Velhos carnavais
Quando a gente começa a sentir saudades de fatos e circunstâncias do passado é um ponderável sinal de velhice. Mesmo assim, têm coisas de tempos passados que não se encontra mais hoje em dia. Recentemente, em fevereiro, Carmen, minha mulher, e eu assistíamos o carnaval pela tevê quando começamos uma série de comparações entre o hoje e o ontem. Hoje, por exemplo, a maioria dos clubes está desarticulada ou falida o que inviabiliza a contratação de uma boa orquestra para realizar um ou dois bailes de carnaval.
Recordo os grandes bailes de clubes gaúchos. Até a década de setenta o carnaval era excelente (Teresópolis, Glória, Petrópolis, SACC, SAT, Ginástica, Atiradores, etc.) quando os bailes das três ou quatro noites eram acompanhados de jantares, salgadinhos, etc. Em Bagé havia "carreteiro" e em São Gabriel, churrasco.
Recordo numa cidade de interior, onde morei, levei minha filha ao “baile infantil” e ao invés de orquestra havia apenas um gaiteiro teuto-brasileiro e um cara tocando tambor, que cantavam “Aurora” "Jardeineira" e “Mamãe eu quero” entremeadas de rancheiras gauchescas.
Em outra cidade fluvial, havia o “baile da praia”. Na primeira noite era baile social, de terno, gravata e músicas de salão. Hoje o que temos? O carnaval de salão é praticamente nulo, e o de rua fica restrito às escolas-de-samba, onde o povo assiste mas não participa.
Hoje o carnaval do Brasil é mais coisa para turista do que uma festa popular. No Rio, São Paulo e Porto Alegre, são as escolas e blocos, onde você paga ingresso numa arquibancada de risco para ver passar, sem conhecer a letra da música, apenas saracoteando no ritmo e no ruído.
Em Salvador, especialmente nos circuitos Barra-Ondina e no Campo Grande, domina o Axé-music, e você pode acompanhar os caminhões dos trios que tocam música eletrônica. Lá você pode acompanhar o cortejo, desde que compre o “abadá” do grupo, que não sai por menos de R$ 60. Com os “sambas-enredo” e a Axé-Music a MPB perde espaços.
Antigamente era diferente. Desde dezembro as rádios e tevês tocavam as novas marchinhas do carnaval que se aproximava. A gente se preparava, comprando uma camisa adequada para os bailes ou carnaval de rua, adquirindo máscara, lança-perfume (que hoje consideram droga), confete e serpentina. Estava montado o “kit carnaval”. Hoje é diferente.
Os jovens nem sabem mais o que é carnaval, vão para a praia ou se entopem de música americana nas danceterias. Antes, em Porto Alegre, havia o corso. Meu pai apanhava o carro, arriava a capota e percorria um circuito de várias ruas da capital, onde pessoas sentadas à beira da calçada jogavam confete e serpentina.
O lança-perfume era jogado com cuidado nas costas (e nas pernas) das garotas, pois se fosse aos olhos ardia terrivelmente. Morávamos no centro, ali na Borges de Medeiros, na capital, onde ocorria o desfile dos blocos e das tribos. Nossa sacada no terceiro-andar parecia que ia desabar, tamanha a afluência de parentes e amigos que para lá se deslocavam. Se o bloco fosse bom, a gente podia sair atrás sambando até a dispersão.
Infelizmente, isso que se vê hoje por aí, pode ter o nome que tiver, mas não é carnaval!