HISTÓRIA DE VIDA

L. começou sua vida sexual com prostitutas aos vinte anos. Antes disso se masturbava várias vezes por semana, havendo ocasiões, onde se sentia tenso no trabalho, que chegava a se masturbar mais de duas vezes ao dia.

Aos vinte anos foi a uma casa de prostituição chique, recomendada por um amigo. Saiu decepcionado, pois além do dinheiro despendido, teve impotência e acabou sendo masturbado pela prostituta, que foi muito cordial e compreensiva com ele.

Veio nos procurar, esperando um tratamento milagroso. Conversamos com ele e o aconselhamos a abrir o coração para a parceira. Voltou à prostituta, que o marcara pela bondade e lhe contou que ao masturbar-se tinha ereção, mas diante dela tivera medo, falhando por esta causa.

Com muito tato, ela pediu a ele que se concentrasse em excitá-la, esquecendo de si. Foi o que faltava, pois logo teve ereção e o orgasmo foi considerado muito rápido, embora intenso.

Ficou freguês da moça e com pequena dose de antidepressivo, que lhe ajudava a retardar o orgasmo, só não tirou a moça da prostituição para se casar com ela, porque ela era estudante de odontologia de dia e de noite ganhava a vida para se sustentar. Além disto, seu pai, muito pobre, veio a falecer em meio a este romance. Ela retornou para o estado de Goiás, onde vivia com os pais.

L. precisou entrar em tratamento antidepressivo mais intenso e a uma Terapia Cognitivo-Comportamental. Para quem não a conhece, trata-se de uma técnica de terapia breve, onde a discussão e análise do comportamento do cliente é acompanhado de um aprofundamento no estudo de suas ações, de modo a obter melhor conhecimento para a solução e compreensão de seus problemas.

Durante este tratamento alguns fatos marcantes foram observados. O pai era um homem rude, agressivo, denotando insegurança, que ameaçava a esposa, a qual aos poucos se tornara uma serviçal e quando não podia arranjar uma desculpa, servia-o sexualmente. Era vista pelo cliente como passiva, até atingir o ponto de saturação, onde se desesperava e ameaçava sumir de casa, o que deixava o esposo um pouco menos bravo, por uns dois dias. O pai era visto como muito exigente com os filhos, que começaram a trabalhar desde cedo. O meu cliente com nove anos, e a irmã com onze, tornando-se babá do filho da patroa do pai.

Em uma sessão de Terapia, L. comparece muito agitado, pois adquirira um pouco de coragem, a ponto de me contar um segredo guardado em cofre forte. Aos sete anos foi surpreendido pelo pai, praticando sexo com outro menino e o pai lhe deu uma surra, alegando que era para ele tomar jeito e deixar de ser veado! Traumatizado com o ocorrido, nunca mais praticara o sexo com alguém, até aos vinte anos, trazendo o medo de que um dia se tornasse gay.

Após explicarmos que as crianças sadias descobrem seu corpo e sua sexualidade com parceiros do mesmo sexo, sentiu um alívio enorme, culpando o pai por não ter tido cabeça boa para instruí-lo. Discutimos a educação e parecia ter eliminado parte de sua insegurança.

Por motivos profissionais abandonou o tratamento por cinco anos e voltando nos contou que ao interromper o antidepressivo, voltou a ter ejaculação precoce. Por esta ocasião foi-lhe substituído o antidepressivo por diversas vezes, pois até o primeiro receitado lhe fazia mal. Analisamos o seu medo, o preparamos para, ao iniciar uma relação, sempre se abrir com a parceira, se desligar de si e tentar fazê-la ter excitação, para em seguida penetrá-la. Obteve resultados variáveis e um dia, para nossa surpresa, se disse noivo e que estava com o casamento marcado, após quatro meses de namoro.

Seu tratamento seguia cheio de altos e baixos, atribuindo seus insucessos ao medicamento, cujos efeitos relatados não tinham relação ao medicamento, mas à sua insegurança.

Quando seu primogênito completou onze anos, mandou a esposa trazê-lo para consulta conosco, pois a mestra lhe orientara ser o filho hiperativo, com atenção dispersa, indo mal nos estudos. Foi ai que conheci sua companheira. Feia, desajeitada, boca disforme, de tão grande, seios caídos, pés enormes e sem ter completado o segundo ano básico. Falava alto, entendia pouco do que lhe era dito, mesmo eu só lhe falando o português coloquial, nada de mediquês. Levei um enorme susto, pois meu cliente inseguro, sem uma grande cultura, procurara alguém bem inferior a ele, para ter o controle da vida sexual, que segundo ela me contou depois da consulta do filho, não era sempre potente e por vezes tinha ainda ejaculação precoce.

Hoje, decorridos oito anos deste primeiro contato com ela, fiquei sabendo que andam querendo se separar, pois um não suporta o outro e os dois filhos do casal rezam para que se separem, pois gostam de ambos, mas detestam quando começam com suas brigas.

L culpa a esposa por não colaborar com ele, só o destrata e ela prometeu que não mais fará o papel de amante, "pois ele é frouxo".

O desquite após chegarem a um acordo que se realizará em breve, parece oferecer algum resultado melhor para L, que prossegue se masturbando para passar o tempo.

Sem planos para o futuro, sem aventuras sexuais durante o casamento, diz-se melhor, crendo que o fim do casamento lhe trará nova vida. Não o cremos, pois o vemos inseguro e até certo ponto, feliz por ter uma saída para não ter que buscar o sexo, como prova de que é capaz.

Detalhe: sempre que se masturba, para conseguir um orgasmo gratificante, pensa na quase esposa goiana.

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Esta história real, foi contada para que o leitor se aprofunde mais, na reflexão que fizemos sobre a formação dos casais e grupos sociais.

As pessoas buscam se unir conforme sua conveniência, seu grau de segurança e serão felizes se tiverem conhecimento profundo de si, sendo boas companhias para si, se souberem enfrentar seus problemas. Caso contrário poderão ter um futuro previsível, como foi o de L., seu pai, seu avô e provavelmente, terão também os seus filhos.

Todos os livros e artigos de auto ajuda que temos lido, partem para a afirmação que se repetirmos certos princípios benfazejos ou desejarmos profundamente o que queremos, seremos bem sucedidos em nossa vida. Eu faço uma pergunta para você que me lê: "Como é possível crermos em nós mesmos, se não nos conhecermos, se não nos despirmos de nossas vaidades e esconderijos, de nossas defesas, onde muitos procuram ocultar seus medos?" Não temos que ser a imagem e semelhança de Deus. A começar que Ele deve ser muito diferente de nós, pois nos ensinam que Tem a primazia de ser onipotente, onisciente, e totipotente. Nós nem nos conhecemos direito, como podemos ter certeza de que nossa conduta é correta? Trancados em casa, assistindo e nos transformando em joguetes da mídia, que está nos fazendo de consumidores imbecis?

Sócrates, há muitos anos, disse uma verdade irrefutável, certa como dois mais dois são quatro: "A verdadeira sabedoria consiste em se reconhecer a própria ignorância!"

Vai encarar, ou prefere fingir que é quase Deus?

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Márcio Funghi de Salles Barbosa

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