1968 - 2008
Geraldo Vandré - Imagem da internet
Quarenta anos nos separam hoje daquele que foi um ano especial e enigmático na história do Brasil e do mundo. No Brasil nem o ano de 1964, quando ocorreu o golpe militar em 31 de março, ficou tão marcado como o de 1968. No exterior talvez o acontecimento mais marcante tenha sido a estúpida Guerra do Vietnã, que os Estados Unidos, com todo o seu armamento moderno e sofisticado, além de sua soberania, acabaram perdendo, resultando isso tudo em um número incalculável de mortos e feridos.
Aqui, na nossa pátria amada mãe gentil, vivíamos um período onde imperavam os festivais de Música Popular Brasileira promovidos pela TV Record de São Paulo, sob a batuta de Paulo Machado de Carvalho Filho. Na verdade, o primeiro deles se chamou “I Festa da Música Popular Brasileira” e foi realizado nos meses de novembro e dezembro de 1960 no Grande Hotel, em Guarujá/SP, com promoção da TV Record. Ganhou a música “Canção do Pescador” de Newton Mendonça, interpretada por Roberto Amaral (alguém lembra?). Depois, somente em março e abril de 1965 a TV Excelsior realizou o “I Festival Nacional de Música Popular Brasileira”, sendo a grande vencedora, “Arrastão” de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, na voz de Elis Regina.
Em 1966 a TV Record realizou aquele que talvez tenha sido o mais importante de todos os festivais, acontecendo um fato inédito na grande final do dia 10 de outubro, uma segunda-feira. “Disparada” (Geraldo Vandré) e “A Banda” (Chico Buarque) ficaram com o primeiro lugar, o famoso empate técnico. Só que, pelo resultado do júri, uma das duas músicas foi a vencedora por sete votos contra cinco, e o empate foi coisa, digamos assim, arranjada.
Nessa época dos festivais, que durou até o ano de 1972, com o VII Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela TV Globo, os estudantes universitários e os secundaristas eram extremamente politizados e antenados com os fatos que ocorriam em nosso país — acentuadamente depois do ocorrido em 1964 — quando os militares tomaram o poder de forma alucinada, com seus tanques e seus fuzis. E a Era dos Festivais foi a ponte que esses estudantes encontraram para lançar seus protestos a quem quisesse ouvir. Isso tudo compactuado por uma geração de compositores e intérpretes totalmente descompromissados com o regime como Geraldo Vandré, Chico Buarque, Edu Lobo, Vinícius de Moraes, Newton Mendonça, Carlos Lyra, Ruy Guerra, Nara Leão, Elis Regina, Théo de Barros, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Milton Nascimento e muitos outros (Gonzaguinha e Ivan Lins chegaram depois). Estudantes, compositores e intérpretes se completavam mutuamente tendo como “mãezona” a TV Record, da família Machado de Carvalho, que em momento algum da história se alinhou com a ditadura, diferentemente da TV Globo, que era como se fosse o braço direito do regime militar (aliás, como ainda é hoje, só que com outro regime). Tanto que a TV Globo conseguiu destruir por completo tudo aquilo de bom e saudável que havia sido construído pela Excelsior e pela Record.
Em 1968, quando se realizou o IV Festival da Música Popular Brasileira pela TV Record, nos meses de novembro e dezembro, a música vencedora pelo júri especial foi “São, São Paulo meu amor” de Tom Zé, interpretada por ele mesmo. A final ocorreu no dia 9 de dezembro com a platéia ensandecida pela vitória do baiano e sua homenagem à cidade de São Paulo (uma bela estratégia, sem dúvida). Inacreditavelmente, quatro dias depois, 13 de dezembro, foi consolidada a ditadura militar em reunião presidida pelo presidente Costa e Silva no Palácio das Laranjeiras, Rio de Janeiro. Essa reunião antecedeu a edição do Ato Institucional número 5, o AI-5, que permitiria fechar o Congresso por tempo indeterminado. Foi a fase mais dura e repressiva da ditadura militar, com a adoção da tortura, acobertamento de sumiços jamais desvendados e, entre tantos outros absurdos, o esmagamento de todas as formas de protestos políticos de estudantes universitários e secundaristas nas ruas. Tudo sob o amparo e o “olhar complacente” do AI-5.
