Por que gosto de contos sobre vampiros?
Sempre me perguntaram o por quê eu gosto de tantas estórias fantasiosas envolvendo vampiros, lobisomens e outros seres desta natureza; não somente de lê-las, mas também de escrever sobre os mesmos temas.
Hoje, dia 23 de março, creio que descobri as palavras para dizer a resposta; vendo uma reportagem sobre uma menina que era mantida como escrava por uma empresária que a torturava das formas mais abomináveis (ao menos foi o que a televisão mostrou).
Não cabe a mim, graças a Deus, entrar nos méritos da culpa ou não de tal mulher e de seus “motivos” para praticar tais atos, pois o que quero tratar aqui não é esse acontecimento em particular, embora eu vá usá-lo apenas para ilustrar o que tenho a dizer. Fatos como este acontecendo em grandes cidades e bem debaixo do nariz de todos, despercebidamente e servem para mostrar, ao menos para mim, que as estórias fantasiosas bem como todos os outros tipos de estórias envolvendo seres como os vampiros servem entre outras coisas, como uma forma de escape de fatos semelhantes a este numa realidade onde uma menina é mantida presa amarrada e acorrentada, torturada com alicates e correntes e usada como escrava (repito que estou falando este fato em particular, mas poderia estar falando sobre a violência contra a mulher ou contra os idosos; a essência é a mesma) por uma pessoa com posses e intelectualmente bem centrada, ao menos aparentemente.
Nas estórias, por mais perversos que sejam os vampiros ou o monstro que for; um leitor pode simplesmente deter as maldades e atrocidades fechando o livro ou no caso dos escritores, é só curvar a linha da narrativa para um lado onde o mal seja vencido pelo bem. Essa é uma das grandes virtudes, entre tantas, que a leitura e a escrita têm; proporcionar um escape do que ocorre no mundo real (primário), ainda que esse escape seja um encontro com vampiros e monstros em um mundo secundário 1 , criado enquanto “degustamos” ou construímos cada linha de texto em uma estória, conto ou crônica.
Prefiro os vampiros da ficção, porque me parece que seu potencial de maldade é apenas uma pequena parte do que o homem tem demonstrado diariamente sem fazer muito esforço. Faltaria-me tempo e condição intelectual para tecer mais palavras sobre fatos semelhantes a esse, e é melhor assim, porém sinto-me impelido a compor este emaranhado de letras apenas para concluir que no fundo aqueles vampiros que não temem a luz do sol, não dormem em caixões, não possuem poderes mentais fantásticos; e sim, o poder político ou econômico-social são infinitamente mais demoníacos do que toda gama de monstros já criados pela fértil mente humana.
No fim, cabe-me apenas pedir a Deus que os vampiros do mundo primário; do mundo real, todos, sejam alcançados pela única solução que julgo ser capaz de deter o verdadeiro mal “vampírico” por trás deles. Que eles encontrem O Bem Absoluto; Jesus.
1 Mundo que, segundo J.R.R Tolkien, se descortina quando passamos pelo portal que é a abertura de um livro e que só pode ser alcançado pela suspensão voluntária e temporária da incredulidade para com fatos de cunho fantástico não permitidos pelas leis físicas e espaciais regentes no mundo real (primário).