O Brasil na visão econômica mundial e o papel das transnacionais no livre comércio

Considerar o livre comércio, bem como as multinacionais como assuntos centrais na economia política internacional, por sua vez, segundo Gilpin, seria como conceder maior importância à hegemonia determinante de perdas e ganhos do sistema monetário e financeiro internacional. Segundo Gilpin uma cooperação internacional está condicionada na ausência de uma potência liberal dominante, procurando assim, fundamentar sua exposição empiricamente com base da história.

Os economistas políticos ou não, dão muita ênfase em grandes companhias, pelo teor da importância que as mesmas dão à máquina estatal, defendem o livre comércio, como a melhor política econômica, haja vista que a abertura econômica para as grandes empresas, só iria aumentar os ganhos dos países hospedeiros, seja em empregos, bem como em taxas reduzidas dos produtos importados. Acreditam ainda que uma concorrência no mercado interno reduza preços, alavanca a riqueza nacional, bem como insere o país hospedeiro no mercado internacional, facilitando assim sua inserção no mundo globalizado.

Mesmo que todos os outros países usem barreiras para impedir a entrada das empresas transnacionais, o país que abre seu mercado será beneficiado por importações mais baratas. Ademais os militantes pelo livre comércio garantem outros benefícios específicos. Aumenta a competitividade no mercado doméstico, deteriorando práticas de comércio não competitivas, aumenta a variedade de produtos e aumenta a eficiência nacional. O livre comércio amplia a riqueza nacional e global, pois permite que os países exportem os produtos com vantagem comparativa e importem os produtos sem vantagem comparativa.

Nos últimos 25 anos (1980-2004) o estoque de investimento estrangeiro aumentou 17 vezes, conforme World Investiment Report 2007 , o que dá uma taxa exponencial de aumento da taxa de investimento direto estrangeiro no mundo. “Os fluxos de investimento direto estrangeiro passaram de US$ 570 milhões em 1980 para US$ 1.785 milhões em 1990, US$ 6.148 milhões em 2000 e US$ 9.732 milhões em 2004, aumentando assim em trinta vezes”. Durante o auge do investimento direto estrangeiro, segunda metade dos anos 90, crescendo a uma taxa anual de mais 36% ao ano. Duas formas alternativas de conquistar mercados internacionais: Exportações (como forma velha). Forma superada de conquistar mercados externos. Vai usar exportações sempre que a produção no seu mercado ter desvantagens. Muito característico de produtos primários (não pode levar clima para produzir soja na china). O que depende de geografia, clima ou de jazidas, de uma maneira geral não pode ser produzido em outro lugar.

Gilpin (idem) vê como muito voláteis os grupos de interesse que fazem determinadas políticas para manter as taxa de cambio. Geralmente uma taxa de cambio alta é associada a uma moeda forte. Dessa forma, os países desenvolvidos mostram suas regras para investir nos países em desenvolvimento, procuram estabilidade econômica, experiência histórica em honrar compromissos, tendo em vista a complexa e burocrática forma de investimentos do comércio internacional.

O comportamento dos investidores internacionais em obter lucros e voltar para casa, acabou gerando crises inesperadas no Brasil e na Argentina. Agora sabemos que não só essas políticas do G7 podem influenciar nossa economia, mas também economias que parecem desconectadas. Por exemplo, o que tem a ver o Brasil com a crise imobiliária americana de 2.007? A principio, percebemos que nada, mas segundo reportagem da revista veja n.º 2037, de 05/12/07, temos tudo a ver, pois paises que há algumas décadas eram considerados problemáticos e que davam prejuízos a economia mundial, hoje podem ser considerados os salvadores da economia global, seja por terem incorporado políticas liberais, do incentivo a iniciativa privada, bem como da inserção de bilhões de pessoas ao mercado consumidor mundial, mais especificamente o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Há de se considerar também a grande quantidade de recursos naturais disponíveis nestes países, sejam de petróleo, gás natural e outros recursos, principalmente os minerais, e a água potável.

[...] “Esses quatro países são hoje, inquestionavelmente, a força mais dinâmica da economia global. Graças a emergência deles, o crescimento potencial do planeta é bem superior ao de duas décadas atrás”, afirmou a VEJA o professor da Universidade de Harvard Keneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI.

