O ÓBOLO DE SÃO FRANCISCO...
Mais uma CPI se anuncia: a dos cartões. E isto me leva inevitavelmente à reflexão.
Faz uns vinte anos que passo todos os dias pelo mesmo trajeto na Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro acompanhando o que a passagem inexorável do tempo vem produzindo num pobre hospital que mais lembra, hoje, deprimente ruína - tal como a voragem dos séculos traga civilizações, implacável, impiedosa, deixando-nos apenas os restos do que outrora foram as monumentais culturas de todos os tempos com os seus feitos tornados em pó.
Está certo que São Francisco era o Poverello de Assisi - o Pobrezinho de Assis... Todavia, isto soa macabra ironia para o espetáculo de decrepitude exposta a todos que passem pelo Hospital São Francisco de Assis, ali, na altura da Cidade Nova na Avenida Presidente Vargas!
Diariamente, amigos leitores, passo ali; e raros foram os dias em que não me vi tomada de um misto de perplexidade e de revolta diante do que aquela carcaça quase em ponto de desmoronamento representa: a ruína do nosso sistema de saúde; da nossa política pública; das instituições sociais...
Os médicos mal pagos; o povo em filas intermináveis de hospitais precários sem receber atendimento de emergência! - e freqüentemente morrendo em decorrência disso: por falta de vagas, por imperícia médica, por ausência de recursos e de profissionais suficientes para dar conta da demanda gigantesca da população que não possui meios de pagar as exorbitâncias cobradas por planos de saúde particulares que deitam e rolam às custas da derrocada da saúde pública no país!
Seria tudo isso um complô?! Torna-se bem fácil admitir a hipótese... Afinal, com empresas médicas faturando alto e cobrando o que querem para quem pode pagar enquanto que o resto se dane... para que se importar com saúde pública?!
Ora... que o que ainda nos resta de honradez nos leve a pensar e a admitir com lisura, então, portanto imaginem: numa conjuntura diversa, caríssimos, com a saúde pública recuperada, sólida, a pleno vapor... isto significaria a falência clamorosa de um sem número dessas Assims e Goldens da vida!... E a mente empresarial, defensora férrea da prestação de serviços escravocrata, que planta empregos mas suga a medula do povo, em nada auxiliando as camadas mais sofridas com os seus preços acessíveis apenas às classes mais favorecidas lá está interessada nisso?!!
Mas, à parte desta digressão, incômoda para muitos que se beneficiam direta ou indiretamente desta catástrofe social - alguns de maneira inconsciente, diga-se, pois que estão empregados nestas empresas, e a oferta de empregos é que se torna um dos muitos álibis - o que me leva a redigir este artigo, amigos, é a vontade de compartilhar a perplexidade. Talvez por ter nascido justo no dia de São Francisco de Assis, é possível...
Fico pensando no que seria daquele hospital recuperado, e a quantos poderia socorrer dignamente - se não fossem tantas CPIs sucessivas, e de tal forma escandalosas, que não se torna mais coisa viável lembrar-se, a esta altura, qual foi a primeira... Qual foi mesmo o primeiro escândalo de desvios astronômicos de verba do dinheiro público?!!
Dinheiro público, caríssimos! Por favor, acordem para o fato: dinheiro público tem dono - ao contrário do que pensam os ladrões que alegam que não é de ninguém!
Dinheiro público é o que está faltando para levantar um hospital de São Francisco de Assis! Dinheiro público é o que está ausente nas escolas em ruínas espalhadas pelo país afora, e nos bolsos dos professores e profissionais da educação secularmente saqueados e aviltados na real importância da sua profissão, ou desperdiçado em elefantes brancos inacabados, ou em obras faraônicas e inúteis às necessidades prioritárias da população sofrida - gasto escandalosamente em cartões de trens da alegria, desviado para fundos internacionais, extorquido, roubado, atingindo a soma astronômica que já alcança a marca incontável de milhões!
E eu passo pelo Hospital de São Francisco e lá estava, há algum tempo, a plaquinha tosca, avisando que faziam gratuitamente testagens anônimas para a detecção de aids...
O óbolo de São Francisco a um dos muitos departamentos de desesperançados e miseráveis que esmolam, no país do futebol e do afrontoso maior espetáculo da Terra, a luz no fim do túnel para o rosário de flagelos que anonimamente enfrentam no cotidiano obscuro dos inúmeros guetos nacionais...
