Devaneios, questão psicológico-filosófica.

A alma

Estive lendo um pouco sobre a psicologia analítica de Carl Gustav Jung e me ocorreu um questionamento interessante, nunca pensei sobre este assunto, mas a questão é basicamente esta: “A alma envelhece?”.

Vocês já se perguntaram quantos anos têm sua alma. Bem, comecei a fazer algumas conjecturas leigas e filosofar sobre o assunto, comigo mesmo, baseando-me em alguma coisas ditas por Jung.

A psicologia analítica fala muito sobre o inconsciente coletivo, que é a camada mais profunda da psique humana; fala também sobre os arquétipos, que são modelos primordiais presentes dentro do inconsciente coletivo e que seriam comuns a todas as pessoas através das épocas. É atribuída também (filosoficamente) a estes arquétipos, a centelha inicial que originou mitos similares em culturas distantes entre si até mesmo através do tempo.

Realmente lembro-me de quando ouvi as estórias de Aquiles (grego) e Sigfrid (nórdico); estes dois vultos mitológicos possuem algumas similaridades, como por exemplo: o fato de ambos terem se tornado invulneráveis; Aquiles ao ser mergulhado no rio místico chamado estige, deixando apenas o tendão do calcanhar por onde sua mãe o segurava para fora das águas. Este lugar, o “calcanhar de Aquiles” tornou-se a única parte de seu corpo por onde ele poderia ser derrotado. Todos já conhecem o fim da estória.

Já Sigfrid, após matar o dragão Fafnir e banhar-se no sangue da fera tornou-se imortal, entretanto, havia um pequeno lugar em suas costas que não recebeu o sangue do dragão, pois foi coberto por uma folha (ver a saga O anel do Nibelungo, de Richard Wagner) e como seu equivalente grego aquele ponto foi o único local por onde o herói poderia ser derrotado e morto.

Mas o que isso tem a ver com a minha pergunta inicial; “A alma envelhece?”. Já vou chegar lá; contei sobre estes dois vultos mitológicos para mostrar que eles se encaixam perfeitamente no arquétipo do herói; quase todas, senão todas as culturas que desenvolveram mitologias possuem uma personalidade humana ou meio-humana que desafiou vontades “superiores” ou realizou grandes feitos tidos como impossíveis.

Assim como o arquétipo do herói, existem outros como o da morte por exemplo, personificado em Hades, Loki, Anúbis e tantos outros nesta linha.

O inconsciente coletivo teria uma simbologia e se manifestaria através destes símbolos, geralmente por meio de sonhos, mas não exclusivamente. Para fazer a ligação da questão levantada por min inicialmente com tudo isso que estou dizendo, basta saber que este mesmo inconsciente coletivo seria ou é a camada mais profunda da alma humana; ora, todos nós temos uma alma e por extensão teríamos também em nós este inconsciente coletivo com suas “imagens primordiais”, outro nome para os arquétipos. Portanto todos estaríamos sujeitos a manifestação de seus símbolos não importando se a pessoa era um grego do século 6 a.C ou um brasileiro em pleno século 21 d.C, visto que estas manifestações estariam atreladas somente a alma, independente de tempo (idade e eras), espaço, cultura ou intelectualidade.

Agora vem o ponto chave; supondo que a alma humana não envelheça, antes, mantenha-se completamente formada desde o primeiro instante, no momento exato da concepção da vida (e isto foge totalmente a minha capacidade de entender). Isso daria condições de mesmo uma criança por mais jovem que fosse manifestar os símbolos do inconsciente, visto que eles já estariam ali dentro de sua alma formada, muito embora seu corpo físico e suas capacidades físicas e mentais intelectuais não estivessem.

Com o tempo e a aquisição de entendimento, cultura e outras variáveis o ser humano pensaria que sua alma envelhecia juntamente com o seu corpo físico e que por isso sua alma estaria aprendendo e ou registrando todas as suas conquistas em todos os campos da vida, reutilizando e devolvendo em forma de sonhos e outras experiências, quando na verdade à medida que o homem avança em dias o que estaria ocorrendo é que ele vai gradativamente liberando parte de uma miríade de caminhos psicossomáticos para uma alma que já estaria de permitindo préviamente cada um destes passos.

Na verdade tudo que eu disse aqui não passa de uma idéia que visa apenas levantar uma questão e trazer à luz um debate organizado ou simplesmente uma pequenina reflexão interior.

Gostaria de receber esclarecimentos e comentários.

Obrigado.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 28/02/2008
Reeditado em 28/02/2008
Código do texto: T879893