A gente não quer só comida!
Você tem sede de que? Você tem fome de que?
“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!” (TITÃS).
O grupo Titãs embala a juventude nos anos 90 ao som da música “comida”. Hoje, passados mais de dez anos, volto com a pergunta:
Você tem sede de que? Você tem fome de que?
Questione-se caro leitor. Sugiro tirar o olhar do texto e observar o espaço onde você se encontra, quem sabe relaxar e soltar as tensões de seu ombro curvado sobre a tela do computador.
Bem, prosseguindo, quero citar Domenico de Masi para recordar dois momentos essenciais na história da humanidade. São eles: a conceituação da sobrevivência e a conceituação do belo.
Na idade da pedra, a necessidade de sobreviver fez com que o homem esculpisse lâminas, pontas de flechas, para produzir um objeto útil afim de capturar as presas para alimentação, neste mesmo tempo, De Masi cita que foram encontradas pontas de flechas em forma de amêndoa, decoradas com desenhos de folhas que se assemelhavam a folhas de louros. Sem dúvida, já estava surgindo a preocupação estética na raça humana. Mesmo já tendo sua lança pronta para a caça, o homem gastava dias de trabalho para enfeitar seu instrumento.
Permitam-me agora um salto de alguns mil anos para questioná-lo:
Comida é pasto? Bebida é água? Fome de que? Sede de que?
Sugiro, novamente, que você reflita caro leitor. Aliás, você notou como está o clima nesse final de verão? Percebeu as famosas “Águas de Março” imortalizadas pela canção de Tom Jobim. Certamente você se dá conta das “Águas de Março” que estão fechando o verão somente quando ouve Tom Jobim e Elis Regina. Imagine, com a quantidade de relatórios e planilhas que você tem que preencher não importa se faz sol ou chuva.
Bem, nesse ponto, cabe recordar que um pouco mais recente do que a idade da pedra, ou seja, entre dezessete e dezoito mil anos atrás, o ser humano começava a adicionar à estética da natureza, à beleza de uma nuvem, ou de um poente, uma estética artificial: A arte. (DE MASI, 2000)
Veja que ironia leitor, era o homem primitivo proclamando:
A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!
Está chocado? Eu também. Mas, vamos seguir e exemplificar mais.
Hoje mesmo verifiquei na internet que os EUA investem milhões de dólares por ano em armamentos bélicos e, certamente, nenhuma das armas têm folhas de louro ou amêndoas esculpidas em sua superfície. Há preocupação com o belo? Certamente não! Então, há preocupação com a sobrevivência... talvez precisem caçar para garantir seu sustento?
Desculpe a ironia, mas sem muito comentar, retorno à pergunta:
Que sede é essa? Que fome é essa?
E, por fim, questiono a Universidade Brasileira:
Nós temos fome de que? Nós temos sede de que?
A massa pensante da humanidade, que forma aquilo que o Prof. Oswaldo Della Giustina chama de consciência crítica, está clamando: A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!
Arrisco, metaforicamente dizer que a comida, o feijão com arroz da universidade, é o ensino formatado tradicionalmente na sala de aula, aquele ensino que vem desde a universidade medieval; a diversão talvez seria o prazer desafiador e contagiante da pesquisa, da exploração de novos conhecimentos; o êxtase em compartilhar as descobertas e ser útil para a sociedade se daria pela extensão. A arte seria a capacidade de perceber o belo, de se formar “humano”, de estar sensibilizado para os valores da civilização, a arte da boa convivência com todos os seres do planeta.
Sim, a gente quer comida, diversão e arte!