1968 foi realmente o ano em que a ditadura militar brasileira atingiu seu auge e, também, o ano das moças de minissaia, da pílula anticoncepcional, do movimento feminista, dos protestos em todo o mundo contra a famigerada Guerra do Vietnã, entre tantos outros acontecimentos importantes. Foi o ano em que os jovens sonhavam e lutavam por um mundo melhor, muitas vezes cometendo excessos. Mas quem podia criticá-los ao os ver enfrentando com pedras e paus (coquetel Molotov era coisa de fino trato) as milícias armadas até os dentes? E muitos morrendo por isso, por uma causa que todos sabiam existir.
No ano de 2000 a Rede Globo tentou retornar com os festivais (que havia destruído), e foi um verdadeiro fracasso comercial, fracasso na qualidade musical e, também, de público. Foi chamado de “Festival da Música Brasileira” e ocorreu nos meses de agosto e setembro. O maestro Julio Medaglia cita que “foi um festival armado com pirotecnias, efeitos e platéias artificiais, com a Globo pensando que poderia recuperar o que havia destruído em anos”. A final, realizada em 16 de setembro, teve como vencedora a música “Tudo bem, meu bem” de Ricardo Soares de Carvalho, interpretada por ele mesmo. Em segundo ficou “Morte no escadão” de José Carlos Guerreiro e em terceiro “Tempo das águas” de Valmir Ribeiro de Carvalho. Você consegue lembrar de alguma delas? Não? Nem eu!
Magro, músico e cantor do MPB-4, comentou que “a diferença entre os festivais da Record e os que se fizeram depois é que naqueles, a música mandava. Quando o processo se inverteu, acabou”.
E 2008? Bem, esse é um ano onde a maioria de nossos jovens estudantes secundaristas e universitários são simplesmente rebeldes sem causa definida, alcoólatras inconsequentes, muitas vezes drogados, incapazes de se ligar com o que acontece ao redor deles mesmos e, pior de tudo, totalmente desinteressados em aprender o que quer que seja. É isso que me assusta e chega a me deixar aterrorizado com o que ainda pode vir por aí. Enquanto em 1968 a classe estudantil sabia o que fazia e tinha princípios éticos enraizados dentro de si, brigando por uma sociedade mais justa, e algumas vezes chegando até a conseguir, o que vemos hoje? Nada, absolutamente nada. E nosso País cada vez mais nas mãos de corruptos, com uma justiça cega que não consegue acompanhar nem os passos de uma tartaruga velha, brincando com nossa autoestima e fazendo crer que o Brasil é mesmo um país de tolos.
Como comentei no início deste texto, o último dos festivais daquela primeira fase foi o VII FIC, realizado pela TV Globo no Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Dividiram o primeiro lugar na fase nacional: “Fio Maravilha” de Jorge Ben, com Maria Alcina e “Diálogo” de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, interpretada pelo próprio Baden, mais Tobias e Cláudia Regina. Na disputa com a representante internacional, perdeu para “Nobody Calls Me a Prophet”, interpretada por David Clayton Thomas, ex-crooner do Blood, Sweat and Tears. Esse festival foi o primeiro transmitido em cores para o Brasil e para diversos países. Para se ter uma idéia das idiotices praticadas pela censura da época, reproduzo aqui uma recomendação de um dos censores: “Quero avisar vocês que qualquer cantora com decote avantajado não vai poder entrar no palco. Os decotes do ano passado não serão mais permitidos. Esse é o primeiro ano em que o festival vai ser apresentado em cores, e um decote avantajado em cores é muito mais imoral que um decote avantajado em preto-e-branco” (sic). Provocativamente, as apresentadoras Arlete Sales e Maria Cláudia chamaram a atenção, não pelas roupas excessivamente coloridas, mas, sim, pela ousadia dos decotes usados. E ninguém lhes chamou a atenção, talvez por seus atrativos.
