Liberdade de Criação X Sinistro-Humanistas (Em defesa do "Tropa de Elite")
Opiniões são sempre válidas, pois condimentam o bom debate e fecundam a democracia. Assim sendo, permitam-me discordar de algumas tendências em voga.
Dia 11 de fevereiro, a imprensa internacional reportou texto enviado pela revista americana “Variety”, especializada em cinema. O artigo, assinado pelo Sr. Jay Weissberg, critica duramente o filme “Tropa de Elite”. Aspectos técnicos são apontados como desabonadores na opinião do autor. Cenas como a mulher grávida falando da bolsa que rompe são vistas como piegas, a fotografia apresenta cores saturadas, a câmera não pára nunca, muda de foco toda hora... Além disso, a abordagem de José Padilha seria tida como fascista. “(...) Ainda que o filme tenha sido o mais visto de 2007 no Brasil, o público de filmes de arte não deve perdoar o inescapável ponto-de-vista de direita", aduz Weissberg, e arremata que “... os policiais comuns são simplesmente corruptos, os assistentes sociais, lamentavelmente inefetivos e ingênuos e os jovens ricos que fumam maconha são tão maus quanto os traficantes das favelas. Apenas o Bope pode salvar a cidade, mas antes ele precisa remover cirurgicamente qualquer coisa que se assemelhe a um coração".
Sobre o texto infeliz do crítico americano, nada direi... Creio que a 58ª edição do Festival de Berlim já o fez, conferindo o “Urso de Ouro”, em sua categoria principal, melhor filme, ao nosso longa-metragem. Caso encerrado!
O que mais me causa indignação - para não dizer asco - é tal postura encontrar eco entre brasileiros. Não me refiro a organizações como “Tortura Nunca Mais” e outras do gênero, que se alimentam desse nicho, como abutres que são. Com esses, que logo saíram em coro contra o diretor José Padilha, nem perco meu tempo, porque são um bando de parasitas, que se proliferam de forma desmedida.
Quero aqui me dirigir aos famosos “intelectuais”, que usam e abusam de suas colunas diárias, seus espaços em grades de programação em rádio, T.V. e Internet para propalar suas teorias sempre envenenadas por seus eternos preconceitos sobre tudo e todos.
Pergunto-lhes, o que está em análise? A ficção de Padilha? A tragédia social do Rio (não menos que a de São Paulo)? Ou o velho maniqueísmo ideológico: "Direita X Esquerda"?...
Pois bem, recuso-me a discutir sobre o aspecto ficcional da obra, já que iniciei o artigo falando em democracia, e a liberdade de criação artística e de expressão fazem parte desse contexto;
Se a questão é o impacto da obra no cenário social, o estímulo à violência etc., desculpem-me, a tal violência não foi criada na tela, mas ali reproduzida com pinceladas de dramaturgia;
Se, entretanto, o foco estiver no plano ideológico - é o que parece -, lamento. Lembrem-se, o cinema já glamorizou tantos bandidos, inspirados na ficção e na realidade, violentos como o comandante de fração do BOPE, ou mais. Lembremos: Lúcio Flávio, Che Guevara, Luz-Vermelha, Lamarca, a patota seqüestradora do “Que É Isso, Companheiro”, entre os mais célebres. Alguns defendidos até pela "História", que se molda com os ventos de cada governo. O que tinham de melhor que o Capitão Nascimento para pouparem os respectivos diretores de ataques similares? Seria exclusivamente o mote ideológico, a bandeira erguida?
Concluo, pedindo que nos poupem de sua retórica hipócrita, sempre criticando tudo que vá de encontro a seus ideais em prol da falência completa das instituições. A vocês, repito a frase em que acredito e que certamente cruzará inócua o vácuo existente entre suas orelhas: A diferença entre o certo e o errado não é a mesma entre a direita e a esquerda.