O Ensino de História e a Formação do Professor

A escola como um local de trabalho educativo, focaliza aos problemas e conflitos de classe, assim como as formas culturais, na distribuição, produção e reprodução dos conhecimentos.

Os critérios a serem observados na escolha dos conteúdos para o ensino de História, não devem obedecer rigidamente a uma linearidade, tão comuns nos livros didáticos. Cabe ao docente, especialmente, o direito de fazer a seleção dos conteúdos de cada série (o professor com carga horária de 20 horas semanais na rede estadual de ensino na Bahia leciona sete turmas), de acordo com a necessidade e realidade do seu alunado, após avaliação diagnostica. Caso haja coordenação pedagógica na unidade escolar, é natural que aconteçam debates, acordos e discussões sobre conteúdos interdisciplinares, elaboração de projetos coletivos, onde os docentes possam juntos, construir e reconstruir o conhecimento, avaliar e reavaliar atitudes e procedimentos; flexibilizar o currículo, de forma que temas e conteúdos da chamada cultura comum, possam permitir a todos os educandos, igualdade de acesso ao conhecimento histórico, desmistificando os mitos e estereótipos da memória dominante.

Vale ressaltar, que nada impede que os docentes possam, mesmo sem a coordenação pedagógica instituída, procederem da forma supra citada. Desta forma, os currículos tradicionais, operantes no Brasil, fundamentados na História geral, etnocêntrica e dominadora, perdem sua força e vão sendo desconstruídos, na medida em que, valorizamos o estudo do meio, oscultamos o currículo real reconstruído no cotidiano escolar; respeitamos à diversidade cultural, a heterogeneidade dos alunos, oriundos de diferentes classes sociais, ou seja, quando produzimos conhecimentos num universo de sujeitos plurais com ética e responsabilidade.

Por tudo o que já foi dito, fica evidente que mesmo com os significativos avanços ocorridos na educação, desde as últimas décadas do séc. xx, o advento das Diretrizes Curriculares, os Parâmetros Curriculares, os debates e a pluralidade de concepções, metodologias, políticas e ideologias no ensino de História, ainda assim, o currículo multicultural precisa estar sempre em dinâmica constante, acompanhando as mudanças ocorridas na sociedade, se adequando a elas, num contexto, entre a teoria e a prática, dinamizando-as.

É preciso também incorporar no processo do ensino aprendizagem outras fontes, problematizar e possibilitar o confronto e o debate, para a motivação da experiência histórica, cultural e toda a sua complexidade.

Portanto, a organização dos conteúdos programáticos e o currículo multicultural, devem atender ao contexto social, político e cotidiano, entre outros, da vida da comunidade discente escolar

Segundo a visão de Fonseca, a formação inicial do professor de História, nos cursos superiores de graduação, é considerado de suma importância, desde quando é durante esse período que efetivamente, os saberes pedagógicos e históricos são de fato sistematizados, mobilizados, problematizados e incorporados à experiência de construção do saber docente, oportunizando a construção da identidade, tanto pessoal, quanto profissional. No entanto, a construção da identidade (pessoal e profissional) segundo a autora, não se constroem unicamente nos cursos frequentados em escolas e universidades durante determinado tempo da vida dos indivíduos. E parafraseando Nóvoa (1991), estar em formação, implica um certo investimento pessoal, criativo e livre, sobre os caminhos próprios, objetivando a construção de uma identidade pessoal, profissional sempre revista, pensada e reconstruída de forma permanente. Ainda, segundo a sua ótica, tornou-se comum dizer que a formação do profissional de História se processa em todos os tempos e espaços sócio-educativos ao longo de toda a sua vida.

É natural e sabido que não só o profissional da área das Ciências Humanas, mas sim, todos os profissionais em educação, de uma forma geral, necessitam estar em contínuo estudo, haja vista, o processo educacional exigir dinamização constante; o mundo globalizado e informatizado, a cada dia cria novos paradigmas em todos os setores da sociedade (social, econômico, político, cultural); o capitalismo voraz, estimula cada vez mais, a competitividade.E os profissionais em educação correm, às vezes alucinadamente, em busca de maior qualificação, não só pela ânsia do saber, mas por uma questão de sobrevivência.

As Diretrizes Curriculares para o Curso de História, não prioriza, ou sequer coloca em paridade, os estudos da área pedagógica em relação à pesquisa, mas prioriza esta última, quando diz que é necessário formar o professor para o exercício da pesquisa no campo da História e da historiografia. Neste caso, a pesquisa servirá de importante instrumento para a inclusão no mercado de trabalho.

Conteúdos históricos\historiográficos e práticas de pesquisa que, sob diferentes matizes e concepções teórico-metodológicas, problematizem os grandes recortes espaços-temporais (...) (FONSECA, p.68).

É evidente que os conhecimentos pedagógicos são estritamente complementares, enquanto, que a pesquisa figura como elemento essencial e básico na preparação dos profissionais em História. Ignora que os conflitos e os problemas são globais e planetários e que os saberes pedagógicos, na verdade estão em todo o fazer humano e científico de forma multidisciplinar.

