Processo de Modernização da Paris do Século XIX ( Texto, Engenharia Social)
Resumo: O processo de modernização foi um período marcado por grandes transformações urbanas e sociais, saudosismo e turbulências na transição da velha Paris em decadência, envolta na penumbra e no emaranhado de sujas vielas, por onde transitavam bêbados, drogados, miseráveis... E a Paris do futuro, do século XX, iluminada, expandida, superficial, dispersa, mas exuberante! Esse artigo procura discutir o planejamento urbano liderado por Haussmann, as falhas, as questões de cunho social, as relações de poder, o ideário pragmático personificado na figura do prefeito. Procura explicar também, os benefícios, malefícios e complexidade que marcou o processo de reconstrução de Paris.
PALAVRAS CHAVE: Modernidade, Transformação social, urbanismo.
Olhares espreitavam o movimento das significativas mudanças que cotidianamente ocorriam na cidade em transmutação. A saudade da velha Paris se fazia presente nas pessoas, ao observarem as mudanças bruscas e violentas que desnudavam a arquitetura e a estética dos lugares antes elegantes e sóbrios, como os boulevards e tantos outros espalhados pelos cantos da cidade. Os parisienses assistiam, estupefatos o surgimento imponente do novo modelo de
desenvolvimento urbano a exemplo dos logradouros comerciais, das vias públicas, das ruas asfaltadas e limpas, do ar puro em detrimento das ruas sujas e das praças escuras, aromatizadas por uma mistura de odores antagônicos, ínfima parte do cotidiano dos que resistiam às mudanças e ao neoparadigma citadino.
O novo e o velho conviviam concomitantemente e despertava na população reação diversa como: sentimentalismos, emoções, revoltas, apego às tradições, controvérsias, esperanças e expectativas do surgimento de uma nova metrópole. A cidade luz, efervescente que, contava com largas avenidas - para facilitar a rapidez do trafego - expansão da rede de esgotos e abastecimento de água, a sextuplicação da rede ferroviária - ligando todo o país a Paris e a todo o continente -, assim como também o crescimento da demanda de materiais como o aço e a madeira, a valorização dos terrenos, as novas oportunidades de emprego, o amplo afluxo internacional - possibilitado pela centralização dos entroncamentos – enfim, esses e outros benefícios foram possíveis mediante a ousadia, intrepidez e empreendimento do arquiteto Eugéne Haussmam. No entanto, a modernidade tem um preço e, nesse caso especifico, a classe menos favorecida, ou seja, a pobreza - sumariamente banida do centro da cidade pagou o alto preço de ter sido obrigada a abandonar suas moradias, mediante a expropriação. Onde se localizam as falhas do planejamento de Haussmam? Uma delas é bem perceptível e se refere às habitações populares. Isso porque, não foram suficientes para os pobres e os operários imigrantes - que ávidos por trabalho - fervilhavam por Paris. Esse fato demonstra também, que apesar dos grandes feitos, o processo de modernização urbana, conseguiu abrir arestas, principalmente pela inviabilidade de redistribuir a população e acomodá-la adequadamente. Dessa forma, as pessoas mais radicais evadiram para as regiões circunvizinhas. No entanto, é importante ressaltar, que essas regiões já contavam com um número elevadíssimo de pessoas.Segundo Benjamim,o ideal urbanístico de Haussmam, eram as visões em perspectiva através de longas séries de ruas. Isso corresponde à tendência que sempre de novo se pode observar no século XIX, no sentido de enobrecer necessidades técnicas, fazendo delas objetos artísticos (p. 41). Um outro ponto relevante a ser registrado é sobre as barricadas, que Cristiansen afirma, ser secundária a idéia de que as retas e amplas avenidas foram planejadas para evitar as barricadas e permitir o rápido deslocamento de tropas no caso de revoltas (...) diz que tanto Haussmam, quanto Napoleão estavam muito mais preocupados com o imperativo de expandir o acesso ao terminal ferroviário (...).Benjamim, entretanto, diz que a verdadeira finalidade de Haussmam era tornar a cidade segura em caso de guerra civil. Ele queria tornar impossível que no futuro se levantassem barricadas em Paris. No entanto, elas foram imprescindíveis na Revolução de Fevereiro (...), ressurgiram com a Comuna. Mais fortes e mais seguras do que nunca.(p.42)
Portanto, o projeto urbanístico de Haussmam, tornou a cidade de Paris um modelo de modernidade, embora a sua intenção em atrair os ricos para o centro da cidade e os pobres para os subúrbios, não tenha sido uma boa medida. Isso porque, o próprio desenvolvimento urbano efetivamente obrigou a importar mão -de obra. Fato esse, não previsto nos planos. E, o que ocorreu nesse período foi um aumento inaceitável dos preços em geral, além do aumento considerável dos aluguéis. Ainda assim, a determinação aliada às relações de poder possibilitou ao prefeito de Paris, a realização do seu ideal de transformar a cidade em penumbra em cidade luz, aquecer o desenvolvimento industrial e econômico, cuidar da beleza estética e da arquitetura, do artístico e cultural. Paris gastronômica e superficial? Sim, mas também renovada e promissora, embora a pobreza tenha sido a grande massa removida para longe da luminosidade das grandes avenidas.