[...] Uma fase inédita de prosperidade, decorrente da abertura ao comércio mundial, do incentivo à iniciativa privada e da conseqüente inserção de 3 bilhões de novos consumidores no mercado mundial. Esse processo foi descrito magistralmente por Lawrence Summers, ex-secretário americano do Tesouro, como a maior revolução econômica dos últimos 1.000 anos, ao lado do renascimento e da Revolução Industrial.

Considerando o relatório de 2.007 da UNCTAD que diz que a tendência dos investimentos estrangeiros dos países desenvolvidos está voltada para os países possuidores de recursos naturais:

El aumento de los precios de muchos minerales ha despertado, entre los inversores, un renovado interés en las industrias extractivas. Las empresas transnacionales (ETN) -sobre todo algunas de las empresas más grandes del mundo- desempeñan una función esencial en la extracción de metales así como de petróleo y gas. Las ETN de propiedad privada predominan en la extracción de minerales metálicos, mientras que las empresas de propiedad estatal de las economías en desarrollo y en transición son protagonistas clave en la industria del petróleo y del gas. De hecho, muchas de esas empresas de propiedad estatal se están convirtiendo en ETN por derecho propio.

Gilpin (idem) expõe que, a atuação política deveria ser no sentido de criar e administrar as unidades monetárias chaves, que por sua vez tem como princípio manter as reservas, dar sustentação às transações econômicas e prover liquidez para a economia.

Gilpin (idem) tem como tema a instabilidade financeira e como essa instabilidade está influenciada por taxa de cambio flutuantes acabou limitando as opções de política econômica, especialmente aos paises em desenvolvimento. A instabilidade financeira acabou levando a um comportamento incomum dos governos mais cautelosos, ou ortodoxos. As taxas de crescimento dos paises desenvolvidos são maiores do que as do período da globalização. Período de taxa de cambio fixa foi mais favorável do que a taxa de cambio flutuante. Crescente liberalização dos fluxos de capital. Os regimes de taxas de cambio fixas eram a do regime onde os movimentos de capital eram relativamente limitado e denominado em poucos instrumentos.

Segundo o autor ainda podemos considerar como oposição ao livre comércio, a posição dos ambientalistas e dos defensores dos Direitos humanos, seja pelo aumento da poluição, aumento da emissão de CO². Os ambientalistas exigem a criação de políticas de reciclagem, soluções para diminuição do aquecimento global.

Yet, with a few particulary important exceptions such as global warming and pollut of the oceans, almost every environmental issue can be most effectively dealt with on a domestic or regional basis. The serious problems of nuclear and other hazardous wastes, water contamination, air polluition, toxic dumps, and carbone dioxide (CO²) emissions have litle or nothing to do with internacinal trade.

Quanto aos direitos humanos, os defensores solicitam maior controle internacional, principalmente nos países da África e da Ásia, que não respeitam as menores condições de trabalho, seja por insuficientes salários, o que acaba contraindo e induzindo casos de semi-escravidão ou fazem com que os empregados trabalhem por horas em excesso, em condições insalubres, desrespeitando assim direitos à vida humana dos trabalhadores. Hoje as empresas transnacionais estão mais preocupadas com esta questão, para que não interrompa acordos diplomáticos e sejam corretas com padrões de qualidade reconhecidos em todo o mundo.

Dessa forma concluiu o Secretário Geral das Nações Unidas, senhor Rubens Ricupero, em seu discurso em Davos em 1999, informando que hoje as empresas transnacionais têm uma maior responsabilidade social, seja em preservação ambiental ou proteção aos direitos humanos.

In conclusion, TNCs are principal drivers of the globalization process, which defines the new context for development. In this context, there is more space for firms to pursue their corporate strategies, and enjoy more rights than before. The obvious question is: should these increased rights be complemented by firms' assuming greater social responsibility? The notion of social responsibility of TNCs encompasses a broad range of issues of which environmental, human and labour rights have attracted most attention in recent years. In a liberalizing and globalizing world economy, this question is likely to be asked with increasing frequency and insistence. In his Davos speech in January 1999, the Secretary-General of the United Nations initiated the discussions on this question by proposing a global compact. Perhaps they could be intensified in the framework of a more structured dialogue between all parties concerned.

