Casa de Caboclo

Por caboclo, e os dicionários no-lo informam, entende-se o indivíduo provavelmente descendente de índio e branco, fisicamente caracterizado por ter pele morena e cabelos negros e lisos. O verbete “caboclo” que já teve um sentido pejorativo, hoje caracteriza mais alguns comportamentos. Tanto assim que tem sinônimo em caipira e capiau pelas formas e atitudes simples e, não-raro, simplórias.

Alguns costumes de caboclo que se observa nas pessoas hoje em dia, são remanescentes de culturas bem antigas, fruto de práticas importadas de regiões ínvias. Inclusive do Rio Grande do Sul. O caboclo de hoje, em geral é egresso do interior, naquelas áreas onde impera a chamada cultura “pêlo duro”, em que o indivíduo traz consigo certos hábitos, sociais, de indumentária, gastronômicos e de linguajem que lembram, pelo atavismo, suas origens, às vezes obscuras.

Por atavismo a antropologia entende a reaparição em um descendente, certas características de um ascendente remoto e que permaneceram latentes por várias gerações. Trata-se de uma hereditariedade biológica de características psicológicas, intelectuais e comportamentais. Por exemplo, a avó gostava de, depois do jantar, para não desperdiçar, raspar a panela, comendo o restolho da comida. A filha contou para a neta que, de uma hora para outra começou a gostar de comer na panela. É um comportamento atávico. As duplas caipiras e a música brega nasceram da cultura cabocla. Havia até um programa antigo, na rádio Tupi do Rio, chamada “Casa de Caboclo”.

Considerando que o café preto é a bebida nacional do caboclo, eu conheço gente que em tudo vê oportunidade para tomar um pretinho acompanhado de aipim frito, torresmo, fritada de miúdos, angu e pele de frango. Conheci um caboclo que fora ensinado pela família, a comer carne de preá, com angu de milho, tudo regado ao brasileiríssimo café preto. Por falar na “rubiácea”, o caboclo interiorano adora, na falta de um equipamento mais sofisticado, tomar o “café de chaleira”. Curiosamente, o café que os gregos e os turcos tão apreciam, também não é coado, ficando com a borra no fundo.

Há uma piada que diz que todo o turco tem bigode para coar o café. Pois os caboclos gostam tanto de café, que não jantam, tomam café. Preto, é claro! Depois do café, acompanhado de fritada de lingüiça, farinha, pimentão, banana, cebola e ovos, eles bebes mais uma xícara de café, “bebido” como dizem. Como se existisse outra forma de café, que não fosse bebido.

Mesmo sem serem pobres, alguns caboclos exageram no brega e no bizarro. No campo dessas excentricidades dos caboclos temos o clássico “pão com banha”, a massa coberta com feijão, o bolinho de aipim molhado no mel, a rapadura com queijo, a paçoca de amendoim e outras extravagâncias. Há também quem misture cerveja clara com Coca-Cola e jure que está bebendo Malzbier.

Foi o caboclo quem inventou a “moda cabide”: uma roupa por cima da outra, onde predomina o xadrez e os tecidos listrados.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 07/04/2008
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