A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E O TRABALHO
Quem falou que a pessoa com deficiência física não pode trabalhar? Ando de cadeira de rodas e trabalho. Conquistei até o título de “Servidor-padrão”. Deficiência não é uma opção pessoal. É uma parte natural da experiência humana. Mesmo que nos empreste um visual diferente e algumas dificuldades locomotoras, a mente ilesa cria soluções para tudo. O trabalho devolve-nos o sentimento de utilidade e supera a defasagem do caminhar.
Baseados no desafio, integramo-nos muito bem aos grupos de trabalho e lutamos por tratamento igualitário, mesmo porque, forjados a ferro e fogo, temos por lema a coragem, o desejo de vencer e jamais nos subjugamos às subserviências em busca de protecionismo, benesse sob o álibi da deficiência. Pelo contrário, preocupamo-nos em mostrar competência, conquistando respeito pelos nossos próprios méritos. As discriminações só persistirão se nós as aceitarmos, fazendo-nos de vítimas. Por isso, não devemos permitir que os sentimentos de compaixão ou repulsa releguem-nos à inutilidade, conduzindo-nos à inércia ou a uma humilhante aposentadoria.
Precisamos continuar lutando pelo reconhecimento da igualdade jurídica e pelo direito ao trabalho, máxima maior estampada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Muitas vezes, para a pessoa com deficiência, o trabalho pode ter fins terapêuticos, melhorando sensivelmente a sua saúde física e mental, aumentando-lhe a auto-estima, devolvendo-lhe a dignidade, além de diminuir os problemas sociais.
Nos países de primeiro mundo a política de trabalho em prol da pessoa portadora de deficiência física é bem direcionada e frutifica, sabendo-se que o retorno é sete para cada dólar aplicado nesse sentido. O passo mais importante para a efetivação dessa política em nosso país é a acessibilidade, a quebra de barreiras arquitetônicas, requisito básico para que a pessoa com deficiência viva com dignidade.
Um ambiente acessível é melhor para todos. Bom seria se houvesse leis que obrigassem a feitura e execução de projeto universal com integração de acessibilidade para todos. É o que se chama “projetar acessível”, que significa uma concepção moderna de arquitetura urbanística e ambiental voltada ao bem de todos. Afinal, formamos uma sociedade heterogênea.
A Constituição Federal de 1988 concedeu direitos à pessoa com deficiência física, abrindo-lhe mercado de trabalho, pois com a mente ilesa não pode ser excluída do direito de participar do processo econômico, político e social do país que lhe serviu de berço. Se não tem as pernas, tem as mãos, o raciocínio... Os potenciais afloram mais aguçados, tentando superar de outras formas a falta ou disfunções de membros.
A sociedade precisa aprender a conviver com essas pessoas, aceitá-las como força de trabalho. Não com paternalismo, mas sem discriminações, dando-lhes a oportunidade de competir e mostrarem que são capazes. É preciso que se quebre o tabu de um país que não encara os seus problemas e só aceita os fortes, perfeitos e vencedores.
Vamos abrir as portas a quem não tem a destreza de órgãos locomotores, mas ferrenha vontade de produzir, criar, trabalhar, competir, conquistar a cidadania e justificar a sua passagem pela VIDA.
Genaura Tormin - é escritora, autora dos livros Pássaro Sem Asas, Apenas uma Flor, Nesgas de Saudade, Borboleteando, Marola Veleiro e Vento e Construindo Sonhos.