Development would have to be central to this dialogue, as this is the overriding concern of the majority of humankind and because it is, in any event, intimately linked to the social, environmental and human rights objectives that lead the agenda in this area. The dialogue could build on the proposal of a global compact made by the Secretary-General, with a view towards examining how, concretely, the core principles already identified, as well as development considerations, could be translated into corporate practices. After all, companies can best promote their social responsibilities by the way they conduct their own businesses and by the spread of good corporate practices.

As empresas transnacionais exemplificam bem como o livre comércio pode ajudar países em desenvolvimento a alavancarem suas economias, agindo como mola propulsora em alguns casos, sendo fontes de tecnologia, expandindo assim de forma global, graças aos Investimentos Diretos Estrangeiros - IDE, que pleiteiam alcançarem um controle parcial ou total em marketing e produção na economia global, mantendo assim o atual “status quo”.

O que antes era proteção do risco cambial por parte de empresas, como multinacionais, esse processo de demanda por instrumentos que minimizam os riscos cambiais acaba levando que esse processo acrescente a especulação em cena.

A especulação pode ser considerada como uma operação diferente de se procurar um determinado rendimento, procurar ganhos de capital imediatos. Na especulação espera-se ter um ganho financeiro imediato, trocando de posições. Na especulação não só espera ganhos de capital, mas espera que esses ganhos de capital sejam maiores do que uma comum aplicação a juros.

As grandes empresas transnacionais não são necessariamente prejudicadas pela lógica da valorização do cambio. As expectativas ligadas as especulações podem ser muito voláteis.

Para combater a instabilidade das taxas de cambio, que está associada à agentes privados, em ultima instancia crises cambiais, quando podem ser contidas, costumam ser contidas por taxas de juros muito elevadas.

Os bancos centrais, para evitar corrida contra moeda nacional, elevam as taxas de juros à níveis nunca vistos antes, o que gera conseqüências como crises financeiras, evitando assim um desgaste no governo.

Segundo Gilpin essas crises financeiras tem efeitos políticos significativos, como a redução de espaço de manobra dos governos frente a estas situações. (principalmente entre paises em desenvolvimento).

A atuação das corporações transnacionais é essencial para o entendimento da expansão do livre comércio, uma vez que mais da metade do comércio internacional é feito entre filiais e matrizes de empresas multinacionais.

As empresas transnacionais vêem os IDE, como uma forma de obter mão de obra relativamente barata, sendo que os IDEs estão cada vez mais substituindo as exportações como forma de conquistar mercados externos. As empresas que fazem IDE, eram chamadas de multinacionais nos anos 60 e 70 e mais recentemente como transnacionais. Alguns denominam como empresas globais, o que parece exagero. O investimento que hoje é da ordem de mais 10 trilhões de dólares (nominais, não refletindo adequadamente o valor de mercado atual, não dá idéia precisa do tamanho real do estoque de investimentos estrangeiros). Em 1979 o Brasil era campeão na atração de IDE. Hoje somos o terceiro do ranking (15 bilhões) que lidera esse estoque, o segundo é o México e o primeiro a china. As campeãs mundiais de IDE são formadas pela tríade, EUA, Oeste Europeu e Japão, que nos anos noventa foram responsáveis por oitenta e cinco por cento dos investimentos estrangeiros em todo o planeta.

As transnacionais que realmente importam são as cem maiores. Empresas que tem faturamento na ordem de três dígitos em matéria de bilhões de dólares, tais como: GM, BP, ESSO e MICROSOFT. O livre comércio traz inúmeras vantagens para os países que participam ativamente do comércio internacional, como a tríade EUA, União Européia e Japão.

As transnacionais nasceram com os recursos naturais, iniciando com o petroleiro e depois o de frutífero. Nos anos 50 o IDE na industria manufatureira começou a ultrapassar o IDE nas indústrias primarias.

Referências bibliográficas

GILPIN, Robert. Global Political Economy. Capítulos 08 e 11. Princeton University Press. New Jersey: 2001.

Relatório UNCTAD – World Investiment Report 1999.

Relatório UNCTAD – World Investiment Report 2007.

Revista Veja n.º 2.037, de 05 de dezembro de 2.007, Editora Abril

Rócio Stefson Neiva Barreto
Enviado por Rócio Stefson Neiva Barreto em 28/03/2008
Código do texto: T920332
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