A POESIA E SUAS DEMANDAS

          Excertos do artigo de Luis Antonio Pimentel
                   publicado na revista Poesia Sempre
                    Ano 10 - número 17 - dez.2002

              
             
Foi Bashô (bananeira em japonês) quem codificou, quem estabeleceu os cânones do tradicional haicai japonês. Bashô foi o Petrarca do haicai, se nos permitem a comparação. Foi ele quem decidiu que o haicai deveria mostrar, direta ou indiretamente, a estação do ano que ele plasma ou em que a cena se derenrola, pois isso é coisa de suma importãncia para o contemplativismo búdico do povo japonês. Graças ao grande senso de estética de Bashô, o haicai não tem título e não trata das desgraças terrenas. Nos haicais, dentro dos cânones ditados pelo grande mestre Bashô, há sol, lua, estrelas, nuvens, auroras, crepúsculos, orvalho, neblina, chuva, riachos cantando, pássaros e insetos, árvores floridas, com frutos, despindo as dolhas, coisas que confortam a alma sem o menor constrangimento. O haicai, no entender de Bashô, não comportaria aquilo que no Ocidente costumamos chamar de belo-horrível. O belo-horrível não passa de uma perversão emotiva do homem ocidental que desconhece os ensinamentos do budismo.

             Quando Bashô morreu, seu corpo foi sepultado no jardim do templo Yoshinaka e, segundo alguns biógrafos, como última homenagem, plantaram sobre seu túmulo uma bananeira.

              Como exemplo de haicai, daremos este célebre de Bashô, talvez a poesia mais popular do Japão:

     Fure ike ya                Ao pular de um sapo
  kawazu tobikumu            as águas do velho lago
    mizu no ato                se abriram sonoras...