Cesta Básica: analgésico social.

Vivemos imersos em uma sociedade puramente assistencialista. São prestigiados os “favores” em detrimento à autonomia social e intelectual do indivíduo.

É um tal de bolsa isso, bolsa aquilo, auxílio não sei o que. E a educação, uma ferramenta capaz de modificar destinos é pífia, desprezada, relegada a 3º ou 4º plano. Lamentável! E o mais triste é que poucos se dão conta disso, de que estão sendo manipulados por idéias escravocratas que tendem a manter as grandes massas no lodaçal fétido da ignorância. Ajudar transformou-se em sinônimo de troca de favores. Concedo-te tal benefício, contudo, compro suas idéias, seu ponto de vista, sua liberdade de pensar, seu voto...

E a idéia puramente assistencialista faz parte inclusive do cotidiano das empresas de nosso país. A tão famosa cesta básica é prova disso. Ela ajuda a desanuviar o orçamento familiar, é verdade, contudo é uma prova cabal da cultura assistencialista em que estamos imersos. Benefícios como a cesta são efêmeros, duram pouco, melhor seria a valorização do profissional através de cursos, palestras, treinamentos que o qualifiquem e aumentem sua capacidade intelectual. O mesmo deve ocorrer com nossa educação: bolsa isso e aquilo são benefícios irrisórios perto do que pode oferecer uma educação de qualidade. Uma vida digna, com direito à alimentação, saúde, cultura, lazer, educação já deveria estar embutida nos dividendos dos funcionários. Porém, infelizmente não é assim que caminha nosso país.

Na empresa onde trabalha um amigo a cesta básica exerce um poder mágico, arrebatador, diria que quase hipnótico, capaz de fazer os colaboradores taparem os olhos para muitas situações. O mês em que a empresa concede o “benefício da cesta básica” há uma lua de mel entre empregador e empregado. Tudo as mil maravilhas, afinal, a cesta chegou... E eles continuam assim: a empresa precisando de ajustes, os funcionários também... Mas a cesta está ai, portanto, não há motivos para debates, troca de idéias, críticas e sugestões.

Porém, este mal não se restringe à empresa em que trabalha meu amigo, ele vai além e invade toda a sociedade, construindo uma nação de fantoches alienados por anestésicos sociais como os bolsas, auxílios, vales e cestas da vida.

É preciso mergulhar fundo, ir além do imediatismo da cesta básica, do bolsa isso e aquilo, se faz mister uma revolução nas idéias, na cultura do povo, na forma de pensar do trabalhador que também é cidadão. Não podemos nos contentar com pequenos “favores” que em muitas ocasiões nos comprometem com a omissão, com o ficar quieto, com o ser conivente com mazelas que sutilmente vão se infiltrando na sociedade relegando-nos à mediocridade intelectual e social.

A desigualdade social será desfeita quando deixarmos de nos contentar com cestas, auxílios e bolsas proporcionados pela “benevolência” de empresários e governo A desigualdade social será aplacada quando tomarmos uma postura perante a vida e decidirmos melhorar como indivíduos que podem fazer a diferença no próprio destino. O caminho é investir na melhoria de si mesmo, aprimorando-se continuamente para não ficar a mercê de analgésicos sociais, a cesta básica é um deles, podem acreditar.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 10/04/2008
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