O psicanalista-jornalista-teatrólogo Roberto Freire, que foi jurado no VII FIC em 1972 declarou, entre outras afirmações, que “os festivais têm o significado de um fato histórico com uma importância bem superior ao que se imaginava. Os jovens não sabem que Chico Buarque nasceu num festival (o de 1966 na TV Record) e é preciso que eles saibam a força que isso teve, qual foi a luta, única no mundo, para se operar essa revolução na Música Popular Brasileira. Sinto que no Brasil os fatos acontecem e a história só registra o que interessa ao poder. É muito triste. Os jovens universitários precisam saber que foram universitários brasileiros que derrubaram a ditadura. Não foram os operários que vieram muito depois. Os estudantes lutaram permanentemente contra a ditadura, foram presos, torturados, mortos e mantiveram a luta. Os universitários de hoje precisam saber disso”.
No dia primeiro de outubro de 1972 terminava o último festival de uma Era. A Era dos Festivais saíra do ar e parece que com ela saíra do ar também toda aquela geração politizada que não aceitava corruptos e ladrões no poder. A nossa juventude nunca mais foi a mesma.
Em 1968 contava eu com 19 anos de idade, no auge da minha juventude, estudante secundarista de Química Industrial, onde me alinhava com os preceitos criados, difundidos e praticados por todos aqueles que desejavam um país melhor, livre das barbaridades que eram praticadas desde o golpe de 1964.
Ah! Ia esquecendo. Vocês querem saber quem ganhou o festival de 1966? Foi “A Banda”, que contou com 7 votos dos jurados contra 5 para “Disparada”. E por que deu empate? Porque Chico Buarque disse para quem quisesse ouvir que, caso sua música ganhasse de “Disparada”, ele iria devolver o prêmio, pois a considerava superior à sua “A Banda”. Para evitar maiores problemas, fez-se o acerto e todos ficaram satisfeitos e felizes. Naquela época o caráter ainda era coisa séria.
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Fontes de consulta:
- Recortes de jornais e revistas da época
- Arquivo pessoal do autor do texto
- Livro “A ERA DOS FESTIVAIS” de Zuza Homem de Mello, Editora 34 – São Paulo
Geraldo Vandré - Imagem da internet
Quarenta anos nos separam hoje daquele que foi um ano especial e enigmático na história do Brasil e do mundo. No Brasil nem o ano de 1964, quando ocorreu o golpe militar em 31 de março, ficou tão marcado como o de 1968. No exterior talvez o acontecimento mais marcante tenha sido a estúpida Guerra do Vietnã, que os Estados Unidos, com todo o seu armamento moderno e sofisticado, além de sua soberania, acabaram perdendo, resultando isso tudo em um número incalculável de mortos e feridos.
Aqui, na nossa pátria amada mãe gentil, vivíamos um período onde imperavam os festivais de Música Popular Brasileira promovidos pela TV Record de São Paulo, sob a batuta de Paulo Machado de Carvalho Filho. Na verdade, o primeiro deles se chamou “I Festa da Música Popular Brasileira” e foi realizado nos meses de novembro e dezembro de 1960 no Grande Hotel, em Guarujá/SP, com promoção da TV Record. Ganhou a música “Canção do Pescador” de Newton Mendonça, interpretada por Roberto Amaral (alguém lembra?). Depois, somente em março e abril de 1965 a TV Excelsior realizou o “I Festival Nacional de Música Popular Brasileira”, sendo a grande vencedora, “Arrastão” de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, na voz de Elis Regina.
Em 1966 a TV Record realizou aquele que talvez tenha sido o mais importante de todos os festivais, acontecendo um fato inédito na grande final do dia 10 de outubro, uma segunda-feira. “Disparada” (Geraldo Vandré) e “A Banda” (Chico Buarque) ficaram com o primeiro lugar, o famoso empate técnico. Só que, pelo resultado do júri, uma das duas músicas foi a vencedora por sete votos contra cinco, e o empate foi coisa, digamos assim, arranjada.
