Uma Visita 'Catársica' a Minidoka--Um Campo de Concentração NOS ESTADOS UNIDOS!
** Ex-internos do campo de detenção para japoneses no sul de Idaho, durante a II Guerra Mundial, recordam as durezas ali vividas e suscitam reflexões sobre o potencial de excessos semelhantes, nos interesses da “segurança nacional”, para os árabes americanos ou outras minorias na presente guerra antiterror.**
Corriam os agitados dias de fevereiro de 1942, após o bombardeio da base naval americana de Pearl Harbor por aviões japoneses. Entre as medidas tomadas dentro do clima real de guerra que se criou, o presidente americano F. D. Roosevelt assinava a Ordem 9066 autorizando os militares a deterem e evacuarem qualquer pessoa que se julgasse uma ameaça para a “segurança nacional”. No artigo “Japanese Internees Take a Pilgrimage to the Past” [(Ex-)Internos Japoneses Fazem Peregrinação ao Passado] do jornal "USA Today" (25-06-03, pág. 6D), o articulista Marco R. della Cava, lembra: “Destarte teve início um negro capítulo tanto na história do país quanto para a vida de muitos cidadãos naturalizados”.
Os japoneses residentes no território americano ou seus descendentes foram confinados em 10 campos de internação armados pelos militares americanos para acolher 120.000 desses nikkei. E ali permaneceram até o fim do conflito, circundados por arame farpado e sob a guarda de soldados bem armados.
Um grupo de ex-internos nesses “campos de concentração” organizou uma excursão para o local, atualmente transformado em museu, que se deu no fim de semana da data do periódico, acima mencionado, no que o jornalista chama “uma viagem catársica [de “catarse”, ou desafogo mental] ao passado”.
O artigo traz um mapa da região e fotos de ex-internos e do complexo de sombrios edifícios, sem atrativos especiais. As condições são lembradas por alguns que ali foram forçados a “estagiar”, como Dick Sakurai, de 77 anos, e Harue Ninomiya, de 84.
“Fui para Minidoka pobre e ignorante, mas saí de lá mais sábio para o mundo”, diz Sakurai, professor aposentado de Física. Já a Sra. Ninomiya conta que tinha 23 anos na época e estava a ponto de assumir o armazém da família quando foi forçada a seguir para a internação. O local ficava ao sul do estado de Idaho, numa região desolada e seca, onde as tempestades de vento levantavam uma poeira que a tudo escurecia. “Eu me sentia tão revoltada”, lembra ela, “pois ventava tanto. . . . Tudo em que eu pensava era como se podia sair dali”.
Os internos levavam somente o que podiam transportar. As famílias eram colocadas em quartos apertados, sem divisões internas, equipados com colchonetes militares e um fogão a lenha. Água tinha que ser transportada e os banheiros ficavam a centenas de metros. Comodidades como cadeiras e mesas tinham que ser improvisadas utilizando-se tudo quanto se podia encontrar.
Sakurai recorda quando reuniu madeira e pregos suficientes para construir uma cadeira de rodas para sua irmã paralítica para poder ser transportada até o banheiro. “Foi o meu momento de maior orgulho no acampamento”, recorda. Lembra também como o seu irmão mais novo, que era atipicamente alto para alguém de origem nipônica, vivia com fome pois as autoridades do acampamento negavam-lhe comida suficiente. “Você já teve o bastante; por isso é tão grande”, viviam-lhe dizendo.
Um jornal de Portland, capital do Estado do Oregon, na época vangloriava-se numa manchete: “Portland To Be First Jap-Free City” [Portland Será a Primeira Cidade Isenta de Japoneses].
“Pouco se falou a respeito dos anos nos acampamentos depois da guerra; nem os ex-internos oferecem uma razão. Talvez injustificado embaraço? 'Pode ser', confirma Sakurai meneando a cabeça”, registra o articulista, e prossegue:
“Mas eles não mais mantêm o silêncio. Além de empenhar-se nessa viagem catársica ao passado, os ex-internos . . . expressam suspeita da forma como os árabes americanos estão sendo tratados durante a guerra contra o terrorismo.
“A maioria dos nipo-americanos está bem ciente de que muitos árabes americanos correm atualmente grande risco”, diz Sakurai. “Precisamos fazer nossas vozes ouvidas de que estamos por trás deles. Eu era um garoto de 15 anos quando minhas impressões digitais foram tomadas. Ninguém com 15 anos devia ter que passar por isso”.
“Tanto Sakurai quanto Ninomyia concordam em que a segurança nacional requer vigilância. Mas advertem de que às vezes é fácil escorregar morro abaixo e ir longe demais”.
Falando sobre a visita ao local e que sentimentos o dominariam, Sakurai declara: “Nas profundezas de meu ser tenho indagações que remontam àquele evento. Aquilo alterou nossas vidas para sempre”.
E a Sra. Ninomyia pondera: “Em Minidoka recebemos um teto sobre nossas cabeças, alguma comida, um leito. Segundo as aparências realmente não tínhamos privação de nada. Exceto, logicamente, de nossa liberdade”. -- Redigido a partir do artigo referido no primeiro parágrafo.