A SALVAÇÃO PELA LEITURA
Muito se tem dito sobre a falta de hábito do brasileiro com a leitura de livros e seus baixìssimos níveis. Litros de tinta e muitos quilos de papel já foram gastos tratando deste assunto. Parte bem gasto, parte puro desperdício. O cerne do problema é bem mais sério do se supõe. Para mim, a solução deste assunto é de médio e longo prazo. Espero que não muito, porque a longo prazo, todos estaremos mortos! Mas é com as futuras gerações e com um Brasil que se deseja e se sonha, ideal é que devemos nos preocupar. E somente com Educação, cultura e identificação com a leitura que poderemos almejar algo e melhor para os segmentos médios e basilares da sociedade.
O hábito da leitura é um hábito pouco afeito à nossa identidade, ao nosso coletivo. É estranho à nossa coletividade. E é fácil de se apreender tal assertiva para quem trabalha com livros. O assunto pode ser algo que podemos opinar. Todos nós, não só os notáveis e famosos teóricos do 'métier'. Assim, acho que posso deixar aqui minha opinião sobre a matéria. Tendo alguma vivência na produção editorial, sendo formado na área e tendo, creio que o mais importante, sido, desde a juventude, um amante de livros cujo desejo maior atual seria morar numa biblioteca-residência-atelier, pois sou também desenhista e pintor. Sou um profissional do livro que trabalhou em órgãos culturais federais onde livros deixados sem controle ou vigilância não eram roubados! Trabalhei numa editora e biblioteca onde os livros não eram surrupiados. Livros eram, naquela instituição, objetos de indiferença! Fiquei, à época, estarrecido! No mesmo lugar, um superior tanto comentava: "existem dois tipos de idiotas no mundo, um que empresta livros e outros que os devolve!" Mas era apenas um comentário e não um procedimeto, porque inóquo. Naquele momento comecei a intuir o porque do desinteresse. Não foi formado hábito, desejo de consumo ou posse. Não existe risco de apropriação onde não há desejo de uso. Não chego a roubá-los, mas leio o que cair na minha mão e deixo separado ou guardo até alguém reclamar. Sou antes de tudo, um leitor. E sou um leitor incorrigível. E, o mais importante, um corolário cultural do hábito da leitura. Alguém que aprendeu a querer e procurar por informação, conhecimento e aprendizado. Sou, por assim dizer, um "livronheiro"! Um biblômano"! Sou um viciado e apaixonado por bons livros. Notadamente, os de Arte! Lê-los, amá-los e consultá-los, sempre. Tê-los, quando possível.
O meu maior problema, que para mim não é montante, em relação a posse de livros, notadamente, os de Arte, é de ordem financeira, pois às vezes adquiro ou ganho os que mais desejo. No meu caso, certamente, pois tenho como resolvê-lo. Fácil. Meu problema a respeito da leitura de livros e sua posse, apesar de parecer importante é menor, muito menor, do que o grande óbice que impede e vai continuar impedindo que tenhamos melhor consumo e melhores níveis de leitura de livros no Brasil. O problema da leitura, não da posse de livros, pode ser hoje contornado, quando se mora em uma grande cidade brasileira, no meu caso, no Rio de Janeiro. Temos aqui muitas bibliotecas e centros culturais para consulta.
E é exatamente este o aspecto, o financeiro, o preço alto dos livros, que é o mais abordado quando se fala nos baixos índices de leitura do brasileiro. Equivocadamente.
Como sou um leitor de hábito cinquentenário, um proprietário contumaz e um fruidor atemporal de livros, hoje vejo consternado que não adianta diminuir o preço do livro e não adiantam programas de difusão de leitura. Pode colocar livros de bolso a 3, 5, 7 ou 10 reais que poucos irão lê-los. Poucos irão ler mais de um livro a cada semestre. Não adianta o governo e seu braço midiático, as redes de televisão, tratarem o assunto de forma "marqueteira", que não vai resolver definitivamente a aliteração da quase totalidade da população brasileira. Não adianta Presidente falar (mal), Ministro propagar e muita verba em campanhas ser dispendida, que o povo brasileiro não vai criar hábito de leitura assim, de um decênio para outro. Não vai!
E mais, não será somente nas escolas que o hábito da leitura prazeirosa será instalado na população. Nos lares das crianças terá de existir o impulso, hoje impensável, de desligar a Televisão ou largar o vídeojogo. Teria de existir uma gradual mudança no que é o lazer ideal através de campanhas subliminares ou diretas, como a bem sucedidas campanhas de conscientzação passadas. A do "Sugismundo", por exemplo, para quem passou de certa idade, não sai da nossa memória. Terão as emissoras de melhorar totalmente a sua programação, seguindo moldes já adotados por emissoras como o canal Futura e outras. Principalmente nos horários de maior "pico" de audiência. O governo deverá compensá-las de alguma forma fiscal ou através de veiculações. Terá o governo de incentivar emissoras a veicular programação cultural e educativa, sem cooptá-las na veiculação "chapa-branca" de reportagens pró-situação, tão comuns hoje. Terão as emissoras de abolir e diminuir o número de novelas diárias voltadas apenas para obtenção de níveis de audiência que elevem suas cotações de inserções publicitárias. E criar, junto às agências de publicidade e "marketing", modelos de formação de programas de incentivo à fruição da leitura. Criar um "leituramento", um "aleitamento por livros e por meios eletrônicos, como os computadores"! Criar para a leitura um modismo igual à paixão por futebol, carnaval e pescaria. Difícil, mas não impossível, basta vontade! Vontade política, da sociedade civil, ONGs, instituições culturais e educativas e dos segmentos produtivos deste País.
A sociedade de consumo e seu modelo neoliberal atual terão de ceder sua famigerada voragem pelo lucro, pela opção da distribuição de oportunidades para os segmentos da base dos grupos sociais. Haverá retorno! Certamente haverá! É o que se tem de certeza mais sólida.
Há que se criar tudo o que muitos educadores há anos colocam. Há que se ouvir brasileiros como Paulo Freire, Joelmir Betting, Darcy Ribeiro, Ziraldo, Roberto da Matta, Evanildo Bechara, Míriam Leitão, D. Lourenço de Almeida Prado, José Mindlin, Ali Kamel, Christovam Buarque e tantos e tantos outros. Enfim todos os que se preocupam na realização de outra frase de efeito desgastada sobre o Brasil, mas, ao invés, "Brasil, país presente, para o futuro". Ouvir e implementar boas idéias. Alocar recursos. Recursos suficientes. Fazer e não apenas ficar "gerundiando", mania terrível hodierna!
O hábito da leitura é construção de uma vivência ininterrupta com um prazer aparentemente simples, mas sofisticado que só uma literação ideal pode prover.
Incentivar a sociedade civil a participar em sintonia com as administrações das três esferas do executivo.
Parafraseando Getúlio Vargas e adaptando tantas outras frases, poderíamos enfim dizer: "LEITURA É MATÉRIA DE SALVAÇÃO NACIONAL."