DA TEXTUALIDADE...
A textualidade faz com que uma ocorrência linguística seja percebida como um todo significativo.
Lucie Didio
Se o que temos para dizer vem à luz através de Textos, podem-se compreendê-los como “discursos falados ou escritos, de qualquer natureza, dotados de unidades sociocomunicativas, semânticas e formais”. De modo que os mesmos abarcam os seguintes aspectos: o pragmático (funciona?); o semântico-conceitual (é coerente?) e o formal (é coeso?)
Tudo bem, mas o que faz de um texto, um Texto? A Textualidade. Nela, encontramos os fatores que nos garantem ser determinado texto não apenas justaposições de palavras, parágrafos e capítulos. São sete basicamente: a coerência, a coesão, a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade.
Destaco a coerência e a coesão. Aquela tem a ver com os “conceitos e relações subjacentes à superfície do texto”. Esta nada mais é do que “a manifestação linguística da coerência”, ou seja, é a sua “materialização”. Enquanto a coerência se atém às idéias (falo disto e não daquilo), a coesão se relaciona com a maneira de organizá-las. Só existe conectividade textual se tais elementos (coerência/coesão) estiverem, de fato, bem trabalhadas num texto.
A Linguística Textual é ferramenta imprescindível para estudarmos a problemática da textualidade. Quais os requisitos de que dispomos a fim de sabermos se nosso texto é mesmo Texto? Charoles concatenou quatro: a repetição, a progressão, a não-contradição e a relação. Prefiro, no entanto, a terminologia de Maria da Costa Val (Redação e Textualidade): Continuidade, Progressão, Não-Contradição e Articulação.
Texto que não retome elementos essenciais ao longo de sua construção, que, digamos, atire para todos os lados, não é texto. Retomar conceitos e ideias é crucial para se manter um nexo semântico do que pretendemos dizer. Isso, amigo, é a Continuidade.
A coisa, óbvio, não para aí. Ao se retomarem os elementos, algo novo há de ser acrescido. Do contrário, a Progressão vai por água abaixo. Alerta-nos Costa Val: “são esses acréscimos semânticos que fazem o sentido do texto progredir e que, afinal, o justificam”.
Não-Contradição é um princípio lógico irrefutável. Ora, ocorrendo contradições – internas ou externas -, foi-se a textualidade. Às vezes, o sujeito levanta uma tese e não consegue sustentá-la, os argumentos não passam de meras falácias. Faço, aqui, uma digressão, para citar certas falácias: Falácias de Dispersão – falso dilema, apelo à ignorância, derrapagem, pergunta complexa. Apelo a Motivos - apelo à força, apelo à piedade, apelo às consequências, apelo a preconceitos, apelo ao povo. Fugir ao Assunto - ataques pessoais, apelo à autoridade, autoridade anônima, estilo sem substância. Falácias Indutivas – generalização precipitada, amostra limitada, falsa analogia, indução preguiçosa, omissão de dados. Falácias Causais – depois disso, por causa disso, efeito conjunto, causa genuína mas insignificante, tomar o efeito pela causa, causa complexa. Falhar o Alvo - repetição de princípio, conclusão irrelevante, espantalho. Falácias de Ambiguidade – equívoco, anfibologia, ênfase. Erros Categoriais - falácia da composição, falácia da divisão. Non Sequitur - falácia da afirmação da consequente, falácia da negação da antecedente, falácia da inconsistência. Falácias da Explicação – invenção de fatos – irrefutabilidade, âmbito limitado, superficialidade. Erros de Definição - definição demasiado lata, definição demasiado restrita, definição pouco clara, definição contraditória e outras.
Por último, a textualidade exige Articulação, isto é, um texto precisa apresentar ideias que tenham a ver entre si, sem falarmos na articulação entre os elementos apresentados anteriormente. Havendo, portanto, exercícios constantes tanto de boas leituras como de escrita e reescrita, com certeza, nossa competência atingirá níveis satisfatórios. A gramática normativa vem depois.