RESTOS MORTAIS...DA VERGONHA

Quero esclarecer que este meu artigo baseia-se numa triste e magnífica reportagem da rede record de televisão, que hoje foi ao ar, e que em meio à minha correria do meio dia,me fez parar perplexamente com os olhos arregalados para a tela.

A matéria é parte integrante duma programação que virou moda sensacionalista entre as emissoras mais "populares", porém eu não poderia deixar de reconhecer o valor jornalístico do trabalho ali apresentado ,até como algo de utilidade, de conscientização pública.

Utilidade no sentido de mostrar os bastidores sociais da nação que são ocultados pelas outras emissoras.

Se eu não soubesse previamente que o cenário da matéria era nosso, arriscaria dizer que se tratava dos países mais pobres da África.

Vou me abster de citar qual o estado que estava ali, esmiuçando suas mazelas, até em respeito pela população de lá, e apenas direi que se trata duma das praias mais belas que já conheci do Nordeste brasileiro.

Da tela, avistava-se ali do alto o horizonte, o mar de verde degradé, a areia, o cume dos prédios da orla e por fim o bastidor da vergonha, aonde betoneiras duma empresa de lixo ( ViVA/LIMPEZA URBANA), depositavam a céu aberto seus detritos num imenso lixão.

Um horripilante ecossistema, no qual pessoas de várias idades, crianças, adultos, idosos e mulhers grávidas lutavam pela sobevivência "disputando" no total desespero, os alimentos em decomposição ali depositados, com uma nuvem de urubús e varejeiras, além do ratos, cachorros e cavalos, alíás, todos, inclusive a fauna, sucumbidos pela desnutrição aparente aos olhos nús!

Percebo que não consigo aqui expressar o que vi hoje.

Um cenário escandaloso da vergonha do descaso total.

Sempre soube que há pessoas que sobrevivem da reciclagem, o que é muito diferente do que vi ali.

Naquela guerra da tragédia humana, ali se sobrevive do detrito.

Lá, disputa-se um lugar na montanha de lixo que as betoneiras jogam sobre as pessoas.

Alí a jornada de trabalho é de doze horas por setenta reais por mês, quando a sorte do encontro dos luxos do lixo...é de grande valor.

Um kilo de papel, arrecada dez centavos!

O gás fétido que exala do lixão, já não incomoda os trabalhadores.

Alguns usam máscaras improvisadas embora o seu sistema respiratório, o neurológico bem como o imunológico, já tenham se adaptado ao ataque do mundo bacteriológico!

Nas tendas residenciais ali montadas, cobertas pelo coletivo imensurável das moscas, aquecia-se na lenha um pedaço de carne encontrado entre o lixão.

Posso ser alguém desinformada, mas NUNCA nem sonhei que um cenário daqueles pudesse se alojar no nosso país.

Sempre acreditei que a nossa miséria fosse mais digna.

Estou nauseada desde o meio dia...uma náusea de alma!

Quando escrevo com espírito crítico, as vezes temo parecer injusta, mas a realidade que vi hoje, faz jus ao que tenho escrito!

Senti medo.

Perguntei-me aonde estão as autoridades sanitárias do nosso país!- e todas as demais autoridades em tudo!-embora acredite que dali até as doenças saem correndo.

Fogem moribundas daquele cenário de restos mortais...restos vivos da esperança e da vergonha que há muito já faleceram.

Parabéns à rede Record de televisão...apenas pela coragem.

E a mim só me resta um pensamento:

-Deus,não abadone o Brasil!