O Besteirol do Ronaldo
Em entrevista à revista Época, o atacante Ronaldo, do Real Madri, disse que sonha com o Prêmio Nobel da Paz.
"ÉPOCA - Se você parasse de jogar hoje, que lembranças acha que deixaria para os torcedores?
Ronaldo - Acho que deixaria boas lembranças. Sei que posso marcar história nesta próxima Copa, superar Pelé em número de gols em Mundiais. Quero deixar uma boa imagem não só no futebol, mas também como embaixador da ONU. Vou trabalhar a vida inteira nisso e batalhar muito para ganhar um Prêmio Nobel da Paz. Isso me satisfaria muito. É um sacrifício que vale a pena."
Tão hábil com a bola nos pés, o craque deveria ter-nos poupado desse besteirol. O Prêmio Nobel da Paz não é algo para se almejar. É consequência de um trabalho ou de uma vida dedicada a uma causa que requer sacrifício muito acima da média.
As missões de Ronaldo como embaixador da ONU são parte de uma estratégia correta de publicidade em torno do tema. Têm todo o valor, mas são voltadas para "a torcida". A paz, localizada ou geral, será sempre fruto de mudanças profundas nas estruturas políticas e econômicas. Tanto é que desde o começo do mundo se pede a paz e ela ainda não veio.
Quando Ronaldo declara-se dessa forma, mostra todo o seu lado infantil, como se o prêmio fosse um brinquedo,uma taça, um novo carro esporte, uma nova namorada-modelo. Aliás, os vultosos salários e outros rendimentos obtidos por estrelas como ele inserem-se no quadro geral de concentração de renda, injustiça social e, em última análise, de guerra.
Quem é que paga essas fortunas? Frequentadores de estádios, telespectadores, apostadores de loterias e compradores de material esportivo, cerveja e moda. Também pagam por isso os trabalhadores com seus baixos salários e jornadas extensas implantadas para manter aquecido o capitalismo global. Encantados pelo virtuosismo dos mágicos da bola, não podemos nos esquecer de que o negócio do espetáculo esportivo está inserido na economia capitalista da mesma forma que as outras modalidades de negócios.
No plano pessoal, espaço em que podia fazer algo concreto, Ronaldo falhou em estabelecer a paz. Cicarelli não é flor que se cheire, mas aparentemente foi super maltratada pelo homem que a desposou numa cerimônia milionária. Dele esperamos que continue a ser o ótimo jogador que sempre foi, mas que se instrua e se conscientize politicamente.
Íntegra da entrevista no endereço abaixo:
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/0,,AA1088374-5187,00.html