Herói ou Vilão, Che?
Nunca gostei de ter nascido nos tempos de hoje.
Sempre pensei que deveria ter participado de passeatas, ter presenciado o surgimento fenomenal do rock, ter visto os últimos momentos dos pontas no futebol, etc. Sempre tive inveja dos que puderam fazer parte desses momentos da história, dos que viveram o que eu vejo hoje em livros e lousas.
Mas há uma vantagem em tudo isso. Quando somente se estuda fatos importantes, você acaba se apegando somente àquilo que lhe convém, acaba vendo somente o que ficou de marcante em todo o processo. Um exemplo é a figura de Ernesto "Che" Guevara.
Símbolo de liberdade, o rosto de Che paira sobre camisas de milhares de jovens. Não dá pra se afirmar que todos saibam de seus feitos, que todos tenham conhecimento de sua história, mas todos sabem o que sua imagem representa.
No dia 3 de Outubro de 2007, a revista Veja publicou uma matéria tratando Che Guevara de forma pouco comum. Referiu-se a ele como um "homem de carne e osso, com suas fraquezas, sua maníaca necessidade de matar pessoas, sua crença inabalável na violência política e a busca incessante da morte gloriosa", "um ser desprezível" e "um porco, porque não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido". Comentários fortes e diretos, que causaram polêmica, atingindo em cheio àquelas pessoas que sempre o imaginaram como um grande mito.
Como parte da polêmica, surgiram as críticas. Uma das principais, foi a carta de Jon Lee Anderson, o biógrafo de Che Guevara que cedeu informações à revista Veja, e que diz ter ficado supreso com a forma que trataram as informações por ele fornecidas a respeito de Che.
Na carta ele diz:
"Foi justamente este tipo de reportagem hiper-editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que foi escrito: um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é."
A polêmica se estendeu por dias até sair de circulação, mas ficou nos adolescentes e nos apaixonados pela figura de Ernesto a dúvida: "Acreditar no herói ou no vilão?"
Do conteúdo concreto apresentado pela polêmica revista, Jon Lee Anderson já se encarregou de esclarecer o "mau-intensionado entendido". Já quanto às afirmações restantes, a resposta que ofereço é a seguinte:
Se Che tomava banho ou não durante suas guerrilhas, se é que isso era possível, pouco me importa. É incontestável a importância de se ter um símbolo de luta no mundo alienador no qual vivemos.
O rosto que vemos nas camisas dos adolescentes não tem cheiro, entretanto tem a capacidade de gerar no jovem lances de questionamento, por menores que estes possam ser. E se ter mau cheiro é sinônimo de perder credibilidade eu digo: prefiro ver políticos, advogados, juízes e diretores de revistas com mau cheiro e caráter, do que os mesmos arrumadinhos e desonestos.