O que é a vida?

Desde os tempos mais remotos a humanidade busca, quase sem perceber, uma explicação palpável para nossa estada neste mundo. De teorias das mais diversas, de filosofias muitas, com religiões em quantidades, tudo, creio que quase tudo passa pelo crivo do “acho que é assim” ou, quando muito, “acredita-se ser dessa maneira”. Porém, todos esses pontos acima colocados só fazem com que nossas dúvidas e nossas apreensões se tornem mais e mais dolorosas.

Vivemos um dia após o outro esperando, de certo modo, a morte, e sabemos que desse fardo só nos livraremos quando não mais aqui existirmos. Se por um lado muitos nos fazem crer que somente o material se vai, e que nossa parte fundamental – o espírito, a alma – permanecerá viva para todo o sempre; em contrapartida, outras teorias trazem à tona uma quase certeza de que estamos nesse mundo apenas de passagem, e que tudo o que aqui se deseja, se padece, se realiza e se fracassa, é apenas e tão somente um horríve/belo e triste/feliz sonho, uma parada em uma estação que de tempos em tempos se reforma e se transforma para novos viajantes receber.

Dentre todas essas questões, creio particularmente, que a mais sofrível de todas é aceitar a partida de um ente querido, e que por mais que possamos saber que esse é o destino de todos o seres vivos, não aceitamos a morte, talvez pelo fato de pensarmos que nossos pais, nosso irmãos, nosso avós, nosso amigos, enfim, aqueles que amamos sejam também mortais, e que estão presentes em nossa vida apenas por breve espaço de tempo. Assim, aceitar a morte é tão difícil quanto explicar o tempo em que ainda não éramos, ou seja, como considerava Arthur Schopenhauer, se após a morte forma-se o tempo em que deixamos de ser/existir; antes de nascer é possível também que exista o tempo em que ainda não somos. Por considerações como essa que poderíamos deixar de chorar a morte, e de não aceitá-la, mas como isso já está gravado em nossas mentes por conta de uma cultura egoísta e individualista, acredito que será tão fácil remover esse pensamento de nós quanto é o fato de aceitarmos que quem amamos não mais fará parte de nossas vidas.

Dentre tantos conceitos sobre a morte em virtude das muitas teorias e crenças, um destaca-se, particularmente, pela sua sensatez e desprendimento egoísta e material que nos encarcera e corrompe. Ariano Suassuna assim disse pela voz de um de seus personagens em uma de suas obras primas: “Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados porque tudo que é vivo, morre”.

Talvez reflexão igual seja possível de se encontrar, porém maior acredito que não. Nessa breve passagem o autor abarca não somente a questão de que todos nós aqui estamos por curto espaço de tempo, e ainda mais, tenta nos convencer de que o fator morte é e será por um considerável tempo algo sem explicação. Não obstante, reforça a idéia maior de que não tem sentido acumularmos bens e títulos se ao abandonarmos esta “estação” teremos todos o mesmo fim, e que tanto o poderoso quanto o fraco, o rico e pobre, o mal e o bom, corrupto e o honesto, irão, de forma idêntica decompor-se e retornar, como afirma a igreja, ao pó de onde o humano surgiu.

Sabendo-se que somente se pode finalizar com a morte, deixo aqui uma frase de Schopenhauer para que possamos, não somente refletir, mas usá-la como ponto de partida para que num futuro próximo consigamos ao menos amenizar o momento de nossa partida ou a de quem amamos desse sonho breve que é a vida.

“Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte”.

Gimi Ramos
Enviado por Gimi Ramos em 24/03/2008
Código do texto: T914119
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.