Condicionamento.
O frio daqueles dias fustigava o corpo, contudo, o coração estava aquecido pela esperança. Sim, dias melhores nasciam, afinal, após esperar cinco anos o mercado de trabalho proporcionava-lhe nova oportunidade, abrindo-lhe as portas com promissor emprego: trabalharia em indústria alimentícia, seria operador de máquinas e, ainda, a empresa acenava-lhe com o crescimento profissional. Poderia chegar até encarregado, quem sabe, dependeria somente de seu esforço. Esta chance de ouro Carlos não desperdiçaria.
E foi com alegria e tensão que no primeiro dia no novo emprego ouviu as instruções do responsável pelo setor de produção:
- Você irá ligar a máquina e esperar por trinta minutos para que ela se aqueça. Após isso pode começar a trabalhar normalmente. Boa sorte!
O encarregado deu a ordem, ele obedeceu fielmente. Todos os dias a rotina era respeitada, a máquina ligada e os trinta minutos aguardados até o aquecimento de todo equipamento, só então, começava o trabalho.
Todavia, algo estava estranho. Sua máquina produzia bem menos do que a de seu colega de setor. Fato interessante: ambos trabalhavam nas mesmas condições, inclusive a quantidade de horas era a igual. Como o colega conseguia produzir mais?
Intrigado, resolveu observar o colega. Percebeu que ele ligava a máquina e começava a trabalhar, sem esperar os trinta minutos para o aquecimento do maquinário.
Diante do que viu, perguntou:
- Você não aguarda os trinta minutos de aquecimento da máquina?
O colega sorriu e respondeu:
- A espera dos trinta minutos para o aquecimento da máquina é útil somente nos dias frios, no calor, nada precisamos aguardar.
Compreendeu então que o culpado pelo seu desempenho inferior era um só: seu condicionamento.
O condicionamento é a contra mão do raciocínio. O condicionamento é o agir por agir, o fazer por fazer, sem compromisso com o pensamento e a criatividade.
Exemplo clássico de condicionamento é a questão que envolve ciência e religião.
Muitos religiosos estão condicionados a não acreditar na ciência. Muitos cientistas estão condicionados a não acreditar em Deus.
Lamentável!
Outro exemplo de condicionamento é reproduzido pelo adágio popular, na famosa frase:
“Santo de casa não faz milagre!”
A propósito, há interessante fato que presenciei em uma empresa que passava por grandes problemas de devolução de mercadoria. Prejuízos grandes davam dor de cabeça aos sócios que lutavam para solucionar o problema o mais rápido possível.
Um dos funcionários da produção apontava a solução, sugerindo algumas medidas à melhoria do produto. Porém, a direção da empresa, condicionada que estava na frase: “Santo de casa não faz milagre!”, ignorava as instruções do funcionário para a solução do problema. Sequer tentavam colocar as idéias do funcionário em prática.
Contrataram a peso de ouro renomado consultor para resolução da dificuldade. O problema que se relacionava à devolução da mercadoria foi resolvido, todavia, é necessário dizer que tudo o que ensinou o consultor já era sugerido há tempos pelo funcionário da própria empresa.
Resultado: pagaram alto preço ao consultor, sem contar os prejuízos advindos das devoluções da mercadoria porque estavam condicionados a considerar que inteligência e talento não existiam dentro da própria empresa.
Eis, portanto, o resultado do condicionamento: prejuízo.
Por isso é de vital importância que cultivemos, em todas circunstâncias, o raciocínio a fim de que nos livremos do condicionamento e encontremos sempre uma melhor maneira de fazer as coisas, porque o raciocínio é o princípio da melhoria contínua, não só profissional como também pessoal.
Pensemos nisso.