Liberdade

Condensado do importante artigo de Liane Alves - Caminhos da liberdade - publicado na Revista "Vida Simples"
março de 2008


" Uma das metáforas mais poderosas sobre a condição humana - e sua relação com a liberdade - é a do camelo, do leão e da criança. Ela foi empregada pelo filósofo alemão Fiedrich Nitzsche no século 19 e até hoje é utilizada para demonstrar as diferentes metamorfoses da consciência e nossa possibilidade de sermos livres. Diz ele que o homem, ao nascer, é como o camelo. É obrigado a comer, assimilar e armazenar, por um bom tempo, grande parte dos dados, histórias e ensinamentos acumulados pela humanidade ao longo de séculos, através dos pais, professores e mestres, ou ainda através de livros, filmes, arte, arquitetura e toda a produção cultural existente na sociedade. Ele vai ruminar, ruminar e ruminar essa quantidade enorme de dados, até construir seu sistema de valores e crenças organizadas e pré-existentes - sejam religiões, sistemas políticos, filosofias ou doutrinas.
A maior parte da humanidade, diz Nietzsche, vive no estado de camelo. Assimilando, aceitando, deglutindo, ou pior, se estapeando por causa do conteúdo engolido, isto é, por causa de suas crenças, ideologias ou religiões. Os homens-camelos não têm potencial crítico para se afastar da própria crença, analisá-la de forma isenta e descobrir seus pontos falhos ou distorcidos. Principalmente porque ela está baseada na emoção, não na razão.
Uns poucos entre os camelos chegam ao estado de leão. Normalmente, os grandes felinos se insurgem contra "isso tudo que está aí", como se dizia na década de 70. Leões são geralmente líderes, como Picasso, Ingmar Bergman ou Francisco de Assis.
Leões geralmente tem enorme influência junto aos camelos. O problema do leão é que ele, na maioria dos casos, está preso ao que ele é contra. Pode dedicar sua vida - e até morrer - por seu ideal.
A grande maioria da humanidade está empacada no estado do camelo; a minoria está empacada no estágio de leão. A maioria significa as massas: a minoria, a "intelligentsia" (pintores, músicos, cineastas, intelectuais, escritores, uma boa parte dos pensadores...). O leão, segundo o mestre espitirual Osho (que comentou a teoria de Nietzsche no livro Liberdade, a Coragem de Ser Você Mesmo), evolui das massas e se faz por si mesmo. Ele é basicamente mental.
Já para se formar a criança, é preciso uma formidável revolução interior.
A criança é a pessoa que passou por uma transformação interna absolutamente radical. Ela tornou-se um outro ser, renasceu. É pós-mental e pós-egóica. O camelo vive no passado, o leão no futuro e a criança no aqui-e-agora.
É criativa, leve, solta. Nada mais a sufoca.
A liberdade é algo que chega naturalmente e se instala, acompanhando a evolução da consciência, diz a jornalista Luzia Pimentel. Portanto, a liberdade é única e exclusivamente ser do jeito que você é, deixar seu ser verdadeiro transbordar dentro de sí e permitir que ele dirija suas ações.
E não há de se ter medo de uma liberdade assim. Não existe agir ou não agir corretamente quando existe liberdade. Você é livre e, desse centro livre, age. Portanto, não existe medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor. Só pode amar verdadeiramente quem é livre.
E a criança é a única realmente livre. "
Cidinha
Enviado por Cidinha em 02/03/2008
Reeditado em 19/06/2008
Código do texto: T883291