ENSINO UNIVERSALIZADO

Há muito tempo vínhamos tentando responder uma questão, buscando ouvir os envolvidos.

A pergunta que não conseguíamos calar era: "Se o método de ensino é traçado pelo Ministério da Educação, que repassa as diretrizes para as Secretarias de Estado da Educação, que as indica para as Delegacias Regionais de Ensino, em cada cidade, poderemos crer que o padrão traçado é aplicado em todas as escolas, de forma pelo menos similar?"

Passamos por muitos anos indagando sobre isto aos mestres, das diversas matérias, de cidades diferentes, onde temos nossos amigos e clientes. Fomos mais longe ainda: procuramos saber do grau de satisfação dos pais, mas não apenas indagando a esmo, mas falando com aqueles que realmente participam das escolas dos filhos e principalmente, os que nos parecem ter capacidade de discernimento do que ocorre nas escolas.

Nossa pesquisa é longa, não está catalogada, não segue o rigor científico das pesquisas, mas é suficiente, para nos levar a crer, que o ensino está muito distante daquele ideal, que qualquer educador tinha, ao se formar.

O número de mestres insatisfeitos com os movimentos instituídos, é cada vez maior. Alguns até bem intencionados, como a municipalização do ensino. Professores desmotivados, diretores rezando para que a aposentadoria surja logo, tem sido uma situação crescente.

Nas escolas de periferia nas cidades, onde a carência financeira familiar é grande e onde deveria ser aplicado um ensino mais acurado, com uma responsabilidade maior na formação da personalidade dos alunos, o que se nota é exatamente o contrário: os professores reclamam do nível dos alunos, como se eles, alunos, fossem os responsáveis pela sua própria motivação e formação. A percepção de que é exatamente o professor quem faz a cabeça dos alunos, soa mais como uma idéia pervertida.

Conhecemos escolas, onde isto não ocorre; onde a atuação dinâmica da Diretoria, muda todo o panorama do bairro onde se insere a escola. Conhecemos escolas que são a parte mais nobre e bonita de vilarejos. Lá ocorrem festas, reuniões, motivação e esclarecimento dos pais. Mas esta maravilha, para nossa tristeza, é exceção.

Sempre que questionamos os mestres insatisfeitos, a resposta, via de regra, esbarra na mesma fala: salários minguados, desmotivam os professores, que empobrecidos, empobrecem as aulas, que empobrecem os conhecimentos dos alunos, que empobrecem suas chances de empregos, que empobrecem a nação.

"E la nave va!", como diria o Fellini.

Que caminho perseguir? Formar professores entre as pessoas pobres, que se contentariam com salários menores? Buscar convencer os políticos que os professores merecem melhores salários? Será que eles se importam com isto, fora das vésperas das eleições? Parar de votar neles? Implementar um parlamentarismo, com voto distrital e referendo popular destituinte, em caso de desagrado político da maioria da população?

Agora, resolveram formar mestres com curso superior, melhor preparados. Para receberem os mesmos salários minguados?

As classes, em sua maioria, comportam mais de 35 alunos. Nas aulas de quem nasceu para a profissão, consegue-se ouvir o mestre ou a mestra, em voz baixa, motivando a todos. Até as moscas voam atentas, sem fazer muito barulho. Fora isto, ouve-se um berreiro a três quarteirões de distância. Até recordamos de uma cliente idosa, com desvio da coluna, que lhe infligia muita dor e que morava a dois quarteirões de uma destas escolas. Passava o dia inteiro ligando para a diretoria, queixando-se que além das dores, não suportava o berreiro das professoras.

Quem tem que dobrar turnos, para sustentar a família, sem uma alimentação adequada, viajando mais de uma hora para ir de uma escola a outra vê a motivação se dissipando, a cara torcendo e a aula passa a ser encarada como uma bela amolação cansativa.

Lemos sempre as palavras do iluminado Rubem Alves. Temos certeza de que ele fala principalmente, para que não o mudem, pois todos os professores se encantam com seu canto, mas poucos o repetem; conseguem separar a teoria da prática. É mais ou menos como o falso religioso, que vai às práticas, porque é bom ser visto fazendo-as, mas rouba no peso, na sua mercearia.

Qualquer que seja a alegação oferecida, a verdade que concluímos, é uma só: Só faz bem feito, quem sabe e gosta do que faz.

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Se estiver interessado, leia também: CURSOS E PALESTRAS - Pergunte ao Doutor - 12 em:

http://www.recantodasletras.com.br/autores/drmarciofunghi/T1132583

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