Mais uma CPI se anuncia: a dos cartões. E isto me leva inevitavelmente à reflexão.
Faz uns vinte anos que passo todos os dias pelo mesmo trajeto na Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro acompanhando o que a passagem inexorável do tempo vem produzindo num pobre hospital que mais lembra, hoje, deprimente ruína - tal como a voragem dos séculos traga civilizações, implacável, impiedosa, deixando-nos apenas os restos do que outrora foram as monumentais culturas de todos os tempos com os seus feitos tornados em pó.
Está certo que São Francisco era o Poverello de Assisi - o Pobrezinho de Assis... Todavia, isto soa macabra ironia para o espetáculo de decrepitude exposta a todos que passem pelo Hospital São Francisco de Assis, ali, na altura da Cidade Nova na Avenida Presidente Vargas!
Diariamente, amigos leitores, passo ali; e raros foram os dias em que não me vi tomada de um misto de perplexidade e de revolta diante do que aquela carcaça quase em ponto de desmoronamento representa: a ruína do nosso sistema de saúde; da nossa política pública; das instituições sociais...
Os médicos mal pagos; o povo em filas intermináveis de hospitais precários sem receber atendimento de emergência! - e freqüentemente morrendo em decorrência disso: por falta de vagas, por imperícia médica, por ausência de recursos e de profissionais suficientes para dar conta da demanda gigantesca da população que não possui meios de pagar as exorbitâncias cobradas por planos de saúde particulares que deitam e rolam às custas da derrocada da saúde pública no país!
Seria tudo isso um complô?! Torna-se bem fácil admitir a hipótese... Afinal, com empresas médicas faturando alto e cobrando o que querem para quem pode pagar enquanto que o resto se dane... para que se importar com saúde pública?!
Ora... que o que ainda nos resta de honradez nos leve a pensar e a admitir com lisura, então, portanto imaginem: numa conjuntura diversa, caríssimos, com a saúde pública recuperada, sólida, a pleno vapor... isto significaria a falência clamorosa de um sem número dessas Assims e Goldens da vida!... E a mente empresarial, defensora férrea da prestação de serviços escravocrata, que planta empregos mas suga a medula do povo, em nada auxiliando as camadas mais sofridas com os seus preços acessíveis apenas às classes mais favorecidas lá está interessada nisso?!!
Mas, à parte desta digressão, incômoda para muitos que se beneficiam direta ou indiretamente desta catástrofe social - alguns de maneira inconsciente, diga-se, pois que estão empregados nestas empresas, e a oferta de empregos é que se torna um dos muitos álibis - o que me leva a redigir este artigo, amigos, é a vontade de compartilhar a perplexidade. Talvez por ter nascido justo no dia de São Francisco de Assis, é possível...
Fico pensando no que seria daquele hospital recuperado, e a quantos poderia socorrer dignamente - se não fossem tantas CPIs sucessivas, e de tal forma escandalosas, que não se torna mais coisa viável lembrar-se, a esta altura, qual foi a primeira... Qual foi mesmo o primeiro escândalo de desvios astronômicos de verba do dinheiro público?!!
Dinheiro público, caríssimos! Por favor, acordem para o fato: dinheiro público tem dono - ao contrário do que pensam os ladrões que alegam que não é de ninguém!
Dinheiro público é o que está faltando para levantar um hospital de São Francisco de Assis! Dinheiro público é o que está ausente nas escolas em ruínas espalhadas pelo país afora, e nos bolsos dos professores e profissionais da educação secularmente saqueados e aviltados na real importância da sua profissão, ou desperdiçado em elefantes brancos inacabados, ou em obras faraônicas e inúteis às necessidades prioritárias da população sofrida - gasto escandalosamente em cartões de trens da alegria, desviado para fundos internacionais, extorquido, roubado, atingindo a soma astronômica que já alcança a marca incontável de milhões!
E eu passo pelo Hospital de São Francisco e lá estava, há algum tempo, a plaquinha tosca, avisando que faziam gratuitamente testagens anônimas para a detecção de aids...
O óbolo de São Francisco a um dos muitos departamentos de desesperançados e miseráveis que esmolam, no país do futebol e do afrontoso maior espetáculo da Terra, a luz no fim do túnel para o rosário de flagelos que anonimamente enfrentam no cotidiano obscuro dos inúmeros guetos nacionais...