Um olhar crítico sobre o livro didático
O livro didático é ainda hoje, no século XXI, no terceiro milênio um compêndio coadjuvante do aluno e professor na construção e reconstrução do conhecimento. Passou certamente por diversas fases de renovação e continua progressivamente sofrendo mudanças contundentes, variando sempre de acordo com a demanda do mercado que, por vezes, depende da rotatividade e dinamismo com que as sociedades modernas e capitalistas vão se transformando, construindo novos paradigmas, novas visões e leituras de mundo, nos diversos setores do conhecimento humano.
No artigo de Kasumi Munakata (Freitas, p.271), ele comenta sobre os anos 70 e 80, como anos especiais. Os conteúdos considerados mentirosos eram à base do ensino, e no Brasil, tudo ia bem! Grande mentira! É sabidos que realmente a grade curricular daquela época era montada em cima dos interesses políticos da classe dominante - OSPB E EMC - por exemplo, serviam de ABC para despertar no estudante brasileiro, o nacionalismo, o amor á pátria, o respeito ás leis e instituições, etc.
A organização social consolidada pela ditadura considerava os livros didáticos e paradidáticos como objetos de suspeitas e se a subversão era motivo para tortura, os livros passaram a ser instrumentos de ideologias sutilmente veladas nas entrelinhas.
O fato é que, mentiras e verdades, tendências perniciosas e tudo o mais, existiram e continuam a existir ainda hoje nos livros didáticos, embora de maneira mais velada, conduz o aluno a adotar determinada concepção histórica.Cabe ao professor (a), fazer a análise criteriosa do livro a ser adotado, visto que atualmente, a pluralidade de métodos e procedimentos repletos de adversidades, confunde o docente que necessita estar sempre se atualizando e se familiarizando com os livros, para ter segurança necessária, ao explorá-los; descartando o que for desnecessário para o momento.
O grande problema nas escolas da rede pública de ensino, é que nem sempre os professores se reúnem para escolher os livros, embora as editoras os enviem com antecedência. São vários os motivos alegados: não tomaram conhecimento; não foram convidados; não tiveram tempo e por aí vai... Sem uma análise prévia, não é possível em alguns momentos, quebrar a linearidade da História, selecionar conteúdos, planejar adequadamente, aplicar a priori, o que for mais interessante para a realidade emergente do alunado, seu contexto social, etc. A industria editorial atualmente é muito ampla, as editoras cada vez mais se preocupam com o gosto do consumidor. Colocam em seus livros, textos que condizem com a exigência do mercado, revisando os sempre que necessário, para mantê-los atualizados. Errado esse procedimento? Não, absolutamente! O mundo é dinâmico e globalizado; está em contínua mudança e descobertas, nada é eterno, mas em constante transformação. Portanto, sendo assim, esse procedimento é o melhor a ser adotado, no momento.
As editoras se preocupam também com a preferência do consumidor quanto às metodologias e tendências pedagógicas a serem utilizadas, haja vista, determinados educadores preferirem em suas práticas pedagógicas, o método tradicional.
(...) o pensamento educacional, a ideologia, a metodologia, - isso tudo tem que atender à necessidade do mercado. A gente procura ter diversas coleções em cada área, diversas coleções(...) (FREITAS, 1998, p. 75).
Sem uma análise prévia, não é possível quebrar, em alguns momentos, a linearidade da História, selecionar conteúdos, planejar adequadamente, aplicar a priori, o que for mais interessante para a realidade emergente do alunado, seu contexto social e histórico, conhecimento prévio (oriundos das outras séries) dificuldades etc.
O mercado editorial sem dúvida acabou se transformando em indústria sofisticada e cada vez mais profissional. Até que ponto isso tem se constituído em ponto negativo? E o que de bom tem sido proporcionado? Lembremos de Einstein,tudo é relativo. Fica evidente que a atualização, renovação e realimentação constante dos conteúdos programáticos dos livros, para uma sociedade globalizada, informatizada e em contínuo dinamismo é uma necessidade básica.
Os grandes sábios da humanidade foram e são aqueles que conseguiram e consegue fazer a diferença, ver além do seu tempo; loucos para alguns, sábios para outros, mas, só o tempo conseguiu e conseguirá provar suas ousadias.O importante para nós, o importante agora é saber como de fato, esse compêndio (livro), está sendo utilizado no cotidiano escolar; a visão crítica do professor (a) na questão dos conteúdos mal elaborados, os procedimentos pedagógicos etc. Essa atitude poderá nortear o trabalho educativo, proporcionar melhores condições de aprendizagem e conseqüentemente melhor qualidade do processo educacional como um todo.
O professor Zacarias, em seu artigo intitulado “O livro didático de História: Etapas, Evolução e Progresso numa História Revelada ( Panorama Acadêmico, a p. 66), rotula de parafernália pedagógica, o aparato técnico- pedagógico que acompanha o livro didático do mestre. Não concordamos em parte com a generalização, quando sabemos perfeitamente que numa sociedade diversificada e com tanto livro no mercado, a analise de um só exemplar, não dá o direito de classificar todos, no mesmo patamar.
Alguns alunos do curso de graduação em História (Licenciatura), gostariam até de sugerir essa dita Parafernália pedagógica para alguns docentes do ensino superior, haja vista, em alguns casos, os mesmos estarem atrelados a textos, muitas vezes, mal construídos, relativamente atrasados no tempo e espaço, não condizentes mais com a realidade atual do mundo globalizado; sem falar na metodologia tipicamente e ou| unicamente tradicional, amplamente aplicada durante o decorrer do curso, com exceções é claro. Não só o livro didático é o vilão dessa história, todos os componentes que constituem e fazem parte do processo educacional desse país, são responsáveis pelo caos do ensino (com exceções) em todos os cursos e modalidades, da educação brasileira.
Nas escolas multisseriadas, no interior desse Brasil, a realidade difere das demais. O livro se constitui num bem maior, é tratado com carinho e até amizade, pelos pais, professores e alunos. É através dele que o aluno constrói sua leitura de mundo, percebe-se dentro de um universo maior, sonha e pode ser estimulado a seguir em frente. Para essa gente, o livro mesmo sendo, às vezes, incoerente com a sua realidade, ainda assim, ajuda o (a) docente a não errar tanto, visto que, nos confins do sertão brasileiro, a teoria não diz muito, o saber fazer é o que conta mais. Cabe então, em todos os casos, selecionar, analisar e construir o aparato pedagógico, pois, para ser um bom professor, a didática deve estar sempre aliada aos conhecimentos específicos.