O serviço secreto

Todo sistema, no passado, para se manter informado, costumava se socorrer de algum tipo de “serviço secreto”. Quanto mais secreto, melhor. Até o pessoal da Caixa (CEF), tinha seu SS, e fazia cursos em Brasília, nos porões da ditadura. Isso acabou. Até o famigerado SNI democratizou-se, abriu suas portas e revelou suas entranhas.

No entanto, ainda hoje, mesmo atenuado pelos ares democráticos, alguns segmentos têm seus órgãos de informação. Heranças da ditadura...

No concerto internacional, com o fim da guerra fria, os grandes órgãos de informação, CIA, KGB e outras agências abrandaram um pouco a paranóia de vigilância, um do outro. Quem anda a mil, a todo o vapor, é o Mossad, o eficaz serviço secreto israelense, hoje, sem dúvidas, o mais eficiente do mundo. Também pudera, um país pequeno cercado de inimigos. Se cochilar o cachimbo cai...

Mas, na verdade, a história aqui é outra. Todos os dias, enquanto tomava chimarrão, à tardinha, na frente da casa de um vizinho, eu notava a presença de uma senhora de idade, que passava varrendo tudo com seus olhos perscrutadores. Não foi uma nem duas vezes que vi a idosa passar por ali, parar, disfarçar e olhar para os lados, como quem não quer nada.

Como já vivi essa paranóia de segurança, conheço bem certos trejeitos, e fiquei de olho na véia. Com um semblante aquilino, ela percebeu minha atenção, e passou a me evitar. Ela parava na virada da esquina, onde meu olhar não podia alcançá-la. Aquele jogo de gato e rato começou a me intrigar.

Afinal, quem era a senhora bem vestida? A quem estaria ela cuidando? Lembrei-me dos agentes do Mossad. E me preocupei. Em meu prédio há judeus, árabes, iranianos, alemães e outros bichos, mas todos se dão civilizadamente bem. Qual seria o motivo daquele “serviço secreto” manter plantão diário ali? Uma tarde, eu dei uma saída e pude ver a mulher, sem que ela me visse. Sapato baixo, saia justa, vestida de forma discreta. As mãos ficavam unidas atrás, como um soldado de “polícia especial” de sentinela.

Chamou-me atenção sua bolsa, de couro, volumosa. Ali dentro - pensei - deve haver granadas, um aparelho de rádio e uma submetralhadora Uzi, nove milímetros.

Conforme émeu jeito de ser, encarei a mulher que, ofendida, disse que os homens eram todos iguais. Ela investigava o genro que supostamente tinha uma “namorada” em um escritório ali perto. “Você, pelo jeito, acusou ela, foi contratado para fazer a ‘segurança’ daquele safado!”.

Quase que sou vítima da truculência de uma “agência de informação”

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 27/12/2005
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