Começamos a escrever sem qualquer compromisso, a não ser com o tédio, a vontade e o egoísmo de querer ficarmos em nossa própria companhia, colocando no papel o que vem à mente, sem se importar com a utilidade daquele ato e daquele tempo gasto. Bons tempos, sinto saudade...

Um dia, publicamos. Seja na internet ou no mercado editorial, chega a presença do outro em nossa obra, é, agora o que fazemos tem nome, estamos compondo uma obra, pela qual seremos conhecidos. Reconhecidos? uma eterna dúvida.

A obra, os outros e nós, autores - escravos das palavras que querem vida -, passamos a ser elementos de uma maestrina ego-excêntrica, a inspiração.

A inspiração usa-se de nossa própria vida e todos que por ela passam, sejam de relance, de chegada, de partida, de estada, de propósito ou sem um qualquer, apropria-se dos nossos entes e momentos. Deixa-nos no cenário, mas leva nossos olhos ao perigeu e de lá se põe a focar e distorcer atos e fatos. 

Nítido, nebuloso, escuro, claro, que susto! acabei de perceber. Percebi! Só eu estou vendo, ninguém mais vê. Este é o momento, agora só falo por mim.


Se é amor, me embriago, se é desejo, me deságuo, se é profano ou peço piedade ou me entrego. Apesar de que, bem e mal se equivalem, numa boa obra não há como não coexistirem, um equilibro indigno, me enojo, quero vomitar, mas escrevo, possuída pela moção criadora. 

Quando ela chega, a inspiração, como máquinas de produção literária são textos e mais textos, opiniões sobre tudo e todos e então, não mais que de repente, ela some; foi embora. Buscamos, buscamos e nada, cadê? Cadê? O que fazer?

Vivo, vivo, me entrego, me ponho em perigo, me persigo, me perco, peço para que me achem, devolvam-me à minha família, saberão o que fazer, mais uma vez, neste, só falo por mim. 


Angústia, reza, prioridades, ações, trabalho, trabalho, cansaço, responsabilidades, prazos, metas, o tempo passa, me entorpeço de sobriedade fingindo esquecer que não a achei, ninguém fala, ninguém comenta, só eu sei, eu não a achei.

Este processo é quase comum a todos os autores, assim como a dúvida: usar de técnica e escrever qualquer coisa passível de leitura ou aguardar a primazia? Oh, dúvida cruel que persegue!

Neste exato momento que estamos, eu e você que lê, acabamos de optar em falar apenas sobre o que é escrever.

Com carinho... Eliana

Eliana de Freitas
Enviado por Eliana de Freitas em 14/02/2008
Reeditado em 30/04/2009
Código do texto: T859747
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