Resposta a queima da bandeira norte americana.

Escrevi um artigo sobre a manifestação de estudantes que queimaram a bandeira norte americana na visita de Condoleeza Rice ao Brasil, intitulado “Queimar a bandeira norte americana? Mais criatividade, por favor”. Artigo este que causou indignação em alguns leitores, e, com isso, tornei-me foco de bombardeios virtuais. Os mais exaltados mandaram-me ir embora de mala e cuia pra terra do Tio Sam.

Reafirmo, porém, minha posição: sou a favor das manifestações, sou a favor da classe estudantil e toda sociedade brasileira abraçar causas que colidem com sua maneira de pensar e atentam contra a dignidade humana.

Ninguém em sã consciência é a favor da guerra, seja no Iraque, Paquistão, Hungria, Vietnã. O dinheiro que os Estados Unidos investiu nessa guerra no Iraque poderia ser utilizado para fins mais nobres, como, por exemplo, combater a guerra contra a fome e a luta para a erradicação da ignorância. Aliás, se chegamos as margens do caos ambiental é porque ainda somos ignorantes, criaturas com o senso de coletividade pouco desenvolvido, esquecidas de que ações, sejam individuais ou coletivas, repercutem no meio ambiente a gerar calamidades de todos os matizes. Um povo esclarecido, consciente de suas obrigações não esfacela ao longo dos séculos impiedosamente a casa que serve para seu habitat.

Quando lutarmos para que se extermine a ignorância nossa e daqueles que nos rodeiam, teremos sim, uma Terra melhor para se viver.

Portanto, creio que deixei claro que minha bandeira é a da paz e aprovo as manifestações, o que não aprovo é a queima de bandeira. Não é porque a bandeira é dos Estados Unidos, poderia ser da Espanha, Portugal, México, desaprovo a queima da bandeira por uma razão simples: é ineficaz.

Há outras formas de mostrar descontentamento, formas mais originais e mais brandas, porém, paradoxalmente mais eficazes.

Citei no artigo a inesquecível figura de Ghandi porque a meu ver foi original, criativo, saiu da mesmice que leva do nada ao lugar nenhum. Em situações de conflito o oponente espera a força, se posta para receber um inimigo armado pela sede de vingança. Ghandi agia de forma contrária, com brandura, sua arma era a não violência, não necessitava queimar a bandeira britânica para mostrar seu descontentamento. Se o Mahatma agisse violentamente, a história provavelmente narraria outros acontecimentos, talvez mais sangrentos ao povo indiano.

Nossas mãos devem se desatar da indiferença, é verdade, contudo, a razão também não pode ficar intoxicada pelo sentimento de vingança. Devemos agir com firmeza, manifestar nossa contrariedade, porém, de modo a não despertar a fúria alheia, porquanto, manifestações mais exaltadas jogam gasolina na fogueira da discórdia prolongando uma guerra desinteressante a todos.

Quem sabe, talvez, manifestações mais bem humoradas, sem contudo perder a intenção da crítica, possam obter melhor resultado. Enfim, precisamos fazer moda, e queimar a bandeira de outro país está, definitivamente, fora de moda.

Uma questão para pensar!

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 22/03/2008
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