Decisão

Depois daquele beijo, o carro saiu dali cantando os pneus. Foram momentos de expectativa. A respiração opressa, o suor teimando em escorrer e a adrenalina fazendo o coração disparar... Queríamos ir mas, de certo modo, por ser a vez primeira, tínhamos vergonha de pedir...

Chegamos. Não ousávamos nos olhar. Era como se tivéssemos medo de que palavras ou simples gestos pudessem quebrar o encanto daquele momento. Fechei o carro e subimos a estreita escada em “L” que nos conduziu ao pavimento superior.

Quando toquei tua mão, não sabia qual a mais fria, se a minha ou a tua... Entramos. Fechaste a porta. Não sei medo de quê. A fraca luz do aposento refletida na parede de espelhos, colocava reflexos estranhos em teus cabelos e em teus olhos.

Mais calmos, nos olhamos profundamente e deixamos o amor começar a acontecer. O beijo foi melhor que os anteriores; mais quente, mais molhado; com menor pudor. Abracei-te com força, como há muito desejava fazê-lo. Descontraída, te deixaste abraçar, revolvendo-te sensualmente em meus braços, como gata no cio.

Tua expressão era de uma entidade sobrenatural, talvez uma deusa pagã, ávida pelo amor... Aos poucos fui tirando a tua roupa, que foi ficando pelo chão, como um rastro disponível caso quiséssemos retornar e não encontrássemos o caminho da volta.

O que aconteceu depois foi o crescendo de uma atmosfera de sonho e realidade, equilíbrio e loucura, a se fundir no meio de tantas sensações. O som ambiental tocou “Unchained Melody”, a música do “Ghost”...

O abraço foi mais forte; o beijo mais profundo. Até hoje imagino sentir em mim o perfume (“Fleur de Rocaille”) que usavas. Nossas bocas se afastaram, as mãos se separaram, nossos corpos se desencontraram na volúpia do amor incontido, na busca da carícia mais ousada, do beijo mais profundo, no chakra mais remoto...

Meus lábios pousaram suavemente em teu ninho de amor. Minha língua umedeceu-se em contato com as tuas secreções... Aspirei teu perfume e bebi teu néctar, como um sequioso diante de uma fonte única de água pura. Lá fora o mundo parou. Apenas a chuva fina preparava um interlúdio para nós... Junto com o ruído da chuva eu escutava teus gemidos, como um mantra de amantes, murmurado num frisson aspirado entre dentes... Quando tuas coxas mornas e perfumadas comprimiram meu rosto, senti que o amor chegara para ti a um de seus momentos mais sublimes.

Quando nos tornamos a olhar nos olhos, tinhas no rosto o jeito tímido de menina encabulada, mas em teus olhos brilhava a centelha da malícia e luxúria da deusa pagã.

Retomamos as carícias, onde tudo nos conduzia a um crescendo sem precedentes. Pediste que eu te penetrasse e consegui ler em teus olhos o gozo da festa. Penetrar-te foi como adentrar num vulcão de lava incandescente. Aos poucos não foi dando mais para controlar a emoção, e por mais que quiséssemos retardar, o amor explodiu em nós, inundando-nos de um prazer abundante, molhado, copioso, quente e recíproco. Só pude ouvir teus lábios gritarem: “Amooor!”.

Depois dali, não sei quantas vezes nos amamos ainda. Perdi a conta... Só sei que quando o sol veio cobrir nossa nudez e nos despertar, estávamos juntos, abraçados, certos que a partir daquela noite muita coisa mudara para nós, e era preciso tomar uma decisão urgente, pois um encontro de magia como aquele não podia durar apenas uma noite.

Nossas vidas tomavam outro rumo e precisávamos administrar aquele amor...

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 27/12/2005
Código do texto: T90903