A opção pelo sonetilho ***
Dentro das possibilidades de gêneros líricos a seguir na construção de um poema estou acostumado com dois tipos de construção em especial: o Soneto e a Trova. Claro que já me embrenhei em outras construções como o Haicai, o Poetrix, o Rondel, o verso livre, o verso branco, etc.
Porém, confesso que meu prazer especial é pela escrita do Soneto clássico e dele o prazer maior é a construção de sonetos em redondilha maior ou menor (conhecidos como: SONETILHOS) - versos com respectivamente 7 (sete - redondilha maior) ou 5 (cinco - redondilha menor) sílabas poéticas. O SONETILHO tem duas características que me dão prazer:
a) A MUSICALIDADE MAIOR DO VERSO. Ele parece acompanhar a música de fundo, tem uma harmonia interna e percebo que ao declamá-lo estou quase cantando. A rima, o metro curto, a desnecessária presença da tônica dando liberdade à construção sem tirar o ritmo do verso é uma característica que me fascina nos sonetilhos. Eu sinto um casamento perfeito entre o poema e a música. A harmonia: música e poesia são valiosas para o poeta.
Escrevo-os ao som de Aurio Corrá, Kenio Fuke, Yo-Yo Ma, Corciolli, Saint Preux, Vagner Nazareth, Secret Garden, etc.; músicas que tocam profundamente à alma e elevam o nosso Ser a um estado de espírito que convida à Poesia sem que se possa notar... (poesia é um estado de espírito elevado e transcendente - não a entendo como algo apenas racional - é o desligamento interior, o silêncio, a Inspiração Divina, a ausência de caminhos pré-estabelecidos, a presença da imaginação e da criação).
b) A NECESSIDADE DA CONCISÃO DAS IDÉIAS. Todo poema seria interessante ter a quantidade precisa (exata) de palavras para o tema proposto, a idéia gerada.
O poema que se propõe à metrificação, à rima, ao ritmo e ao número preciso de versos, no caso do soneto (14 versos) torna-se um exercício de aprendizado de como se ater ao básico e essencial da expressão. A escolha vocabular é necessariamente obrigada a se ajustar à métrica e ao ritmo e somos instigados ao uso contínuo do dicionário e da criação. Trabalhamos continuamente os dois eixos da escrita*: o semântico (escolha vocabular - a que se encaixa no ritmo, na rima e na métrica) e o sintático: a colocação do vocábulo no verso, capaz de construir uma frase/oração lógica.
Certamente, o verso livre é valioso para os profissionais das Letras, eles sabem o caminho de torná-lo o mais perfeito possível e sem excessos. No amadorismo, como é o meu caso, buscar o verso metrificado é uma aula diária de aprendizado poético, jamais uma camisa de força.
Claro que também trabalho o verso livre e o verso branco, outras métricas. Apenas, adaptei-me melhor com a redondilha e geralmente nela me apoio para escrever meus "poemas" geralmente: Sonetilho.
Enfim, aprendamos o valor do conhecimento para a escrita. O primeiro escrito nosso nasce livre como um pássaro, certamente e a Vida vai ensinando, a quem sonha ser um escritor com algum valor, mesmo que amador, o poder de conhecer as técnicas da versificação, os gêneros líricos possíveis e a Língua Portuguesa em profundidade.
* A idéia dos dois eixos - o vertical (SELEÇÃO - entre classes de palavras iguais - casa, lar, moradia [substantivos] - pequeno, grande, velho [adjetivos]); o horizontal (COMBINAÇÃO - entre classes de palavras diferentes) - (a)/ca/sa/ pe/QUEna; (es/te)/ ve/lho/ LAR; gran/de mo/ra/DIa).
*** Dentre os grandes poetas que cultivam o sonetilho, talvez 3 (três) devam ser lembrados, por serem assíduos realizadores deste tipo de soneto em metros curtos:
1) VILLAESPESA, Francisco - poeta do movimento romântico e posteriormente do movimento modernista espanhol, que chegou a morar no Brasil por um tempo;
2) B. LOPES - poeta Simbolista Brasileiro, autor do valioso livro de sonetilhos com temas campesinos: Cromos (1893) e
3) GONÇALVES CRESPO, Antonio Cândido - Poeta Parnasiano, nascido no Brasil e radicado em Portugal. (Ele também realizava sonetilhos com 6 (seis) sílabas poéticas - versos denominados de: hexassílabos ou heróico quebrado).
Uma ótima noite de quinta-feira para todos os Recantistas, abraços e beijos, Alexandre! Fiquemos com Deus!