Fidel
Fidel
Fidel Castro, aos 81 anos de idade, anunciou ontem que não aceitará mais ocupar os cargos de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe de Cuba. Exerceu o poder durante quase meio século, desde a vitoriosa revolução de 1º de janeiro de 1959, que derrubou a ditadura corrupta e sanguinária de Fulgêncio Batista.
Fidel Castro, ainda em vida, já é um vulto da História. É o último dos gigantes estadistas dos países emergentes do século 20. Homens como ele, Gamal-Abdal Nasser, Getúlio Vargas, Juan Perón, Josip Broz Tito, Jawarhal Nehru e outros, marcaram profundamente uma era da Humanidade.
A qualidade de vida que a revolução conduzida por Fidel proporcionou aos cubanos é inédita para qualquer país da América Latina, talvez do mundo, considerando-se a situação que encontrou em 1959 e os precários meios de que dispôs. O intransigente bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba ao longo dessas cinco décadas teria derrocado e posto de joelhos qualquer outra nação – mas Cuba resistiu. Usou toda a criatividade de seu povo para se adaptar à dureza, e avançou. Hoje ainda se vêem, circulando pela ilha, muitos automóveis e outros veículos norte-americanos e europeus dos anos 50, que vão sendo retificados pelos cubanos e permanecem úteis.
Cuba desenvolveu um sistema de educação capaz de fazer inveja – e faz mesmo – a muitos países do chamado Primeiro Mundo. Sua medicina é das mais evoluídas do planeta, e na área de saúde pública a ilha é referência mundial. Nos esportes, enfrenta potências de igual para igual, em Olimpíadas e Jogos Pan-Americanos. Nas artes em geral, cubanos com destaque mundial permanecem fiéis à revolução de Castro.
Há a questão do regime político cubano, denúncias de desrespeito a direitos individuais, a pena de morte para determinados crimes contra a segurança nacional. É necessário que esses assuntos sejam debatidos com conhecimento de causa, respeitando a soberania do país e o direito de os próprios cubanos decidirem seu destino e determinarem se querem ou não manter o regime castrista. Principalmente, deve-se discutir Cuba sem se deixar contaminar pela intensa propaganda anticubana, eivada de manipulações e mesmo de mentiras, fabricadas pela usina norte-americana de “verdades definitivas”.
É possível e provável que, encerrando-se a longa era de poder de Fidel Castro, ocorram modificações em Cuba. Mas elas deverão ser graduais. O “Comandante” ainda será ouvido sobre tudo o que for feito no país.