Células-tronco embrionárias: o desafio moral

O que nunca se imaginou que fosse acontecer, já chegou até nós: o debate ético-moral a respeito das células-tronco, especialmente as embrionárias, uma vez que as outras fontes terapêuticas (a do cordão umbilical e a da medula óssea) não fazem parte da polêmica, pois não têm suas atividades con-testadas nem combatidas.

A utilização dos embriões como células pluripotentes, que seriam capazes de curas espantosas, está sub judice, sob o ponto de vista moral. Por não ser da sua alçada, não é a Justiça que deve decidir, mas a instância maior, que é a consciência humana discernida, ilumi-nada pela reta razão.

As opiniões são controvertidas. Oliver Smithies, por exemplo, Prêmio Nobel de Medicina, 2007 afirma que “O país que rejeitar a pesquisa das células-tronco embrionárias estará jogando contra a humanidade”. Já o documento Donum Vitae da Igreja Católica diz que “é imoral produzir embriões humanos destinados a serem explorados como material biológico disponível” (I 5,84). Nas mesmas águas, o Catecismo da Igreja ensina que: “Essas manipulações são contrárias à dignidade pessoal do ser humano, à sua integridade e à sua identidade única, não reiterável” (CIC 2275.).

A Igreja do Brasil, manifestan-do-se através do Presidente da CNBB, Dom Odilo Scherer, diz que “trata-se de uma posição moral da Igreja Católica: o embrião é vida, e suprimi-la vai contra os princípios católicos”. O rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, manifesta-se ao contrário: “Acho legí-timo usar embriões de clínicas de fertilização para curar pessoas com doenças letais. Melhor que jogar no lixo é reaproveitar”.

Como se vê há muita controvérsia. Uns falam com convicção, mas a maioria se manifesta por “achismo”, por ouvir dizer ou por apropriar pragmatica-mente a questão em proveito pessoal, no caso de uma necessidade maior.

O grande desafio moral que surge à nossa frente nos questiona sobre o des-tino dos milhares de embriões que existem nos laboratórios do mundo intei-ro. O que fazer com eles? Jogá-los lixo? Ou utilizá-los em transplantes e terapias de regeneração? As duas opções sugeridas não são éticas, ao contrário, condenáveis do ponto de vista da moral.

Haveria uma terceira via? Sim! Que não fossem gerados os embriões in vitro! Esta prática aponta para a busca de uma fecundação artificial buscada pe-los casais que não têm filhos. Se não tiveram filhos, que adotem crianças, com a mesma dignidade e generosidade como tantos fizeram e fazem. Tem tanta criança por aí precisando de um lar, de pais amorosos e de aconchego cristão, por que atropelar as regras da natureza e da moral? Apelar para a ma-nipulação genética, além de querer “brincar de Deus”, demonstra a vaidade de quem quer fugir da figura do casal infértil. A Igreja é contra a fertilização in vitro justamente pelo número de embriões que são jogados fora.

Para gerar um feto são necessários milhões de embriões. Sabendo-se que só um vai ser fixado no útero materno, o que sucede com os outros? Vão para o lixo ou ficam indefinidamente a espera de experiências mirabolantes.

A Teologia Moral no-lo ensina que mesmo que seja para uma finalidade boa, não se justifica uma atitude má. Se sempre condenamos a teoria pragmática de “os fins justificam os meios”, não é agora que vamos validá-la como prática aceita, uma vez que é condenada pela ética e pela moral, com vistas a eventuais benefícios futuros. Não importa o benefício do final se há um vício na origem. A estrutura viciada perde todo o seu valor moral. O que pode parecer extrinsecamente bom (a cura de doenças de algumas pessoas) revela-se como um fato danoso, intrinsecamente mau, pelo uso indevido do embrião, cuja utilização, neste caso, contraria a dignidade de sua criação.

Cabe, não só ao moralista (especialista em Teologia Moral), mas a todos os cristãos em todos os níveis, fomentar o debate, esclarecer, e denunciar.

O autor é Doutor em Teologia Moral e especialista em Bioética

Para conferências: E-mail: kerygma.ag@terra.com.br

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 14/04/2008
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