Chuva no mar

A manhã esteve ótima. Há muitos dias que eu não via um dia assim. Um sol de rachar a cuca do vivente, iluminando um céu azul de Brigadeiro, dando ao mar uma conotação verde na beira e azul violeta mais ao fundo.

Na hora de meio dia o calor intenso convidava a um mergulho ou a um passeio de barco. Na velocidade do pequeno barco, o vento batia no rosto, junto com a espuma da água, dando uma sensação muito agradável.

Meu filho, exímio navegador alertou: “Pai, vamos voltar que vem temporal”. Olhei para os lados e vi lá adiante, no horizonte, uma nuvem muito discreta. Quis teimar, mas o bom senso e o respeito pelo navegador me fizeram calar, embora intimamente duvidasse. Virei o leme na direção da praia.

Levamos uma hora desde onde estávamos, no instante da primeira observação, até o momento em que chegamos à beira. O tempo já havia fechado. Ventava, levantando os guarda-sóis teimosos, afastando os banhistas da praia, e levantando grossas nuvens de areia, que faziam graciosos rodamoinhos. Em seguida começou a chover. E chover forte.

É interessante como a chuva dá a muitas pessoas uma sensação de desconforto, de insegurança. A primeira coisa que se lembram é de buscar abrigo. Ora, buscar abrigo de quê ? Quem está na cidade, sob o risco das grandes chuvas e das torrentes imprevistas, até tem essa justificativa, mas quem está na praia... Afinal, está calor, estão todos com roupa de banho, calção, sunga, bermuda, maiô, biquíni, etc. Por que, então sair da água ?

O curioso é que ninguém sabe o porquê. É um gesto instintivo de busca de proteção. Dali há pouco, os mais corajosos vão retornando à água, seguem-nos as crianças, e dentro de alguns minutos, mesmo com o céu fechado, o vento assobiante e o mar meio agitado, a maioria dos banhistas está de volta para dentro d’água.

Lá adiante, a chuva forma uma névoa, como uma neblina, que dificulta a visibilidade. No meio da bruma se consegue divisar uma baleeira de pescadores voltando, batida pelas ondas, sacudida pelos ventos, em direção à praia. De certo estavam mais longe, ou não tinham um motor potente ou faltou-lhes a previsão do meu “navegador”. Assim que a barcaça tocou a orla, os veranistas, como sempre solidários, acorreram a puxá-la para a areia, ao mesmo tempo que bisbilhotavam a carga de pescado, que por sinal, nesse dia, fora bem significativa.

Apesar de muita gente na praia, via-se nas janelas e sacadas das casas e apartamentos próximos, pessoas abrigadas da chuva e do frio (psicológico, oriundo do medo), algumas vestindo moletons, blusões de náilon, muitos até com capuz. Êta gente fiasquenta!

Assim como veio, o temporal se foi. Aos poucos o vento amainou, o mar se acalmou (embora ficasse sujo pelo despejo de alguns arroios), o céu clareou e tivemos uma tarde bem bonita. Lá adiante, como ponte entre o céu e a terra, apareceu um belíssimo arco-íris, sobre o qual pretendo falar em outra crônica.

Direto de Garopaba

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 27/12/2005
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