ASSIM, NÃO DÁ 1

Essa intermitência moral (isso mesmo) que assola o Brasil corre um sério risco de cair na perenidade. Tudo, amigo, parece às avessas. Da esquerda, do centro, da direita, pipocam manobras rasteiras nas quais, com as devidas exceções, o fim é a difusão da mentira, da farsa, da empulhação.

As alegorias políticas ousam cada vez mais. Por exemplo, de um lado, postam-se os arautos do pensamento único – os “consentinos” – cuja síntese pragmática é: “a coisa é, e podemos explicar”. Aferram-se a uma espécie tacanha de fundamento da racionalidade na base do pesar, medir e contar. Destarte, nossa grande fatalidade é o mercado. Nessa perspectiva, o mundo vai muito bem, é uma verdadeira maravilha, basta termos juízo e mergulharmos nos sagrados jogos do custo-benefício.

Na outra ponta, esperneiam os “dissensóides”, levantando os dedos, dando sopapos no ar e vociferando: “negativo, as coisas não são bem assim”. O problema maior dessa turma é que fica no barulho. Tente encontrar um mínimo de identidade aqui e seu esforço será embalde. Falta, sim, um rosto, um programa consistente. Lamento dizer, mas não se enxerga um espectro sequer. Saem por aí sem forças, desorganizados, difusos. O pior é que cada um se julga o portador das verdadeiras saídas. No fundo, reina um tipo bem sem-vergonha de “sebastianismo”.

Assustados (alguns, infelizmente, até de cócoras) estamos nós, o povo. Não reagimos, não levantamos nossas forças, não esmagamos essas baratas da politicalhice. Salvo engano, foi Rui Barbosa quem afirmou: “a politicalha é a malária de um povo cuja moralidade estragou”. Portanto, eu, você, todos nós, somos responsáveis também por tudo o que está acontecendo. Até quando vamos continuar fingindo? A cordialidade dos hipócritas é o encapotamento de seus truques.