Impunidade no Trânsito

Artigo/Opinião

FALTA DE EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO – É PRECISO UMA NOVA HABILITAÇÃO MAIS EXIGENTE

“É comum culparmos alguém por

nossa inércia. Fomos condicionados

a acreditar que somos vítimas

e nos tornamos irresponsáveis por

nós mesmos...”

(Sérgio Savian)

In Memoriam de meu Sobrinho Ricardo Pola Campolim

Corrêa Leite, atropelado e morto em Itapeva-SP, cujo

motorista que incorreu em erro gravíssimo

fugiu sem prestar o devido socorro na forma da lei

-Dizem que o pior ignorante é aquele que sabe ler e não lê. Segundo Bertold Brecht, o pior ignorante é o ignorante político. Não sabe votar. O Brasil é um exemplo disso. Até Pelé - que é campeão em falar tantas besteiras - acertou desta vez, ele que não sabe nem mesmo ser o Pelé pessoa em postura comportamental. Pelos cacarecos que elegemos – do tipo rouba mas diz que faz; é dando que se recebe, ou, “esqueçam tudo o que eu falei...” – já temos uma visão do tipinho do brasileiro néscio que quer sempre levar vantagem em tudo, certo?

Errado. O Brasileiro é culturalmente e historicamente mal-educado, mal-informado, aquele que aceita o open-doping da mídia às vezes leviana por isto acaba marionete de pelegos; às vezes manipulado para acreditar em tudo que o sistema quer que ele acredite, feito um simplório bonachão. Brasileiro se acha o tal. Tudo sabe, quando não sabe nada (ou pensa que pensa), e daí sempre leva chumbo mas não assume que votou naquele neoliberal que o logrou depois, naquele que dizia de um falso plano real que levianamente trocou a nossa grana pau a pau pelo dólar, para depois não valer nadica de nada e engabelar eleitores bocós. Mas brasileiro acha que é o tal, que é o bom. Tem muitas qualidades belas, claro, como todo povo, mas tem os piores defeitos de todos: é despolitizado, não gosta de estudar sempre, não gosta de ler, não gosta de cultura. Uma pena. Uma vergonha.

Como é mal-educado na fila de supermercado, na fila de espera do pedágio, de tomar vaga de outro no condomínio, de lograr o fiscal simpático, de iludir a mulher amada, de mentir pros filhos inocentes , de sacanear o bom patrão, de glosar o imposto de renda, de passar a perna no guarda rodoviário tranqüilo, se brasileiro é assim mesmo historicamente, certamente também o é no trânsito caótico, claro, e nem poderia ser diferente, não faria sentido. O brasileiro é o pior motorista que existe. Imagine ainda aculturado, semi-analfabeto (quando não ignorante de tudo ou cego), valente de ocasião, metido a sebo, querendo ser o que não é, ou comprando a tal carteira de habilitação que mal o qualifica como ser e como humanus, quanto mais ainda tirada por telegrama ou por baixo dos panos. Pois é o que acontece. Uma tristeza.

No Brasil temos motorista de caminhão que não sabe ler nem as simples vogais, muito menos placas estratégicas, temos funcionário público com carta cabritada quando não autoridade desqualificada com documento dublê, e vão por aí as falcatruas e disparates sócio-posturais próprias deste mesmo brasileiro que não lê, não vota bem, é malandro que no final sempre leva direta ou indiretamente prejuízo por tabela. O malandro logrado, afinal, pois pior do que malandro verdadeiro é o tal “mané”, o falso malandro porque esse é pior do que coió ou arigó, como se diz em chiste popularesco lá na minha pitoresca e bucólica Estância Boêmia de Itararé, sul de São Paulo, divisa com o Paraná.