Nessa época dos festivais, que durou até o ano de 1972, com o VII Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela TV Globo, os estudantes universitários e os secundaristas eram extremamente politizados e antenados com os fatos que ocorriam em nosso país — acentuadamente depois do ocorrido em 1964 — quando os militares tomaram o poder de forma alucinada, com seus tanques e seus fuzis. E a Era dos Festivais foi a ponte que esses estudantes encontraram para lançar seus protestos a quem quisesse ouvir. Isso tudo compactuado por uma geração de compositores e intérpretes totalmente descompromissados com o regime como Geraldo Vandré, Chico Buarque, Edu Lobo, Vinícius de Moraes, Newton Mendonça, Carlos Lyra, Ruy Guerra, Nara Leão, Elis Regina, Théo de Barros, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Milton Nascimento e muitos outros (Gonzaguinha e Ivan Lins chegaram depois). Estudantes, compositores e intérpretes se completavam mutuamente tendo como “mãezona” a TV Record, da família Machado de Carvalho, que em momento algum da história se alinhou com a ditadura, diferentemente da TV Globo, que era como se fosse o braço direito do regime militar (aliás, como ainda é hoje, só que com outro regime). Tanto que a TV Globo conseguiu destruir por completo tudo aquilo de bom e saudável que havia sido construído pela Excelsior e pela Record.
Em 1968, quando se realizou o IV Festival da Música Popular Brasileira pela TV Record, nos meses de novembro e dezembro, a música vencedora pelo júri especial foi “São, São Paulo meu amor” de Tom Zé, interpretada por ele mesmo. A final ocorreu no dia 9 de dezembro com a platéia ensandecida pela vitória do baiano e sua homenagem à cidade de São Paulo (uma bela estratégia, sem dúvida). Inacreditavelmente, quatro dias depois, 13 de dezembro, foi consolidada a ditadura militar em reunião presidida pelo presidente Costa e Silva no Palácio das Laranjeiras, Rio de Janeiro. Essa reunião antecedeu a edição do Ato Institucional número 5, o AI-5, que permitiria fechar o Congresso por tempo indeterminado. Foi a fase mais dura e repressiva da ditadura militar, com a adoção da tortura, acobertamento de sumiços jamais desvendados e, entre tantos outros absurdos, o esmagamento de todas as formas de protestos políticos de estudantes universitários e secundaristas nas ruas. Tudo sob o amparo e o “olhar complacente” do AI-5.
1968 foi realmente o ano em que a ditadura militar brasileira atingiu seu auge e, também, o ano das moças de minissaia, da pílula anticoncepcional, do movimento feminista, dos protestos em todo o mundo contra a famigerada Guerra do Vietnã, entre tantos outros acontecimentos importantes. Foi o ano em que os jovens sonhavam e lutavam por um mundo melhor, muitas vezes cometendo excessos. Mas quem podia criticá-los ao os ver enfrentando com pedras e paus (coquetel Molotov era coisa de fino trato) as milícias armadas até os dentes? E muitos morrendo por isso, por uma causa que todos sabiam existir.
No ano de 2000 a Rede Globo tentou retornar com os festivais (que havia destruído), e foi um verdadeiro fracasso comercial, fracasso na qualidade musical e, também, de público. Foi chamado de “Festival da Música Brasileira” e ocorreu nos meses de agosto e setembro. O maestro Julio Medaglia cita que “foi um festival armado com pirotecnias, efeitos e platéias artificiais, com a Globo pensando que poderia recuperar o que havia destruído em anos”. A final, realizada em 16 de setembro, teve como vencedora a música “Tudo bem, meu bem” de Ricardo Soares de Carvalho, interpretada por ele mesmo. Em segundo ficou “Morte no escadão” de José Carlos Guerreiro e em terceiro “Tempo das águas” de Valmir Ribeiro de Carvalho. Você consegue lembrar de alguma delas? Não? Nem eu!
Magro, músico e cantor do MPB-4, comentou que “a diferença entre os festivais da Record e os que se fizeram depois é que naqueles, a música mandava. Quando o processo se inverteu, acabou”.
