus atos!
E com que frieza os dois - pai e madrasta! - escreveram aquelas falsas, torpes cartas, simulando um amor que não existia, que não nutriam para com o anjinho flagelado!! Somente no intuito de encobrir sua culpa, sua atrocidade!!
Qual a desculpa?!!
E como compreender advogados penais que se empenham em manipular com a lei para inocentar culpados óbvios demais, desde o início deste nefando episódio?!
Todos são inocentes até prova em contrário, versam os ditames legais. Mas o que se observa aqui não são profissionais de defesa buscando provar a inocência de quem de fato é inocente, e sim tentando manobrar com o universo infinito das interpretações de leis, facultadas pelos nossos Códigos elásticos quanto excessivamente paternalistas para com crimes hediondos, a fim de se forjar, com eficiência, inocência a criminosos; a culpados sem remissão; a autores de crimes indescritíveis que não podem, não devem passar impunes, e com todo o rigor da Lei!
É o que a sociedade exige, no torpor de morte no qual se vê mergulhada! É o que exige, estentoricamente, o que ainda nos resta de honra, de decência, de pudor e, quiçá - se ainda se nos faz viável - de humanidade!
Nada obstante, e em prevendo o provável ato falho inevitável em contínuo aos desdobramentos deste e de outros acontecimentos inconcebíveis quanto atrozes, que nos reste, então, o secular consolo do "(...)primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça(...)"
É o que nos sobra: que a isto nos apeguemos para sustentar a certeza, a fé de que uma Força Maior, acima da estiolada justiça humana, haverá de, n'algum momento, colocar tudo no seu devido lugar: as crianças, assim tristemente martirizadas, em situação melhor num mundo de Luz, que as recompense.
E os seus algozes, nas conseqüências implacáveis dos seus atos - até o último ceitil!
Fique na paz de Deus, Isabella!
(Revisto e In Memorian, no dia do seu aniversário de seis anos)
Até o momento havia me eximido de discorrer sobre o assunto. Em parte por natural escrúpulo; em parte por trauma. Não apenas eu, mas toda a sociedade anda traumatizada com a freqüência assustadora com que estes casos vem se repetindo.
Agora, com a declaração final da polícia paulista, o choque se fez inevitável, aterrorizante. Conheço gente que passou mal só de assistir ao noticiário televisivo anunciando que, enfim, os investigadores concluíram a culpa do casal Nardoni pela morte monstruosa da menina Isabella.
Pouco tempo atrás - muito pouco tempo para que de novo nos vejamos às voltas com tal fato escatológico! - a morte atroz assacada contra o menino mártir, João Hélio, lançou-nos a todos num estado de estupor, num luto nacional; num panorama de divisor de águas. Todos, de fato, afirmavam que tal selvageria marcara uma época no Rio de Janeiro, e que algo precisava mudar. Que tal barbaridade não poderia se repetir! Era inconcebível!
Pois se repetiu. E prossegue se repetindo em fatos corriqueiros do dia a dia brasileiro, como num eco medonho, num pesadelo renitente e sinistro!
E qual a desculpa agora?! Os assassinos do João Hélio se acham, todos, encarcerados. Tudo se deu rápido demais, diante da cobrança massacrante da sociedade e da mídia. E, - que isso pese mais - afinal os culpados faziam parte das minorias sociais, que não possuem meios de pagar advogados habilidosos em distorcer a versão verdadeira dos fatos para confundir e tentar tornar em inocentes monstros desta lavra! Logo, foram presos, em tempo record; tratava-se de ratos de esgoto sociais. A justiça foi feita, e agora ninguém mais se ocupa deles!
No rastro deste cenário, há algum tempo a sobrinha neta de minha antiga empregada, cuja família mora em Queimados, uma menina de seis anos também, foi da mesma forma estrangulada e largada num canto de terreno baldio após alguns dias em que desaparecera. Tudo que se sabia era que alguém a vira se afastando na companhia de uma mulher, de dentro do quintal de sua casa. Tudo que se noticiou num jornal de menos expressão, no dia seguinte à descoberta do corpo, foi uma foto pequena da criança, com breve nota sobre o acontecido. Fiquei sabendo algum tempo depois: nada se fez. E para arremate, o investigador que cuidava do caso foi assassinado. Crime hediondo... mas praticado em setores pouco privilegiados da cidade, que não merecem a atenção da mídia por diferirem de famílias como as de Isabella e João Hélio. Afinal, poderia aquela família infeliz pagar um advogado competente?!
Tudo, portanto, meus caros - e para a nossa vergonha! - ficou por isso mesmo!
Com base nisso, então, repito: qual a desculpa dos Nardoni?! Aí está a triste constatação. Não pertencem às minorias sociais. Alexandre Nardoni - pasmem! - é estudante de Direito. A família, dados os aspectos de suas residências, são da classe média alta paulista. Não faltou decerto instrução; suposta educação; de fato, é de se concluir que não lhes faltou nenhum daqueles requisitos que, num caso como o de João Hélio, lançou em polvorosa os incansáveis defensores dos direitos humanos com suas teorias acerca de vítimas da sociedade, sem oportunidades e sem recursos que lhes tivessem facultado um histórico mais grato de vida!
Logo, o que faltou aos Nardoni?!
Porque nada - NADA! - justifica à humanidade, ao bom senso e à lógica que um pai, em vendo a sua filha de cinco anos brutalmente agredida e estrangulada por uma desequilibrada, não apenas não a tenha tentado impedir, como ainda, completando o ato bárbaro, envide jogar a menina de um sexto andar no intuito de encobrir a culpa de ambos e o cataclismo conseqüente da bestialidade dos seus atos!
E com que frieza os dois - pai e madrasta! - escreveram aquelas falsas, torpes cartas, simulando um amor que não existia, que não nutriam para com o anjinho flagelado!! Somente no intuito de encobrir sua culpa, sua atrocidade!!
Qual a desculpa?!!
E como compreender advogados penais que se empenham em manipular com a lei para inocentar culpados óbvios demais, desde o início deste nefando episódio?!
Todos são inocentes até prova em contrário, versam os ditames legais. Mas o que se observa aqui não são profissionais de defesa buscando provar a inocência de quem de fato é inocente, e sim tentando manobrar com o universo infinito das interpretações de leis, facultadas pelos nossos Códigos elásticos quanto excessivamente paternalistas para com crimes hediondos, a fim de se forjar, com eficiência, inocência a criminosos; a culpados sem remissão; a autores de crimes indescritíveis que não podem, não devem passar impunes, e com todo o rigor da Lei!
É o que a sociedade exige, no torpor de morte no qual se vê mergulhada! É o que exige, estentoricamente, o que ainda nos resta de honra, de decência, de pudor e, quiçá - se ainda se nos faz viável - de humanidade!
Nada obstante, e em prevendo o provável ato falho inevitável em contínuo aos desdobramentos deste e de outros acontecimentos inconcebíveis quanto atrozes, que nos reste, então, o secular consolo do "(...)primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça(...)"
É o que nos sobra: que a isto nos apeguemos para sustentar a certeza, a fé de que uma Força Maior, acima da estiolada justiça humana, haverá de, n'algum momento, colocar tudo no seu devido lugar: as crianças, assim tristemente martirizadas, em situação melhor num mundo de Luz, que as recompense.
E os seus algozes, nas conseqüências implacáveis dos seus atos - até o último ceitil!
Fique na paz de Deus, Isabella!