Para falar a bendita verdade, quer saber? Metade de nossos motoristas, sem fossem os tais nos Estados Unidos ou na Europa, não teriam carta de habilitação jamais. Dos que têm, mais da metade seguramente estariam presos, perderiam muitíssimos pontos e a carteira, muitos deles certamente jamais teriam a mínima capacitação nem pra dirigir um carrinho de rolimã ou pipa, por inabilidade primordial mesmo, problema sócio-postural, doenças, ignorância total, falta de ética, de cidadania, quando não altamente alcoolizados u com rebites químicos, além de cometerem tantas barbaridades que aqui logram autoridades frouxas, mas num país de mais qualidade político-econômica nem diploma teriam, de qualquer natureza. Imaginem só. Vão sacando.

Sou pelas mudanças radicais nas tais habilitações (de araque) de habilidades essenciais, com exigências severas, duras, assim como acho que só deveriam tirar a tal Carteira de Identidade quem tivesse o ensino fundamental completo, e, para carteira de motorista a exigência do ensino médio completo além de um cursinho técnico específico, e, ainda a perda de carteira quando dirigissem bêbados, a perda do carro por atropelarem ou matarem se fossem culpado, e, claro, cadeia em casos graves de tantos crimes que cometem dirigindo mal, porque há tantos vícios e infrações que sublimam problemas psicológicos, de índole, de caráter, de berço (de origem familiar) que tramam fugas existenciais ao perigoso volante, fazendo sim, do veículo uma arma em potencial. E isso vale para todas as categorias. Acho que toda carta deveria ter validade por cinco anos e teria que ser inicialmente amadora, depois semiprofissional e, sim, para dirigir caminhões ou mesmo carros especiais ou pesados, cada vez mais exigências estruturais, mecânicas e técnico-funcionais de estilo. Para não ver motorista de caminhão parado em fila dupla, correndo pelo acostamento, ou jogando veículos de passeio fora da pista federal, o que presenciei particularmente e presencialmente com verdadeiros bandidos do sul ao volante de caminhões assassinos, fazendo barbaridades com máquinas que não dominam, e ainda como patetas rindo de cidadãos pacatos que sofrem problemas, mortes e outras resultantes graves de prevaricações infames ao volante, por falta de o mínimo senso de responsabilidade. Falando sério, se somos mal-educados no primordial, no básico, no meio, imaginem numa pista, correndo, quando os loucos ali canalizam falências múltiplas, problemas insaráveis de egos, e tantas outras situações vexatórias que envergonham a própria categoria quando deveria dar exemplo porque em tese transportam o progresso. Isto, para não falar dos domingueiros, dos boys, das madames que, sem lenço e sem documentam alimentam as tristes estatísticas de dezelo para com a vida humana. Benza-Deus!

A vida nos testa o tempo inteiro, sempre. Vivendo e aprendendo, evoluindo. Sociedade, família, governo, violência e núcleos de abandonos. Os que são bons provam o tempo todo que são bons. Cacarecos têm medo de sinais vermelhos ou de situações-limites, de guardas de trânsito, de curvas acentuadas, de encalhes de cargas, de congestionamentos e aclives. Por que motorista não deve ser testado, se está na ponta de uma situação grave que o nosso trânsito carrega, feito uma espécie de Vietnã nosso com guerrilhas urbanas e mesmo em áreas sem vigilância ou pessoal devidamente capacitado?. Sim, devemos exigir sempre mais e bastante. Quem é bom que se qualifique, ora. Quem for rato de estrada que vá fazer artesanato babaquara em cadeias públicas até aprender ser gente. Temos que mudar muito. Temos eu mudar tudo mesmo. E vamos cobrar ainda mais mudanças. Avaliação contínua também dos motoristas improbos ou incompetentes. Por que não?

Colocarmos máquinas simulando situações de percursos, para testar os reflexos rápidos; um apurado exame psicológico e para testar a própria mão pesada do motorista inábil; temos que fazer teste mensal de sangue, urina, pressão, avaliação neurológica e tudo mais. Quem serve, serve. Quem não serve abandone a vida de dirigir sem conhecimento amplo e vá se achar noutro campo de trabalho. Não temos que ter medo de nada. Temos que temer os maus profissionais e os que incapacitam pedestres, aleijam pais de família, atropelam e fogem, matam e ninguém fica sabendo por falta de fiscalização, prisão imediata e julgamento direto. Acho que deveríamos ter Código Penal de Transito e plantão judicial para acabar com os marginais das estradas. Essa é a pura verdade e uma visão de se buscar justiça entre incautos ou relapsos. Os meios bem dos tempos atuais intencionados justificam os fins.

