A Festa de São Benedito

A festa de São Benedito existirá enquanto existir Tietê, cidade que nasceu juntamente com a Capela, quando existiam escravos e Imperador e, ainda nem havia aberto suas “porteiras” aos atuais donos deste chão.

A administração atual, aos trancos e barrancos, terá vida máxima de quatro anos. Pelo menos é o que se espera. Ou será que o prefeito que não foi eleito, terá direito a reeleição? Ainda que o absurdo aconteça, será irrelevante à Festa. Em oito anos todo mal terá passado e esta terra poderá novamente abraçar seus donos morais cujo suor a fertilizou, a fecundou e a fez tudo brotar.

Reportar-me-ei a festas anteriores, em virtude da grande mudança na condução do evento que é parte riquíssima de nossa cultura (refiro-me àqueles que têm alma brasileira) que parte da elite não sabe aproveitar e outra simplesmente desrespeita acreditando que ainda se vive no século passado, onde não se punia preconceituosos arrogantes.

É sempre bom lembrar que preconceito é crime e qualquer cidadão que se sinta vítima, deve procurar a delegacia de policia e registrar queixa. E, se possível, informar à ONG’s que tratam do assunto.

Final de setembro de 2005, sol escaldante no céu azul tieteense e rumores diversos (a festa vai acabar, o povo não pode entrar na cidade...) circulavam de boca em boca pelos nativos. Comerciantes ansiosos tentavam adivinhar o desfecho do dia mais movimentado da cidade: estoques intactos, intocáveis panelões de arroz e feijão, mesas esmeradas e impecáveis a espera da multidão faminta de todos os anos. Quase duas da tarde e nada: a Rafael de Campos permanecia como todos os domingos e feriados: linda, limpa e morta!

Forasteiro para gastar dinheiro, movimentar o comércio, alentar os comerciantes, não se via um. O vizinho à beira de um ataque de nervos por não saber como se livrar do prejuízo, nem o que fazer com tanta comida, caprichosamente preparada.

A bem da verdade, medidas duras foram anunciadas para conter a fúria negra na possível intenção de “destruição” na invasão anual da Cidade Jardim. Dessa vez saberiam que na cidade tem autoridade. Exagero à parte, todos sabem que as pessoas que vêem à festa, são pessoas honestas, trabalhadoras, como a maioria do povo brasileiro. Só não são arianas: pele alva feito neve, olhos azuis como o céu de anil... Intriga-me o fato de alguém conceber a idéia de que dentre cinqüenta mil pessoas, não deveria existir um ou outro baderneiros!

É a mistura – branco, negro e índio - é a raça brasileira que tornou a terra bruta em solo fértil e desejado por imigrantes que rapidamente enriqueceram e agora fecham os olhos a quem lhes deu tudo! Quem não trabalhou arduamente neste chão? Porém, poucos detêm o fruto gerado pelo suor de todos!

Entre os visitantes, obviamente, existem os que botam as unhas de fora. Negar isto é burrice! Entretanto, para estes, as policias e a lei, que competentemente cuidam da segurança da população local. Todos que cometem crimes - tenham mais ou menos traços de qualquer etnia - devem e são punidos no tempo da justiça. Evitar que ocorram crimes é impossível até mesmo para Deus, já que foi no paraíso, no Éden, que ocorreu o primeiro!

Como não aparecia nenhuma cara diferente, resolvi descer a Rafael de Campos cuja costumeira frieza prevalecia em quase toda sua extensão. No largo São Benedito tinha uns poucos quase brancos, outros quase negros e alguns quase italianos.

A praça – o jardim - ameaçava abortada reação através do samba que caras brasileiras extraiam de qualquer objeto. Desci a Beira Rio, atravessei a Ponte e fui até o reino da festa dos bois – FAIT - uma melancolia só!

Parecia enterro de ídolo nacional em berrante contraste com badulaques, sapatos (!) e roupas multicoloridos, certamente comprados em suaves prestações na C&A.

São Pedro transcreveu em Apocalipse a sentença de Deus à Laudicéia: “vomitar-te-ei porque não és quente nem fria, és norma!” Norma será a festa este ano e enquanto a atual administração estiver pendurada na ambigüidade (pelo menos ao leigo) das leis eleitorais. Quem não foi eleito, pelas leis gramaticais, definitivamente não poderá ser reeleito. Portanto, a “mornidade” tem vida curta.

Mas nem por isso, creio, São Benedito mandará aos espetões de Satanás – ao inferno em chamas colossais e avassaladoras - aqueles que lhe causou arranhões e tristezas. Pois sabe de sua superioridade absoluta em contraponto à transitoriedade do poder capenga.

Enquanto houver fé católica, haverá São Benedito. São Benedito genuíno, verdadeiro, exatamente como é: negro, feliz e solidário. Não adianta tentarem fazê-lo loiro, nem triste, nem mesquinho.

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Obs.:

Este artigo foi publicado num jornal local e trouxe-me profunda tristeza