A ESPERANÇA POR UM ANO MELHOR
Pandora, a primeira mulher, modelada em argila por ordem de Zeus (o mal-humorado deus dos Gregos), a bela, a irresistível, a que sabia tecer, educada por todos os imortais, astuta, ardilosa, fingida, a que foi enviada a Epimeteu (o imprudente) para desgraçá-lo e a toda a humanidade, trouxe de presente de núpcias a pequena caixa. Levada pela curiosidade feminina, ela a abre antes do momento combinado; dali evolam-se todas as calamidades e desgraças, que até hoje atormentam os homens (um verdadeiro presente de grego). Fechando-a, rapidamente, só a Esperança ficou presa em seu interior.
As calamidades humanas surgem com Pandora, a precursora de todas as Evas. Com ela, surge também a Esperança, “a última que morre”.
Desta história rocambolesca surge a idéia do grande sentimento a se contrapor ao mal que possa estar acontecendo.
A Esperança de poder mudar para melhor a vida , transformar a realidade do dia-a-dia, muitas vezes dura, e não menos instrutiva.
Ao término de um ano, a convenção temporal adotada para medir a sucessão de amanheceres experimentados na vida, refletimos sobre o futuro; questionamos-nos sobre esse sentimento capaz de transformar a vida por vontade própria.
A ampliação de nossa capacidade de sentir poderá nos livrar da indiferença, que nos afasta da humanidade e nos torna frios diante do sofrimento alheio. O mutismo da morte é indiferente a tudo. Somos capazes de presenciar um pôr-do-sol e nada sentir; respirar o primeiro ar da manhã e deixar os raios solares tocarem nossa pele com absoluta indiferença; ou presenciar cenas de barbárie nas guerras documentadas , e olhar tudo como obra de ficção,irreal, que nada tem a ver conosco.
Que no ano que se inicia saibamos nos interessar mais por nossas vidas e viver a Esperança; que ela deixe de ser um mito e se transforme em realidade.
Que essa espera por um futuro melhor seja para nós uma realidade palpável ; um presente de Deus para quem saiba conhecê-la em seu coração.
Deus não pode ser o pai vingativo que encomenda desgraças de toda a espécie para os filhos; nem o causador de guerras insanas promovidas por mentes doentias que evocam
Seu nome para justificar seus crimes; oupropriedade privada deste ou daquele povo, que nega Sua excelsa paternidade ao partir em cruzadas assassinas contra seus irmãos. Ele continuará sendo um estranho, o grande ausente para o ser humano que não percebeu ser impossível senti-Lo e compreendê-Lo, sem antes sentir, compreender e entender-se com os outros seres humanos, seus irmãos.
Se Deus instilou no coração humano a Esperança, saibamos reconhecer nela um sinal de Sua sabedoria, que está estampada em toda a Natureza, e especialmente manifestada na consciência humana, a qual jaz adormecida como a bela princesa, mas que poderá ser despertada deste trágico e milenar sono, que o tem afastado de si mesmo e dos semelhantes.
Nagib Anderáos Neto
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