Sadismo nas empresas

A palavra sadismo foi usada pela primeira vez pelo psiquiatra alemão Richard Von Krafft-Ebing (1840-1902), numa alusão a filosofia libertária do Marquês de Sade, que dissera não haver limites quando se trata de satisfação dos desejos.

Após os estudos do Dr. Krafft-Ebing, o termo sádico passou a significar um desvio, ou perversão, de caráter sexual. Entendida como tal, o sadismo seria a forma de prazer conseguida por uma pessoa através do sofrimento da outra.

Tomando emprestado os conceitos e as práticas sadistas do campo da sexualidade, podemos transportá-los para o mundo das organizações tendo em vista a grande quantidade de gerentes que obtém um doentio prazer em vê seus subordinados em situação constrangedora e de sofrimento. Parece esdrúxulo admitir que, em pleno século XXI, com os altos avanços no mundo dos negócios, e com modernas técnicas na gestão de pessoas, ainda encontramos líderes presos a padrões paleolíticos de administração.

Mas, porque há gerentes que não conseguem estabelecer uma parceria saudável, profissional e amigável com os seus subordinados?

Penso que há vários fatores que contribuem para que alguns gerentes tratem de forma desqualificada e sádica os seus colaboradores. Irei aqui destacar cinco desses fatores que ao meu ver são os principais.

Ameaça - Há gerentes muito inteligentes que mesmo assim se acham ameaçados por um determinado subordinado que, às vezes, possui uma inteligência inferior a sua. Isso acontece por uma extrema fragilidade comportamental que toma conta do gerente que, embora se vê auto-suficiente e conhecedor de tudo, na verdade sofre com sua incapacidade em ser humilde e generoso com os seus colaboradores.

Autoridade Hierárquica - Possuir autoridade sobre as pessoas é a grande arma do gerente sádico. Ele se esconde atrás dela para compensar a falta de autoridade moral ou mesmo de conhecimento sobre algo (embora aja como se soubesse de tudo). Esta autoridade hierárquica - que também pode ser entendida como autoridade administrativa - é a grande arma do gerente sádico, pois é através dela que ele consegue constranger, humilhar ou simplesmente desprezar o colaborador. Isso pode acontecer desde uma chamada de atenção na frente de terceiros até a apropriação indevida de uma idéia do subordinado para si, passando, enfim, por um chá de cadeira na sua ante-sala.

Transtorno Obssessivo-compulsivo - O comportamento sádico que afeta vários gerentes pode ainda ter origem no que os especialistas chamam de Transtorno Obssessivo-compulsivo ou simplesmente "TOC". Este transtorno se caracteriza, segundo estudos da UFRS, pela presença de obsessões ou compulsões recorrentes, suficientemente severas para ocupar parte significativa do tempo da pessoa, causando desconforto ou comprometimento geral importantes. São sintomas de uma pessoa com TOC:

a)Avaliação anormal do risco:

Uma pessoa com TOC tem uma preocupação exagerada com eventos pouco prováveis de causar-lhe algum dano (contaminação, roubo, perdas etc), determinando lavagens, checagens.

b)Dúvida patológica:

Com freqüência sua mente é tomada por dúvidas do tipo "devo/não devo, está certo ou errado, será que irá acontecer ou não?" levando a indecisões, postergações, lentificações.

c)Sentimento de imperfeição ou de "incompletude":

As mãos não foram bem lavadas, a porta pode não estar bem fechada, os quadros não estão perfeitamente alinhados, levando a rituais de checagens a busca de simetria.

Como podemos observar, os sintomas do TOC relacionados acima, tem muito a ver com a personalidade do gerente sádico, pois quem conhece um gerente assim sabe da sua preocupação extrema com perdas, roubos, doenças etc. Ou ainda com dúvidas (ainda que disfarçadas) de decidir sobre alguma coisa que, na sua cabeça conturbada, poderá prejudicá-lo.

Transtornos Psicológicos na Infância - Sabe-se que desde o nascimento, o bebê vai tendo experiências na relação com a mãe ou com quem o cuida que lhe vão permitindo, de forma rudimentar, classificar "o que é igual ou diferente". Existem vários transtornos que afetam a vida dos seres humanos na infância e, se não identificados e tratados imediatamente, podem comprometer o relacionamento interpessoal na fase adulta.

Penso que o gerente de personalidade sádica deve ter sofrido algum desses transtornos na infância que, por algum motivo, não foram tratados pelos pais. O grande problema é a pessoa admitir que está enfermo e que sua relação profissional dentro da empresa com seus subordinados não é normal.

Isto porque o gerente sádico está convencido de que faz o melhor, mesmo que a realidade dos fatos mostre o contrário. Além, é claro, de sentir prazer em maltratar as pessoas ele comanda, pois como lá na infância não foi devidamente amado e reconhecido, pensa o nosso gerente que chegou a hora da vingança. Pior para os seus subordinado, coitados.

O Transtorno de Identidade de Gênero - Após a publicação dos estudos sobre a sexualidade humana feita pelo pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud, a importância dada aos comportamentos sexuais ganharam importância e dimensão jamais vistas. Não que tudo "cheire a sexo", mas a influência que tem a sexualidade sobre o desenvolvimento sadio ou não das pessoas é algo incontestável. Arriscaria afirmar, inclusive, que ninguém é suficientemente feliz na vida se não for suficientemente feliz no sexo.

Desta forma, entendo que por trás do comportamento sádico de alguns gerentes pode haver um componente de natureza sexual mal resolvido. E o chamado Transtorno de Identidade de Gênero pode ter alguma coisa a ver com isso.

Esse transtorno "caracteriza-se pela pessoa acreditar ou querer ser do sexo oposto, tendo um sofrimento e uma estranheza muito grande com seu próprio sexo e com o seu papel social", como nos ensina a equipe do site abc da saúde. Ou seja, quando uma pessoa carrega um conflito de escolha/preferência sexual com certeza terá dificuldade de se relacionar social e profissionalmente com as pessoas. Nas empresas esse conflito pode fazer que o gerente persiga e humilhe determinada pessoa pelo fato, por exemplo, da mesma ser bonita (inveja ou vontade de possuí-la) ou feia (sentimento de repulsa/discriminação).

São esses, então, os cinco principais (mas não exclusivos) fatores que ao meu ver causam o desenvolvimento para o formação de um gerente sádico. Sei que não é fácil para os colaboradores de uma organização conviverem harmonicamente com um profissional que tem o prazer em fazer os outros sofrerem.

O conselho, ou dica, que dou aos comandados pelo gerente sádico é que na primeira oportunidade que apareça eles mudem de emprego. A gente trabalha é para viver e não para morrer. Entre ganhar menos num ambiente sadio e prazeroso, e ganhar um pouco mais num ambiente de humilhação e sofrimento fico com a primeira opção sem sombra de dúvidas.

Mas, infelizmente existem pessoas que adoram ser desqualificadas e maltratadas. Estas pessoas são tudo o que o gerente sádico quer: a combinação perfeita entre o sádico e masoquista. Tem gente que gosta... Ou você dúvida?