Sim, precisamos mudar a Carteira Nacional de Habilitação, num cadastro único, federal e informatizado, ter ali todos os dados importantes, fotos atualizadas, tipo sanguíneo, e, a cada infração, multa ou outra penalização grave sem recurso para mau profissional, que assim vai perdendo pontos, empregos, serviços, transportes; vai pagar multas altíssimas, até aprender a ser, conviver e respeitar. Quem não tem competência não se estabelece. Chega de carteira comprada nos cafundós do judas, de exames falsos, de habilitações pífias. Queremos mudanças. Se o Brasil está mudando em tudo, evoluindo em todos os setores produtivo e de serviços concorrenciais, porque não acabar com imperitos ao volante, se achando, quando os tempos são outros e a primeira mudança radical tem que começar em nós, a partir de nós, para depois cobrarmos os poderes públicos e as autoridades. Quem tem medo de mudança é suspeito, por conseguinte tem chance de ser um errado, um maníaco, ou um ignorante em potencial, um verdadeiro suicida tácito dirigindo sem poder. Falando sério, só tem medo de ser feliz quem tem conta pra pagar, consciência pesada ou não nasceu para evoluir para melhor, a partir de si mesmo, porque, antes de criticar é preciso se inteirar bem, inclusive historicamente, fazer a sua parte, dar idéias até melhores e mais abrangentes, mas, dirigindo bem, sendo correto, idôneo e altamente profissional e solidário.

Viajando sempre pelas belas rodovias do Brasil e principalmente pelas rodovias de São Paulo, claro, vejo motoristas que deveriam obrigatoriamente trafegar sempre na faixa da direita, espaço obrigatório e legal deles, fazendo inconvenientes malabarismos, sem darem sinal e coisas piores mais, invadindo faixas centrais ou, pior, da esquerda, quando ali não é o espaço deles. Deveria ter fiscal punindo, e, se tivéssemos como é legal, muitos deles nem teriam carta mais, estariam pelo menos desempregados, desqualificados. Uma pesquisa demonstrou que motoristas brasileiros, como agem em nossas estradas, pelo modus operandi nos Estados Unidos perderiam a carteira para sempre, ou estariam presos por anos e anos, condenados com graves crimes no trânsito. Essa é a triste verdade. Não queremos uma guerra civil no nosso trânsito caótico, como ocorre no Brasil. Chega de impunidades. E por essa ótica os maus motoristas são os primeiros a pular fora da categoria, por isso mesmo ao mais visados e os que mais vão chiar quando de oportunas exigências casuais e no foro da lei. Um exame tipo vestibular, transparente bem abrangente e com cobranças profundas mesmo, mudarão a cara do trânsito brasileiro que é uma vergonha, um verdadeiro inferno. Quem não for provadamente do ramo, vá vender pastel na feira, vá testar a economia informal, ou volte a estudar, cuidar da saúde, procure ajuda num analista ou caia fora do meio que, sim, tem que ser exigente e evitar interesseiros, contrabandistas informais ou pára-quedistas com suas falcatruas em cargas, taxas, transportes ou dezelos no trato com o veículo, com o contrário, com as regras que tem que ser cumpridas na marra. Chega de impunidade!

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Silas Corrêa Leite, de Itararé-SP é membro da UBE-União Brasileira de Escritores, é Teórico da Educação, Crítico Social e Jornalista Comunitário.

É pós-graduado em Inteligência Emocional, Direitos Humanos e Relações Raciais pela ECA/USP – Ganhador do Prêmio Lígia Fagundes Telles Para Professor Escritor

E-mail: poesilas@terra.com.br – Blogues: www.portas-lapsos.zip.net

www.campodetrigocomcorvos.zip.net

Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm

Autor do e-book de sucesso “ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓ” no site

www.itarare.com.br

Texto da Série: “O Brasil Não Merece o Brazyl”