E 2008? Bem, esse é um ano onde a maioria de nossos jovens estudantes secundaristas e universitários são simplesmente rebeldes sem causa definida, alcoólatras inconsequentes, muitas vezes drogados, incapazes de se ligar com o que acontece ao redor deles mesmos e, pior de tudo, totalmente desinteressados em aprender o que quer que seja. É isso que me assusta e chega a me deixar aterrorizado com o que ainda pode vir por aí. Enquanto em 1968 a classe estudantil sabia o que fazia e tinha princípios éticos enraizados dentro de si, brigando por uma sociedade mais justa, e algumas vezes chegando até a conseguir, o que vemos hoje? Nada, absolutamente nada. E nosso País cada vez mais nas mãos de corruptos, com uma justiça cega que não consegue acompanhar nem os passos de uma tartaruga velha, brincando com nossa autoestima e fazendo crer que o Brasil é mesmo um país de tolos.
Como comentei no início deste texto, o último dos festivais daquela primeira fase foi o VII FIC, realizado pela TV Globo no Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Dividiram o primeiro lugar na fase nacional: “Fio Maravilha” de Jorge Ben, com Maria Alcina e “Diálogo” de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, interpretada pelo próprio Baden, mais Tobias e Cláudia Regina. Na disputa com a representante internacional, perdeu para “Nobody Calls Me a Prophet”, interpretada por David Clayton Thomas, ex-crooner do Blood, Sweat and Tears. Esse festival foi o primeiro transmitido em cores para o Brasil e para diversos países. Para se ter uma idéia das idiotices praticadas pela censura da época, reproduzo aqui uma recomendação de um dos censores: “Quero avisar vocês que qualquer cantora com decote avantajado não vai poder entrar no palco. Os decotes do ano passado não serão mais permitidos. Esse é o primeiro ano em que o festival vai ser apresentado em cores, e um decote avantajado em cores é muito mais imoral que um decote avantajado em preto-e-branco” (sic). Provocativamente, as apresentadoras Arlete Sales e Maria Cláudia chamaram a atenção, não pelas roupas excessivamente coloridas, mas, sim, pela ousadia dos decotes usados. E ninguém lhes chamou a atenção, talvez por seus atrativos.
O psicanalista-jornalista-teatrólogo Roberto Freire, que foi jurado no VII FIC em 1972 declarou, entre outras afirmações, que “os festivais têm o significado de um fato histórico com uma importância bem superior ao que se imaginava. Os jovens não sabem que Chico Buarque nasceu num festival (o de 1966 na TV Record) e é preciso que eles saibam a força que isso teve, qual foi a luta, única no mundo, para se operar essa revolução na Música Popular Brasileira. Sinto que no Brasil os fatos acontecem e a história só registra o que interessa ao poder. É muito triste. Os jovens universitários precisam saber que foram universitários brasileiros que derrubaram a ditadura. Não foram os operários que vieram muito depois. Os estudantes lutaram permanentemente contra a ditadura, foram presos, torturados, mortos e mantiveram a luta. Os universitários de hoje precisam saber disso”.
No dia primeiro de outubro de 1972 terminava o último festival de uma Era. A Era dos Festivais saíra do ar e parece que com ela saíra do ar também toda aquela geração politizada que não aceitava corruptos e ladrões no poder. A nossa juventude nunca mais foi a mesma.
Em 1968 contava eu com 19 anos de idade, no auge da minha juventude, estudante secundarista de Química Industrial, onde me alinhava com os preceitos criados, difundidos e praticados por todos aqueles que desejavam um país melhor, livre das barbaridades que eram praticadas desde o golpe de 1964.
Ah! Ia esquecendo. Vocês querem saber quem ganhou o festival de 1966? Foi “A Banda”, que contou com 7 votos dos jurados contra 5 para “Disparada”. E por que deu empate? Porque Chico Buarque disse para quem quisesse ouvir que, caso sua música ganhasse de “Disparada”, ele iria devolver o prêmio, pois a considerava superior à sua “A Banda”. Para evitar maiores problemas, fez-se o acerto e todos ficaram satisfeitos e felizes. Naquela época o caráter ainda era coisa séria.
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Fontes de consulta:
- Recortes de jornais e revistas da época
- Arquivo pessoal do autor do texto
- Livro “A ERA DOS FESTIVAIS” de Zuza Homem de Mello, Editora 34 – São Paulo