Parlamento do Pica Pau - O Falatório - A Invasão dos Marcianos
A Invasão dos Marcianos
Informa-se o Reino de Pica Pau, que estamos a sofrer uma grande Invasão de Marcianos. As ditas criaturas têm aparecido de cara descoberta, são azuis, e vestem-se de forma elegante. Muitos têm sido encontrados misturados com os súbditos de pica Pau, pelo que se pede uma atenção redobrada no sentido de serem identificados.
Aparentemente a sua fisionomia é em tudo igual ao ser humano, estando por perceber se por dentro, também é igual, ou melhor , ou pior!
A situação anómala já foi comunicada ao Parlamento no sentido de se averiguar tão estranho acontecimento, e para que se possam tomar as adequadas medidas, no sentido de proteger, ou apresentar condignamente o Reino, conforme for a intenção da visita de nossos vizinhos de Marte.
A acalorada sessão do Parlamento trouxe ideias diversas e contraditórias; desde o Deputado Três Palmos que deixou a sua opinião em os exterminar pela força, até à Deputada Borboleta, que acha melhor averiguar ao pormenor a sua fisionomia ( e o resto ) e logo se vê se será melhor expulsar ou integrar!
Segundo a Deputada Xique, poderá ser um bom presságio a visita dos Marcianos, poderemos dialogar com eles e enriquecer nossa indústria e nosas ciência com os avanços tecnológicos que eles dominam. Surgiram de imediato algumas área da Pica Pau Consulting, com interesse no processo de estudo e troca de informação com os visitantes.
Nosso ilustre Agente 042, apresentou na sessão as conclusões da investigação secreta ordenada de imediato pelo reino. Segundo o seu relatório tudo não passa de especulação televisiva, com vista a aumentar as audiências de um canal televisivo, pelo que aconselha calma , e que se leia o relatório da investigação, que reza o seguinte:
A dita História da Invasão dos Marcianos é falsa e espalha terror no Reino de Pica Pau.
Às nove horas da noite de 30 de outubro de 1938. A rádio CBS - Columbia Broadcasting System - e suas afiliadas de costa a costa, transmitem, dentro do programa Radioteatro Mercury, A invasão dos marcianos. Na adaptação da obra A Guerra dos Mundos do escritor inglês H. G. Wells, centenas de marcianos chegam em suas naves extraterrestres a uma pequena cidade de New Jersey chamada Grover's Mill.
Era uma peça, literalmente. E os méritos públicos da adaptação, produção e direcção do programa foram para sempre creditados ao então jovem e quase desconhecido actor e director de cinema norte-americano Orson Welles.
No especial do Raditeatro Mercury da véspera do Dia das Bruxas de 1938 - denominado Mercury's Halloween Show -, usando somente sons e silêncios, foi representada uma invasão de marcianos sob a forma de uma cobertura jornalística. Todas as características do rádiojornalismo usadas na época – às quais os ouvintes estavam habituados e nas quais acreditavam – se faziam presentes:
reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de especialistas e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emotividade dos envolvidos, inclusive dos pretensos repórteres e comentaristas, davam a impressão de um fato, que estava indo ao ar em edição extraordinária, interrompendo outro programa, o radioteatro previsto. Na realidade, tratava-se do 17º programa da série semanal de adaptações radiofônicas realizadas por Orson Welles e o Radioteatro Mercury (ou Teatro Mercury no Ar) que explorava as técnicas jornalísticas com a ambientação sonora requerida pela linguagem específica do rádio.
Segundo o Agente 042, afinal, depois de todos estes anos, a ousadia ainda fascina. E a história da mídia passou a ter um antes e um depois... Esta foi a primeira vez que se colocou a imprensa a criar de raiz um facto jornalístico, explorando-o ao limite, e fazendo com que todos acreditassem tratar-se de verídico, mesmo que realmente nada ocorresse e ninguém conseguisse explicar onde estava a acontecer tão extraordinários factos…
Vão ser averiguados os factos relatados pelo Agente 042, e até novas informações desta coluna ‘O Falatório’, os súbditos devem manter-se calmos, e não entrar em revistas complicadas a qualquer ser que lhe pareça menos comum, para verificar se é Marciano…
Entretanto também será bom que os súbditos não se comportem de forma estranha, pois podem ser entendidos como Marcianos!
Carimbado e Assinado,
Quadrado da Hipotenusa
27/1/2008
Ideias e informações obtidas:
Gisela Swetlana Ortriwano é jornalista, doutora em Comunicação e Professora da Universidade de São Paulo. Este texto integra o livro : Rádio e Pânico A guerra dos Mundos, 60 anos depois
Especialistas brasileiros analisam o programa que mais marcou a História da mídia no Século XX Eduardo Meditsch (org.) Editora Insular.
Página do Leitor
Oiça as gravações obtidas das conversas dos Marcianos…
http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/9372
Sons cedidos cordialmente pelo nosso colaborador no Reino de Pica Pau, Nenúfar.