Literatura

Ela foi e continua sendo discutida, falada, analisada sob vários aspectos, idealizada por muitos que acham possuir só uma forma, também continua sendo desmistificada, como no início do século XX. Velha companheira de homens, mulheres e crianças de todos os tempos, o importante é que a Senhora Literatura está mais viva do que nunca.

E, talvez, nunca tenha estado tão viva e democratizada com o evento da internet. Temos não somente novos leitores como novos escritores surgindo. E aos mais refratários, ainda, à idéia e ao fato da internet ser também um benefício ocorrido no que tange a arte de escrever e ler, só é possível apontar o grande número de revistas culturais eletrônicas, e-books, sites literários e blogs, também literários, onde seus donos exercitam o prazer da escrita, da criação, lêem e comentam seus colegas.

Se por um lado há muita mesmice, repetição de temas, e uma certa pobreza de estilo, é certo dizer que muitos ainda estão em fase de sensibilização, e que a prática melhora o trabalho com a palavra, com o estilo, desenvolvendo, também, a auto-crítica. Aliás, esta é uma verdade desde antes do advento das publicações virtuais.

Leitura e escrita

A leitura deve sempre fazer parte desse universo criativo, até para que aquele que escreve tenha uma idéia do que já foi realizado, e o que está sendo criado contemporaneamente. Tanto textos de ficção em prosa e verso, como críticas, artigos, ensaios. Leitura sobre todos os assuntos que nos rodeiam, e também leitura de teoria literária. Se por um lado percebermos que pouco sabemos ainda, por outro, nada melhor que desenvolver uma bagagem de conhecimentos na área que desejamos participar, mesmo que a prática seja um lazer, sem projetos profissionais.

O importante é que este processo vai além do aspecto da leitura do mundo e do conhecimento teórico. Refiro-me ao refinamento espiritual e intelectual da pessoa que escreve e lê. Refiro-me também à possibilidade de participar da vida, da arte, ser um agente do deslocamento daquilo que está cristalizado na língua. Só a literatura proporciona isto.

Representação do real

A literatura é a representação do real. Segundo Barthes, em sua “Aula”, o real não é representável, mas demonstrável. E ainda com Lacan, o real é o impossível de ser atingido, escapa ao discurso.

E a história da literatura é a história de se tentar demonstrar este impossível, este real. É a afirmação do delírio, no salutar sentido de escapar ao aprisionamento da língua. E o deslocar-se é aparecer onde não se é esperado. É fazer sentido num espaço outro, reinventando as possibilidades, e impossibilidades. Como já dizia Cecília Meirelles, “a vida só é possível se reinventada”.

A publicidade também usa alguns dos recursos estilísticos usados pela literatura e trabalha com o imaginário, com imagens e textos, para vender seus produtos. Mas é um uso com uma finalidade já estabelecida. A literatura não precisa se ater à finalidades, até pode, mas não depende dela. Isso não quer dizer que um texto de uma determinada época, qualquer texto, ficção ou não, não represente uma visão de mundo. Tanto na publicidade, nosartigos jornalísticos, e na ficção em prosa ou verso, há uma explícita ou implícita leitura do mundo. Daí a necessidade de muita leitura em nossos dias, quando vivemos sob uma tempestade de informações na maioria das vezes repetitivas e apelativas para preconceitos e para o consumo desbragado de todo o tipo de mercadoria. Falo um pouco mais sobre isso num artigo recente sobre Educação para os Meios de Comunicação de Massa.

Dizem haver uma literatura que vende e outra bem menos popular. Sim, mas o valor intrínseco da arte da palavra não se mede em quem vendeu mais ou menos. No Brasil, infelizmente ainda é baixo o hábito de leitura na população, principalmente se levarmos em conta o número elevado de habitantes e o crescimento do acesso aos bancos escolares. Dados bem atualizados estão sendo estudados em pesquisas várias que mostram a importância de se cultivar no lar o constante contato com a leitura de textos literários.

Vasto campo de estudos

A Literatura é um campo onde nada é definitivo. Cada época e cada obra tem seus aspectos mais ou menos diferenciados. Há uma gama incrível de ensaios, teses, artigos sobre o cânon literário, advindos dos acadêmicos da área de Letras com leituras as mais diversas nos campos dos saberes humanos como Sociologia, Semiótica, Psicanálise. Mas é importante dizer que a literatura não é apenas feita dos textos eleitos por uma elite.

Infelizmente nossas faculdades passaram muitos anos deixando à margem de suas pesquisas diversos grandes autores. Aos poucos esta postura vem sendo revista. Inclusive, aos poucos, também, vão se revelando os novos autores que se fizeram e se fazem conhecer primeiramente pela internet. Este é um ponto importantíssimo de análise para aqueles que seguem a carreira de pesquisa em Letras: iniciar um estudo sobre o novo movimento mundial no fazer literário, ou seja, identificar, relatar e analisar este histórico momento quando mais uma vez o avanço tecnológico (vide o surgimento da imprensa) determina e/ou renova hábitos culturais.

Temos aí um vasto campo, seja pela quantidade de textos, pela forma como são divulgados, digeridos, e pelo processo de produção do texto, ou seja, sua gênese, como uma obra se origina. Aqui, neste caso da literatura que vem se fazendo no suporte internet, ou mesmo fora dela - muitas vezes - é na tela do computador, com um editor que apaga o texto original (outra opção seria abrir um novo documento para cada mudança). Verificamos neste ponto uma pauta para a Crítica Textual (disciplina que procura restaurar o texto original de um documento, que foi alterado no processo de cópia e recópia, escrita e reescrita).