As Diretrizes também priorizam o modelo do 3 mais 1, no que diz respeito à organização e estruturação dos cursos, reforçando ainda mais para a formação do historiador, os setores específicos em detrimento dos saberes pedagógicos.

A verdade é que, na prática, os professores saem das universidades (onde eles construíram suas identidades pessoais e profissionais) e encontram sérias dificuldades ao se defrontarem com a realidade das escolas públicas, onde o universo é bem diferenciado das salas de aulas de suas faculdades e onde o fazer histórico se casa com o pedagógico de forma fatal e irrefutável, ficando as teorias, muitas vezes servindo somente para o conhecimento particular dos indivíduos.O correto sempre será unir a pesquisa aos conhecimentos pedagógicos como fórmula de uma educação mais verdadeira e prática.

Esperemos que a reformulação do currículo nos cursos de Licenciatura possa dar um enfoque maior nas disciplinas pedagógicas proporcionando ao estudante oportunidade, desde o início do curso, de conhecer, vivenciar, diagnosticar, interagir com a problemática das escolas públicas nas diversas modalidades de ensino, para gradativamente ir construindo o seu perfil de educador (a) de forma consciente.

(...) os alunos de Licenciatura deverão ser estimulados e solicitados, a vivenciar aspectos práticos de sua futura profissão, desde os primeiros anos de seu curso de formação.( Lisita, 2002, p.67).

As disciplinas especificas, na prática e mediante pesquisa e vivencia pessoal, tem servido na maioria das vezes, para conhecimento próprio do indivíduo, ficando quase que totalmente internalizado, sem condições de emergir, a não ser, se o estudante for seguir carreira ( mestrado, doutorado etc.) no mais, o importante mesmo nos cursos de licenciatura é preparar o aluno para exercer o seu papel de professor do ensino fundamental e médio, prepará-lo para a vida docente no que tange aos conhecimentos pedagógicos tão importantes para a prática educativa.

No entanto, o que costumamos ver, é o profissional da área pedagógica ser ridicularizado por colegas e alunos que estimulados pelos professores radicais da ala do bacharelado&, ou seja, dos que se prendem aos conhecimentos específicos, oferecerem resistência às disciplinas pedagógicas ou considerá-las como meros complementos, pequenos retalhos de uma colcha, mal acabada, mal costurada.

Portanto, fica evidente, que a imposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais e o estabelecimento de Diretrizes Curriculares, (impostas pelas políticas governamentais); a relação ineficiente entre as IES e a Escola Básica, a multiplicidade de modelos de formação de professores ao possibilitarem que profissionais de outras áreas do saber, que não da educação, possam estar lecionando em disciplinas especificas, sem terem tido formação para tal, vem dificultando o processo de interação entre as instituições do Instituto Superior e da Escola Básica.

(Isto é fato comum no nosso cotidiano acadêmico, haja vista, estarmos sempre vivenciando tal procedimento. Transferência de docentes, calçadas em motivos estritamente pessoais, alheios a qualidade do ensino aprendizagem. E, o pior é que nós alunos, somos obrigados a aceitar a insegurança do (da) docente ao tentar “passar os conteúdos da disciplina que mal conhece); assim como a disparidade entre a pesquisa e as disciplinas pedagógicas, também tem sido um entrave para a construção de uma postura didática.

Enfim, por tudo o que já foi dito e problematizado anteriormente, fica claro realmente que a educação no Brasil, de forma geral, ainda não encontrou o rumo certo; e embora não existam fórmulas infalíveis, muito ainda se tem que fazer para que haja efetiva melhoria e isto, certamente, só irá acontecer quando cada integrante do processo fizer a sua parte; quando o individualismo for substituído pelo coletivo; quando o nós, prevalecer ao eu e o que é mais importante, forem feitas todas as adequações necessárias para cada realidade. Questiono-me: Para que serve mesmo o ensino de História nas Universidades se ficamos sempre no velho, sem construir nada de novo, sem nem sequer discutir a realidade política, econômica, social e cultural do Brasil e do resto do mundo, na contemporaneidade? Se não conseguimos fazer uma ponte entre o passado e o presente? Como formar cidadãos críticos e participativos, sem fóruns, sem tempestades de idéias? Comportando-se dessa maneira a Universidade passa uma certeza de ser um espaço onde costumeiramente se repassa conhecimento, pouco se constrói, tudo é realizado com base nos feito de outras pessoas. Assim, o ensino vai sendo reproduzido com roupagem nova em cima do remendo velho. É um lugar de repressão, onde o meio mais coercitivo é a prova, a guilhotina dos tempos modernos! Com exceções é claro! Não generalizo, mesmo porque não possuo conhecimento para tanto, mas o pouco que vivenciei dentro de uma delas, me oportunizou comprovar os fatos dessa narrativa. É necessário se repensar o ensino de História!