A PEDAGOGIA DE JESUS
Celito Meier
Uma vez envolvido na missão de Jesus, acompanhando-o, observando e vendo a realidade (primeiro momento da pedagogia), os discípulos são confrontados, agora,com as necessidades do povo. É somente na saída de si, na disposição para acolher o outro diferente através do olhar que “dá colo” que é possível um processo de evangelização e formação. Pois é somente neste encontro que a nossa sensibilidade é mais profundamente despertada e necessita ser educada e orientada.
Diante das necessidades do povo, deixando-se sensibilizar por essa realidade, nasce à necessária indignação ética. É o não se conformar com a situação. É perceber as contradições da historia, produto da ação de uns sobre os outros.
Essa dimensão é condição de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza o processo educativo não como posse da verdade, mas como busca humilde, constante e dinâmica da essência da vida.
O comum dos mortais, quando submetidos e dominados pela ideologia do capital, da busca frenética do acumular, oriundos da religião do mercado regulador das relações, vê sua capacidade de indignação anestesiada, sua sensibilidade ética adormecida. A indiferença perante as questões que atormentam a humanidade e o conviver e o tratar com “normalidade” essas questões são o câncer que nos destrói. É preciso ver diferente. Perante a perversidade indignar-se é ser presença profética que denuncia e sinaliza para possibilidades outras, para um horizonte de sentido maior.
Junto com a indignação, outra experiência humana fundamental necessita de ser despertada e cultivada: trata-se da capacidade de admiração diante dos sinais de vida presentes na sociedade. Ad-mirar é mirar de perto, é ver por dentro. É captar o pulsar da vida. É perceber o desabrochar da vida, sua luta, sua resistência e sua dinâmica. É Entusiasmar-se com o milagre da vida, que teimosamente renasce e tece raízes mais fortes a cada dia. A verdadeira admiração é desconcertante, vê diferente... É ver o que poucos vêem...
Jesus pedia aos discípulos que observassem bem a realidade, para de fato verem, e neste ver, captarem as necessidade do povo. Com esta sensibilidade, as experiências que Jesus estava proporcionando aos seus educandos eram, entre outras, a indignação e a admiração. Experiências essas que são somente possíveis a quem já foi previamente sensibilizado e já está aberto ao outro.
Percebemos aqui que Jesus não alimenta o pessimismo e muito menos a critica pela mera critica. O objetivo é captar as condições em que a vida se encontra, para melhor colocar-se a seu serviço. Somente homens e mulheres sensibilizados com a dinâmica da vida é que farão parte da comunidade cristã a serviço da vida. Para tanto, é preciso operar o processo desocultamento, de fazer ver com outros olhos, libertos de toda alienação. Jesus opera com a pedagogia da luz.
A luz desoculta, revela e deslumbra a realidade. A luz descativa, isto é, liberta a verdade, e a “verdade vos libertará”. A luz chega de repente, mas não atropela. Surpreende! A luz revela grandeza e também a degradação do ser. Mostra o desejo e a luta por liberdade e libertação, em meio ao soluço da servidão, da dominação. A luz convoca o ser. Perante a luz, as pessoas se enxergam e se encontram. Possibilita a opção. Glorifica os que constroem e envergonha os que arruínam. Por isso a luz incomoda as vidas tortuosas.
Ser educador é sair de si mesmo e buscar o senhor lá onde ele quer ser encontrado. Desde o nascimento o menino não encontrou lugar a não ser entre os “sem-lugar”, os excluídos, solidários ao excluído Jesus. Eles são a manjedoura na qual ele repousa. De seu ventre continua nascendo o libertador. Eles possuem mil rostos. São uma historia que precisa ser lida, ouvida e transformada.
A pedagogia de Jesus é a pedagogia do encontro, motivado pela lógica do amor. É somente na lógica do amor que poderemos compreender a expressão de Jesus diante da mulher com fluxo de sangue: “alguém me tocou” (Mc 5,30)