Escola de tempo integral: funciona?

Educação é, sem dúvida, o pilar das sociedades. Investir em educação é investir na própria sociedade, no seu desenvolvimento, no seu futuro.

Assistimos, atualmente, um esforço dos governos federal, estaduais e municipais em melhorar a qualidade da educação oferecida às crianças do ensino fundamental, de seis a 14 anos. Pode-se citar como exemplo os programas de educação integral, onde se propõe o aumento do tempo de permanência do aluno na escola. Estando mais tempo na escola, o aluno estaria “protegido” dos perigos da rua, ao mesmo tempo em que se garantiria um maior tempo para seu aprendizado integral.

Por perigos, leia-se violência, drogas, marginalização e toda a gama de influências que podem advir à criança que mora em situações de vulnerabilidade social. Pensando-se por esse ângulo, a iniciativa é louvável, pois ainda garante ao aluno sua alimentação – almoço, lanche.

O aprendizado integral envolve todas as áreas que estimulam o desenvolvimento cognitivo, psicossocial e psicológico da criança, como as artes, o teatro, a música, a leitura, o esporte, entre outras. Sendo assim, seriam oferecidas aos alunos oportunidades de vivências múltiplas nessas áreas.

Estar na escola em tempo integral, portanto, não significa estar sentado o dia todo atrás das carteiras, lendo, escrevendo e fazendo contas. Haveria o tempo das aulas “convencionais” e o tempo das atividades complementares, divididos nos períodos da manhã e da tarde. Para isso, exigem-se profissionais qualificados e preparados para lidar com uma clientela que por muito tempo foi marginalizada na escola e que por isso, em sua maioria, apresentam comportamento agitado, impulsivo, agressivo até. Exigem-se espaços apropriados também: quadras, ambientes de artes, música, auditórios, teatros. È um grande investimento em pessoal e material, além de reformas físicas.

A outra realidade - “Tive a experiência de ser professor de teatro em uma escola estadual, em Minas Gerais, na qual o Programa de Tempo Integral é amplamente divulgado. Porém, eu vi outra realidade. Uma realidade que exige muito do professor e dos alunos. Dava as minhas aulas de teatro em uma sala de aula pequena e tendo que improvisar espaços e cenas teatrais para levar algum conhecimento para os alunos. E tive que lidar com meninos e meninas que tinham problemas psicológicos sem ao menos ter um apoio de um profissional na área. E, além disso, virava “babá” dos alunos, pois tinha que auxiliar até a escovação dos dente. Tinha que ter um profissional voltado para o ensino da higiene pessoal e psicólogos. No final do turno da manhã, os alunos estão cansados e desmotivados para as aulas do turno da tarde”, relatou um professor que preferiu não se identificar.

É louvável esse programa, porém, se as dificuldades não forem sanadas e não termos investimentos essenciais no âmbito profissional e humano dos professores, e na parte física das escolas, o programa será mais um “Fome Zero”, sem consistência e puramente assistencialista. Deixando de lado a verdadeira essência do projeto: a proteção e a inserção dos jovens alunos à sociedade. Ainda é hora de arrumar a escola de tempo integral. Só basta boa vontade dos nossos governantes.

Por Alexandre Lana Lins e Cadri